
- Previ amplia presença: Fundo tenta eleger dois conselheiros na Vibra e aumenta sua participação acionária
- Investigação do TCU: Auditoria apura impacto das decisões da Previ no déficit de R$ 14 bilhões
- Influência governamental: Movimentos da Previ são vistos como tentativa de recuperar controle sobre a ex-BR Distribuidora
A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, continua ampliando sua presença na Vibra Energia (antiga BR Distribuidora). A entidade indicou mais dois nomes para o conselho de administração da companhia, um movimento visto por analistas como uma tentativa do governo de recuperar influência em uma empresa que já foi uma subsidiária da Petrobras.
Essa não é a primeira movimentação da Previ em direção à Vibra. Na assembleia de acionistas de abril de 2024, o fundo já havia indicado Cláudio Gonçalves e João Fukunaga, diretor e presidente da Previ, respectivamente. Apenas Gonçalves obteve votos suficientes para assumir um assento no conselho.
Agora, na próxima assembleia de 2025, a Previ tentará novamente garantir dois assentos entre os sete disponíveis no conselho. Além de Gonçalves, o fundo indicou Marcel Juviniano Barros, presidente da Associação Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão (Anapar), para compor a chapa.
Ampliação da participação acionária
A estratégia de influência da Previ também passa pelo aumento de participação acionária. Em abril de 2024, a entidade anunciou que elevaria sua fatia na Vibra de 3,3% para 5%. Desde então, esse percentual cresceu ainda mais, chegando a 5,24% recentemente. Nos últimos meses, a Previ informou que sua participação na distribuidora de combustíveis subiu para 9%.
Contudo, esse movimento não tem se traduzido em bons resultados financeiros. Desde que a Previ aumentou sua exposição na Vibra, suas ações sofreram uma desvalorização significativa. O prejuízo acumulado da entidade com o investimento é estimado em R$ 518 milhões.
Contexto da privatização e reação do governo
A BR Distribuidora passou por um processo de privatização gradual, iniciado em 2017, no governo Michel Temer. Em 2019, sob a gestão de Jair Bolsonaro, a Petrobras vendeu uma fatia considerável da empresa, tornando-se acionista minoritária. Em 2021, a petroleira concluiu sua saída total da distribuidora.
Desde seu retorno ao Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem criticado a perda de controle da BR Distribuidora pelo Estado. Em discursos recentes, Lula sugeriu que a venda da companhia contribuiu para o aumento dos preços dos combustíveis no Brasil.
Para opositores do governo, os movimentos da Previ representam uma tentativa de recuperar alguma influência na empresa, assim como em outras ex-estatais consideradas estratégicas, como a Vale e a Eletrobras.
Auditoria do TCU e impacto no fundo
Os investimentos da Previ na Vibra estão sob escrutínio do Tribunal de Contas da União (TCU). A entidade enfrenta uma auditoria devido a um déficit de R$ 14 bilhões no Plano 1 do fundo, registrado entre janeiro e novembro de 2023.
A gestão de João Fukunaga apostou na aquisição de ações da Vibra em um momento de alta nos preços dos papéis, contrariando a estratégia tradicional de investimentos. Em abril de 2024, as ações da distribuidora eram cotadas a R$ 23,50. Atualmente, estão na faixa de R$ 17,40, após atingirem R$ 16,22 em fevereiro deste ano.
O TCU avalia se essa decisão contrariou a política do fundo de reduzir sua exposição em renda variável, especialmente em um momento em que o fundo de pensão deveria priorizar investimentos mais conservadores para garantir o pagamento de seus beneficiários.
Justificativas da Previ
A Previ responde às críticas afirmando que baseia suas decisões de investimento em critérios técnicos rigorosos.
A entidade destaca que a Vibra tem um retorno sobre o patrimônio (ROE) de 37%, superior ao de concorrentes como a Ultrapar, que registra 15,76%.
Além disso, a Previ enfatiza que sua participação em conselhos de administração não está diretamente relacionada às decisões de investimento. Como exemplo, o fundo cita sua saída de empresas como Ambev, Rumo e Ultrapar, portanto, mesmo tendo assentos nesses conselhos.
Confira abaixo a nota da decisão de investimento na Vibra, enviada à CNN Brasil:
A decisão de investimento em Vibra, assim como todas da Previ, são baseadas em análises técnicas rigorosas, sempre sob a perspectiva de oportunidades alinhadas ao Plano 1, com ênfase na projeção de crescimento da receita e na distribuição de dividendos.
A estratégia de investir em Vibra foi fundamentada por uma requalificação da exposição no setor de distribuição de combustíveis, desinvestindo a posição em Ultrapar e investindo em Vibra. A decisão se baseou em Vibra mostrar bastante resiliência dentro de seu segmento, com indicadores financeiros superiores e por mostrar maior dedicação em aprimorar a alocação de capital, buscar maior eficiência operacional, fortalecer sua participação de mercado e diversificar. Os indicadores de Vibra são melhores do que os da sua principal concorrente – Ultrapar.
O retorno sobre o patrimônio (ROE) de Vibra é de 37%, enquanto de Ultrapar é de 15,76%. Isso significa que Vibra possui uma maior capacidade de gerar valor ao negócio e aos investidores, com base nos seus próprios recursos. Em outro indicador financeiro importante, o dividend yield, Vibra também se destaca: 9% de rendimento pago pela companhia enquanto Ultrapar foi na ordem de 4%. Ou seja: Vibra vem sendo uma boa pagadora de dividendos.
Em relação ao comportamento de preço das ações, em 2024, ano em que a bolsa de valores foi bastante impactada, as ações de Vibra recuaram em 16%, bem menos que a Ultrapar, que teve uma desvalorização de 39%.
Apesar de desafios conjunturais, a Vibra apresenta fundamentos sólidos, estratégias bem definidas e um valuation atrativo, consolidando-se como uma excelente opção de investimento.
A Vibra é uma empresa líder de mercado, reconhecida e consolidada, que possui a melhor classificação em ESG no ranking da Previ, o qual avalia as principais empresas do mercado, considerando aspectos cruciais como social, governança e responsabilidade socioambiental.
Além da sua atuação na distribuição de combustíveis, a Vibra se destaca como um dos principais players no mercado de geração de energia renovável. A empresa possui um capital amplamente pulverizado, com a maioria dos acionistas sendo de assets brasileiras e estrangeiras, ou seja, investidores privados, alguns deles com larga história de atuação no mercado brasileiro e internacional.
Os recursos para a compra do ativo foram oriundos de desinvestimentos realizados de outras 57 empresas que encerramos participação. A maior parte foi alocada em compras de renda fixa, mais especificamente de títulos NTN-B, que também são aderentes às obrigações do Plano 1.
Vibra atualmente tem consenso para recomendação de compra em 76% da cobertura de analistas de mercado, com potencial de retorno de 50% ao seu preço atual. O preço alvo na época da compra da Previ também indicada potencial de upside em 46%, em linha com mercado. Nosso investimento na empresa é de longo prazo o que nos permite não fazer vendas em preços desfavoráveis.
Ressaltamos ainda que todos os movimentos realizados foram em conformidade com as diretrizes da Política de Investimentos do Plano 1.
Sobre a indicação da Previ ao conselho de Vibra, vale ressaltar que as tomadas de decisões de investimentos não envolvem a participação em conselhos. Uma prova disso é que nos últimos ano a Previ desinvestiu de quase 60 empresas, muito delas tradicionais no portfólio da Previ, com vaga em conselhos – como Ambev, Rumo e Ultrapar.
A partir do momento que a Previ tem participação em empresas, a presença em conselhos faz parte da diligência com os investimentos e é uma parte importante na estratégia de governança da Previ.
Quanto maior a importância de uma companhia para a carteira da Previ, mais importante é a presença de conselheiros qualificados, que acompanhem de perto o investimento. Os conselheiros cuidam dos melhores interesses das empresas e, consequentemente, dos investimentos da Previ.