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Previsão de preços para commodities agrícolas em 2024 e retrospectiva 2023

Foto/Reprodução GDI
Foto/Reprodução GDI

Entrevista com Daniel Mariga, especialista em investimentos sênior na WIT Invest

1. Quais foram as commodities que mais se destacaram em 2023? E as que menos tiveram destaque? 

Como destaque positivo, tivemos Açúcar, Café, Ouro e Minério de Ferro como commodities que tiveram destaque positivo em 2023. Como destaque negativo, apesar dos recentes conflitos no Oriente Médio, o Petróleo teve uma queda relevante no ano de 2023. Além disso, o gado e os grãos também tiveram queda nos preços neste ano, gerando grande impacto na economia brasileira.

2. Como a produção recorde de grãos na safra 2022/23, totalizando 322,8 milhões de toneladas, impactou diretamente a rentabilidade dos produtores rurais brasileiros? 

Com a super safra e os recordes de produção nos grãos, tivemos muitos fundos ligados ao preço destes ativos performando muito abaixo do esperado. Porém, tivemos uma demanda enorme de clientes que são produtores fazendo proteções através de derivativos no mercado financeiro, onde tivemos mais do que o dobro de contratos futuros de Soja abertos, comparando o início de dezembro de 2023, onde tínhamos no dia 11/12 um total de 4.458 contratos abertos, com o início de dezembro de 2022, onde tínhamos 1.618 contratos abertos no dia 12/12.

Fonte B3

3. Como a pecuária foi impactada, especialmente no segmento de produtores de leite e criadores de gado de corte? E o mercado de boi? 

A pecuária teve um impacto negativo em um primeiro momento por conta da queda expressiva no preço da arroba do boi. Porém, devido ao preço dos insumos necessários para o manejo também terem sofrido reduções, a margem de lucro conseguiu ser menos afetada do que o previsto. O mercado reduziu o pessimismo com as recentes altas na arroba, projetando assim um ano de 2024 melhor que o atual.

4. Quais são os principais fatores apontados responsáveis pela queda na margem de lucro dos agricultores e pecuaristas neste ano? 

Um dos principais problemas vistos para os agricultores foi o alto custo dos insumos no começo da época do plantio. Além disso, o excesso de produção fez com que os produtores achassem mais interessante desprezar os grãos do que pagar o custo para mantê-los. Diretamente, isso faz com que a margem de lucro líquida tenha uma redução drástica. Já na parte dos pecuaristas, os produtores não estavam achando interessante a venda do boi pelo preço sugerido da arroba, aumentando o estoque e mantendo o custo do manejo dos bois. Em um certo momento, para que a conta fechasse, foi necessário vender com preços mais baixos do que o planejado. Isso fez com que a margem também caísse mais do que muitos acreditam que seja saudável para a manutenção do negócio.

5. Em relação à soja, considerada o carro-chefe da agricultura nacional, como a redução de 68% na margem bruta na comparação com a safra 2021/22, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), afetou os produtores? 

Esta queda drástica na margem bruta fez com que os produtores buscassem alternativas de plantio para manter seus lucros. Uma das alternativas para a proteção da margem de lucro mais procuradas foi através de derivativos no mercado financeiro, introduzindo diversos agricultores a uma estratégia antes não praticada, mas muito eficaz, principalmente para os exportadores através de travas de dólar.

6. Por que a rentabilidade reduzida é esperada para permanecer em 2024? Quais são os fatores que sustentam essa previsão?

Hoje temos um custo elevado para a produção, devido, principalmente, aos conflitos no Oriente Médio que afetam diretamente o preço do petróleo. Além disso, estamos entrando em 2024 com estoques muito elevados em diversos tipos de grãos, prejudicando ainda mais o preço. Caso não tenhamos uma melhora na demanda efetiva, principalmente vinda da China, ainda deveremos ter uma pressão elevada.

7. A projeção da CNA para o Produto Interno Bruto do Agronegócio em 2023 é de um recuo estimado de 0,94% em comparação com 2022. Qual é a expectativa para 2024? 

De acordo com a projeção da CNA, o PIB do agronegócio pode ter queda de 2% caso não tenhamos uma melhora na demanda e no dólar, por impactarem diretamente o preço de venda das commodities. Além disso, o desempenho dependerá dos efeitos climáticos do El Niño.

8. De que maneira a redução da taxa de juros pode contribuir para a queda no custo de equalização do crédito rural e nas taxas cobradas nas commodities agrícolas?

A Selic é utilizada como principal balizador da taxa de juros interna, ou seja, com a possível queda da taxa básica de juros, devemos ver uma queda de todos os juros na cadeia de produção. Isso fará com que o custo de crédito seja reduzido, fomentando uma melhora na margem financeira do setor.

9. Apesar da queda nos preços dos produtos agrícolas, como as produções dentro da porteira e nas agroindústrias têm contribuído para evitar resultados piores no campo? 

O aumento da especialização dos produtores tem auxiliado em uma melhora da eficiência da cadeia de produção como um todo. Porém, como foi visto em 2023, isso não é suficiente para termos bons resultados de margem.

10. Como será o desempenho das exportações do agronegócio brasileiro no final de 2023, destacando um possível recorde? E quais são as expectativas desse desempenho em 2024? 

Apesar da desvalorização recente das commodities, tivemos um excelente volume nas exportações, compensando a queda dos preços. Acreditamos que para 2024, manteremos um bom volume de exportação, porém caso tenhamos uma melhora no preço das commodities como um todo, teremos um ano ainda melhor que 2023, fazendo com que a balança comercial tenha um saldo positivo acima de US$ 90 bilhões 

11. Existe a previsão de algum IPO no segmento de commodities para o investidor ficar atento? 

Sim. Temos projetos de fundos de private equity que devem se concretizar nos próximos anos. Entre eles, o projeto da Pátria Investimentos, a Lavoro Agro, que deverá ter seu IPO divulgado no próximo ano.

12. Quais são as vantagens de se investir em commodities na bolsa? 

Hoje o segmento de commodities é considerado o carro-chefe do Brasil. A bolsa de valores tangibiliza para todos os investidores a possibilidade de fazer parte desse crescimento. Além de poder ser feita proteção para um cenário de queda, como tivemos no último ano no preço dos ativos.