Outro caminho

Produtor foge dos bancos e aposta nos FIDCs: alternativa ao Plano Safra mais caro da história

Com juros altos no crédito rural, agronegócio migra para fundos privados que oferecem liquidez, flexibilidade e crescimento acelerado.

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  • Com Selic a 15%, produtores rurais recorrem aos FIDCs como alternativa ao crédito do Plano Safra.
  • Patrimônio dos FIDCs cresceu 41,4% em um ano, com mais de R$ 690 bilhões em ativos.
  • Apesar da agilidade e flexibilidade, riscos como inadimplência e iliquidez exigem cautela do investidor.

O anúncio do Plano Safra 2025/26, com volume recorde acima de R$ 500 bilhões, reacendeu o debate sobre financiamento no campo. Apesar do valor inédito, os juros elevados tornaram o acesso ao crédito rural mais caro, levando muitos produtores a buscar alternativas fora dos bancos.

Nesse cenário, os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) ganharam força no agronegócio como ferramenta ágil, customizável e mais previsível para captar recursos.

FIDCs disparam e atraem o agro

Entre 2024 e 2025, o patrimônio líquido dos FIDCs cresceu 41,4%, enquanto o número de fundos ativos subiu 32,1%, alcançando mais de 3.290 veículos. Só nos últimos 12 meses, 800 novos FIDCs foram registrados. O setor passou de R$ 488 bilhões para R$ 690,58 bilhões em patrimônio, segundo dados da B3. O ritmo de crescimento evidencia a preferência crescente das empresas por uma alternativa ao crédito tradicional.

Para Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital, essa transição é estratégica. “O FIDC surge como uma ponte direta com o mercado de capitais. Ele atende desde pequenos produtores até grandes grupos agroindustriais”, afirma. A grande vantagem está na personalização das operações, que oferecem liquidez imediata e estruturas adaptadas ao ciclo de produção rural.

Com a Selic em 15% e a alta dos custos operacionais, o modelo bancário se tornou mais lento e caro. Já os FIDCs viabilizam crédito com agilidade, menor burocracia e possibilidade de tranches — ou seja, divisão em classes de cotas com riscos e retornos distintos, o que amplia o leque de investidores.

Vantagens sim, mas com riscos relevantes

Mesmo com tantos atrativos, os FIDCs exigem atenção. De acordo com a B3, o principal risco está na inadimplência dos créditos adquiridos. Quando os devedores não pagam, o rendimento dos fundos é diretamente impactado. Também há risco de iliquidez, especialmente nos fundos fechados, em que o resgate só ocorre ao fim do prazo.

Outro ponto importante é a concentração. Alguns FIDCs estão expostos a poucos devedores ou setores específicos, o que aumenta a vulnerabilidade diante de crises pontuais. Além disso, esses fundos não contam com a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), o que deixa os investidores mais expostos.

A professora Tcharla Bragantin, especialista em finanças, reforça a importância da análise criteriosa antes de investir. “É fundamental entender os riscos, que envolvem inadimplência, volatilidade dos ativos e ausência de garantia. FIDC não é um produto trivial”, alerta. Por isso, a maioria dos FIDCs é voltada para investidores qualificados, com patrimônio superior a R$ 1 milhão ou certificações específicas.

Como investir e quem pode acessar

O FIDC funciona como um condomínio de investidores. A administradora do fundo capta os recursos e compra recebíveis de empresas, como duplicatas, parcelas de cartão ou boletos. O investidor, então, recebe os rendimentos conforme o pagamento desses créditos. Fundos abertos permitem resgates periódicos; os fechados, apenas no vencimento.

Desde 2023, surgiram os FIDCs padronizados, que permitem a entrada de investidores em geral sob regras mais rígidas. Ainda assim, a maior parte do mercado continua acessível apenas para o público qualificado. As aplicações exigem conhecimento técnico e, muitas vezes, valores mínimos elevados, além de leitura atenta do regulamento e prospecto.

A tendência, segundo analistas, é de expansão contínua. Com digitalização, melhoria na análise de risco e maior diversidade de setores, os FIDCs devem seguir como alternativa real ao financiamento rural bancário, principalmente em anos com juros altos e menor previsibilidade de subsídio público.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.