
Em meio ao escândalo envolvendo a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e a investigação de fraudes milionárias em benefícios do INSS, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender o diálogo com a entidade. No último sábado (24), durante o lançamento do Programa Solo Vivo, em Campo Verde (MT), Lula afirmou que mantém encontros regulares com representantes da Contag e outros movimentos sociais do campo.
“Todo ano eu faço reunião com os sem-terra, todo ano eu faço reunião com a Contag. Todo mundo tem o direito de apresentar as reivindicações. Na hora que a gente puder atender, a gente atende. Na hora que a gente não puder, a gente não atende”, declarou o presidente.
A fala ocorre enquanto a Contag se vê no centro de uma investigação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU), que apuram o desconto indevido de mensalidades em aposentadorias e pensões de cerca de 1,3 milhão de segurados do INSS.
O esquema pode ter movimentado mais de R$ 2 bilhões entre 2019 e 2024
Investigações e suspeitas de organização criminosa
As autoridades suspeitam que os descontos foram realizados sem autorização dos beneficiários.
De acordo com relatório da CGU, a maior parte dos aposentados não sabia que sofria as cobranças mensais.
A quebra de sigilo bancário revelou movimentações financeiras atípicas, compra de imóveis por dirigentes da entidade e transferências consideradas suspeitas pelo Coaf.
O ex-presidente da Contag e atual secretário de finanças, Aristides Veras, é citado como um dos principais responsáveis pelos acordos que viabilizaram os descontos.
Ele é irmão do deputado federal Carlos Veras (PT-PE) e integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República.
A entidade, no entanto, nega qualquer irregularidade. Segundo Vânia Marques, atual presidente da Contag, os valores descontados foram devidamente autorizados pelos associados.
Crise política se aproxima do Palácio do Planalto
A proximidade histórica entre o PT e a Contag, que lidera anualmente o tradicional protesto Grito da Terra, agora alimenta a ofensiva da oposição contra o governo Lula.
Parlamentares contrários ao Planalto articulam a instalação de uma CPMI no Senado e já aprovaram, na Câmara, regime de urgência para um projeto de lei que proíbe esse tipo de desconto em benefícios previdenciários.
Além da Contag, outra entidade envolvida no escândalo é o Sindicato Nacional dos Aposentados (Sindnapi), presidido por José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Lula.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) cobra do Ministério da Previdência um plano emergencial para reprimir as fraudes e reparar os danos causados às vítimas.
Enquanto isso, o governo tenta conter os danos políticos e já trabalha para se blindar do desgaste crescente.
O Grito da Terra 2025, que seria realizado nos próximos dias, foi adiado, em meio ao agravamento da crise e ao avanço das investigações.