- Brasil deve desacelerar em 2025: Alta dos juros e incertezas externas impactam crescimento econômico
- Inflação segue pressionada: Setor de serviços mantém preços elevados, dificultando cortes na Selic
- Desemprego pode aumentar: Economia mais fraca deve elevar taxa de desemprego, mas sem reduzir inflação
O Brasil caminha para uma desaceleração econômica em 2025, impulsionada pelo forte aumento da taxa de juros em um curto período. Apesar de o menor crescimento não configurar, necessariamente, uma recessão técnica, o cenário representa uma mudança brusca no ritmo observado em 2024.
Essa é a avaliação da economista Adrianac Dupita, vice-economista-chefe para mercados emergentes da Bloomberg.
A economista destaca que o Banco Central enfrentará múltiplos desafios para equilibrar o controle da inflação e a desaceleração econômica. Enquanto o setor de serviços mantém os preços pressionados, o aumento do desemprego pode frear o crescimento, sem necessariamente reduzir a inflação a níveis satisfatórios.
Além disso, fatores externos, como as políticas comerciais do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, devem adicionar incertezas ao cenário.
O impacto da alta dos juros
O Brasil enfrenta uma política monetária mais restritiva, com a taxa Selic subindo mais de quatro pontos percentuais em um intervalo curto de tempo.
Esse choque pode dificultar um “pouso suave” da economia, ou seja, uma desaceleração controlada.
- A taxa de juros já estava em um patamar elevado, de 10,5% ao ano, antes do novo ciclo de alta.
- O crescimento do PIB deve cair de 1,4% no primeiro trimestre de 2024 para apenas 0,2% no terceiro trimestre de 2025.
- O consenso do mercado projeta um crescimento de apenas 1,7% do PIB em 2025, abaixo das expectativas do governo.
Embora uma recessão técnica não esteja no cenário base da Bloomberg, a desaceleração pode ser mais forte do que o esperado.
Mesmo sem quedas sucessivas no PIB, a economia pode atingir uma “sensação térmica de zero”, afetando a confiança do mercado.
Inflação e a desaceleração
O cenário econômico de 2025 não indica uma queda automática da inflação. Segundo Adriana Dupita, a principal incerteza para a inflação é a taxa de câmbio, que pode ser afetada por fatores externos, como a política econômica dos EUA e o comportamento das commodities.
- A inflação de serviços deve continuar pressionada devido ao baixo desemprego.
- O Banco Central pode ser forçado a manter os juros elevados, retardando cortes na Selic.
- A política fiscal do governo será um fator determinante para o comportamento da taxa de câmbio.
A expectativa é que a inflação termine o ano abaixo do teto da meta, mas o Banco Central pode continuar sob pressão ao longo de 2025, o que dificultaria um início antecipado de cortes na taxa de juros.
Mercado de trabalho e a Selic
A desaceleração econômica deve impactar o mercado de trabalho, com um aumento no desemprego, embora ainda abaixo dos níveis considerados não inflacionários. No entanto, essa alta pode não ser suficiente para reduzir a inflação de serviços.
- O desemprego deve subir, mas sem atingir níveis que impactem a inflação significativamente.
- O Banco Central pode interromper a alta dos juros, mas cortes na Selic dependerão de sinais claros de queda na inflação.
- O câmbio será um fator-chave para definir o espaço para alívio monetário.
O Banco Central enfrentará um dilema em 2025: se a atividade desacelerar mais rápido que o esperado, pode interromper o aumento da Selic.
No entanto, para iniciar cortes, precisará ver projeções mais próximas do centro da meta de inflação, o que exigiria uma valorização expressiva do real ou uma política monetária ainda mais apertada.