Fusão bilionária

Rede D'Or pode comprar a Fleury: entenda oferta bilionária

Aquisição reforça estratégia de verticalização da Rede D’Or e pode transformar o mercado de saúde suplementar no Brasil.

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  • Rede D’Or negocia aquisição do Grupo Fleury com apoio do Bradesco
  • Oferta deve combinar pagamento em dinheiro e ações
  • Transação reforça consolidação do setor de saúde privada no Brasil

A Rede D’Or está estruturando uma oferta para incorporar o Grupo Fleury, em uma nova ofensiva no processo de verticalização da saúde privada no Brasil. A operação, que vem sendo costurada há três meses, conta com o apoio estratégico do Bradesco, maior acionista individual do Fleury.

A proposta deve unir pagamento em dinheiro com entrega de ações, permitindo que investidores permaneçam no capital. A movimentação pode remodelar o setor de saúde suplementar, ao integrar exames, diagnósticos e hospitais sob uma mesma gestão.

Negociação ganha corpo com aval do Bradesco

Fontes próximas à operação revelaram que o JP Morgan assessora a Rede D’Or, enquanto o Morgan Stanley representa o Fleury. Apesar da negociação ainda não estar madura o suficiente para um anúncio, o trabalho de estruturação avançou bastante nas últimas semanas.

O Bradesco, dono de 24,9% do Fleury, sinalizou positivamente ao negócio desde o início das conversas. Jorge Moll, fundador da Rede D’Or, procurou o banco há pouco mais de três meses. Desde então, o diálogo evoluiu com a participação ativa dos bancos envolvidos.

Além do formato híbrido da proposta, com dinheiro e ações, a estratégia busca atrair acionistas que desejem continuar participando da empresa. Isso inclui investidores estratégicos e médicos ligados ao corpo clínico da rede de diagnósticos.

Médicos e família Pardini são peças-chave no conselho

Para que a fusão avance, a Rede D’Or precisa convencer dois grupos de grande influência dentro do Fleury: os médicos acionistas e a família Pardini. Os primeiros detêm 11% da companhia e ocupam três cadeiras no conselho. Já os Pardini, cuja rede foi incorporada pelo Fleury, também têm três assentos.

Historicamente, ambos participam de decisões estratégicas e exercem forte influência na governança da empresa. A aceitação da proposta depende, portanto, da construção de um acordo político que preserve a autonomia e os interesses desses grupos.

Apesar de a ação do Fleury ter caído cerca de 20% neste ano, levando seu valor de mercado para R$ 6,9 bilhões, os acionistas resistem a vender barato. O mercado acredita que o modelo misto de oferta poderá facilitar esse convencimento, especialmente em um cenário de margens pressionadas e alta da inflação médica.

Histórico entre os grupos favorece nova combinação

A Rede D’Or conhece bem o Fleury. Em 2009, os Moll venderam sua rede de laboratórios Labs D’Or para o grupo paulista por R$ 1 bilhão. Pouco tempo depois, a família se desfez das ações que ainda mantinha na empresa. Agora, pode voltar ao controle, mas em outro patamar de poder e escala.

Desde então, a Rede D’Or cresceu exponencialmente, com abertura de capital, aquisições de hospitais e parcerias estratégicas. Uma dessas alianças foi firmada justamente com o Bradesco, em 2023: a joint venture Atlântica D’Or, que reúne os dois grupos na gestão de hospitais.

Essa aproximação prévia criou um ambiente favorável para o novo movimento. O Bradesco, tradicionalmente cauteloso, agora parece disposto a acelerar sua presença na saúde suplementar por meio de parcerias sólidas.

Consolidação e verticalização como resposta à crise

O setor de saúde enfrenta desafios crescentes. Planos de saúde operam no vermelho, pressionados por uma inflação médica persistente e por mudanças regulatórias constantes. Em meio a esse cenário, a verticalização, ou seja, a integração de todas as etapas do atendimento, surge como solução estratégica.

Para a Rede D’Or, incorporar o Fleury significa ganhar mais controle sobre a cadeia de valor, reduzindo custos e otimizando negociações com operadoras. Já para o Bradesco, a operação amplia o acesso a exames e internações com maior previsibilidade financeira.

Ainda que a proposta não tenha data para ser oficializada, o mercado já observa com atenção. A fusão, caso avance, pode desencadear uma nova onda de consolidação no setor, com impactos diretos na concorrência e na dinâmica dos serviços médicos privados no país.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.