A ver navios

Reino Unido volta atrás e deixa Brasil sozinho em fundo bilionário antes da COP30

Decisão britânica esvazia planos de Lula e Haddad de lançar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre com apoio global e meta de US$ 125 bilhões.

TOLGA AKMEN/POOL
TOLGA AKMEN/POOL
  • Brasil e Indonésia mantêm aportes de US$ 1 bilhão cada, mas faltam grandes doadores para dar escala ao mecanismo.
  • Reino Unido recua e não aportará recursos no TFFF, fragilizando o lançamento do fundo na COP30.
  • Meta de US$ 25 bilhões fica comprometida; Haddad reduziu a expectativa de curto prazo para US$ 10 bilhões.

O Reino Unido desistiu de aportar recursos no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), iniciativa central do Brasil para a COP30 em Belém. A decisão foi comunicada a interlocutores e relatada pela imprensa, e representa um revés imediato à articulação brasileira.

Sem o aporte britânico, a intenção de reunir US$ 25 bilhões de governos para alavancar um mecanismo de US$ 125 bilhões fica seriamente comprometida; o ministro Fernando Haddad já sinalizou redução da meta de curto prazo para US$ 10 bilhões. O recuo altera o cenário político e financeiro que cercava o lançamento do fundo.

Recuo britânico

O Tesouro britânico avaliou que o momento fiscal do país não permite novos aportes bilionários e bloqueou o compromisso. Keir Starmer e sua equipe chegaram a considerar um aporte de US$ 1 bilhão, mas o governo optou pelo ajuste fiscal.

Sendo assim, a ministra das Finanças, Rachel Reeves, prepara um orçamento com foco em reduzir déficits, segundo fontes próximas ao processo de decisão. Antes do recuo, o Reino Unido havia contribuído com recursos técnicos para estruturar o fundo.

Até aqui, a embaixada britânica em Brasília não comentou oficialmente a decisão; diplomatas dizem que o país prioriza ações domésticas diante do aumento da dívida pública. Desse modo, o recuo britânico tem efeito simbólico e prático sobre a capacidade de atração de outros doadores.

Dificuldade de financiamento

O Brasil mantém o compromisso de investir US$ 1 bilhão no TFFF, e a Indonésia sinalizou a intenção de igualar esse aporte, mas juntos os dois países ainda ficam longe da meta original. O espaço fiscal de nações desenvolvidas seria crucial para dar escala ao mecanismo.

O plano inicial previa que governos comprometessem US$ 25 bilhões, alavancados para criar um mecanismo global de US$ 125 bilhões focado em proteção florestal. Além disso, sem grandes contributors públicos, o fundo precisará buscar parcerias privadas e acordos bilaterais.

Analistas alertam que a falta de compromissos de países desenvolvidos reduz a atratividade para investidores privados e pode atrasar a operacionalização do TFFF. Portanto, a percepção de fragilidade pode enfraquecer negociações para instrumentos complementares, como créditos e garantias.

COP30 e o jogo político

A COP30, em Belém, começou cercada por expectativa do governo Lula de transformar o TFFF em seu principal legado ambiental. Líderes mundiais deveriam oficializar aportes durante a cúpula.

Com o recuo do Reino Unido, a estratégia do Palácio do Planalto muda para buscar compromissos de última hora e reforçar a agenda bilateral com países emergentes. Ademais, a manutenção do aporte brasileiro e sinalização da Indonésia são passos, porém insuficientes para dar escala imediata ao fundo.

Se o TFFF não alcançar pelo menos a nova meta de US$ 10 bilhões, o risco é que a iniciativa perca força política e financeira, tornando mais difícil cumprir a ambição de criar um mecanismo global robusto. Por fim, o resultado da COP30 será decisivo para o futuro do projeto.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.