
- Natura apresenta Ebitda ajustado 35% abaixo das previsões e queda de 19,10% nas ações
- Aumento nas despesas e desafios de integração da Avon impactam resultados do quarto trimestre
- Dívida líquida de R$ 3 bilhões e consumo de caixa geram incertezas sobre fluxo de caixa da empresa
A Natura (NTCO3) divulgou seus resultados financeiros para o quarto trimestre de 2024 na noite de quinta-feira (13), e o desempenho da empresa ficou significativamente abaixo das expectativas do mercado, especialmente no que diz respeito ao desempenho operacional.
O Ebitda ajustado, que é uma das principais métricas de lucro da companhia, apresentou um recuo de até 35% em relação às previsões de analistas. Às 10h20 desta sexta-feira (hora de Brasília), a ação da empresa registrava uma queda de 19,10%, cotada a R$ 10,97.
Apesar de a empresa ter confirmado boas expectativas de receita líquida, os gastos crescentes foram o principal fator que impactou negativamente os resultados, levando a uma performance abaixo do que se esperava no mercado. Embora a Natura tenha mostrado avanços em algumas áreas, os ajustes em seus resultados financeiros ainda geram incertezas sobre o fluxo de caixa futuro da companhia.
Resultados do quarto trimestre
A Natura não conseguiu atender às previsões do mercado em relação ao seu desempenho operacional. O Ebitda ajustado apresentou uma queda de até 35% em relação às estimativas, o que pesou negativamente sobre os resultados.
Além disso, apesar de um lucro por ação ajustado de R$ 0,17 — superando as perdas do ano anterior — a expectativa do mercado era de R$ 0,24. Esse resultado decepcionou materialmente os analistas, como o JPMorgan, que destacaram o impacto de maiores encargos cambiais nas despesas financeiras da empresa.
Do lado positivo, a companhia contou com ganhos fiscais e com os efeitos positivos das operações de hedge nas despesas financeiras. Porém, o aumento das despesas, especialmente relacionadas a contratos de investimentos em TI, afetaram o desempenho da Natura no quarto trimestre.
Além disso, a reincorporação da Avon International e os esforços de integração das operações na América Latina também resultaram em ajustes contínuos nos resultados, dificultando a avaliação precisa do fluxo de caixa da empresa.
Dívida e consumo de caixa
A Natura registrou um consumo de caixa de R$ 41 milhões no quarto trimestre, o que levanta preocupações sobre a capacidade da empresa de gerar caixa no curto prazo. Além disso, a dívida líquida da empresa foi de cerca de R$ 3 bilhões, o que representa uma relação dívida líquida/Ebitda de aproximadamente 2 vezes, considerando o financiamento de fornecedores.
Para o JPMorgan, essa estrutura de dívida oferece pouco espaço para pagamentos adicionais de dividendos, uma vez que o alvo da empresa é manter uma relação de 1,5x.
Esse cenário gerou um impacto negativo nas expectativas dos analistas, como o JPMorgan, que apontaram que o desempenho operacional abaixo do esperado poderá afetar o preço das ações da Natura no curto prazo.
A recomendação do banco é de compra, com um preço-alvo de R$ 21 para as ações, considerando o múltiplo Preço/Lucro ajustado para 2025 e 2026.
Desafios operacionais
O Bradesco BBI, por sua vez, já esperava uma reação negativa para a ação da Natura, devido à decepção nos indicadores-chave de desempenho (KPIs) operacionais da Natura&Co na América Latina. A margem bruta apresentou uma desaceleração inesperada de 300 pontos-base abaixo das projeções, caindo para 63,2%. Esse impacto foi causado por um mix de categorias menos rentáveis, como presentes, e por alguns esforços promocionais.
Além disso, o aumento nas despesas com TI, que resultaram em um impacto de 160 bps, e os royalties mais altos, que impactaram 50 bps, pesaram sobre os resultados.
Em relação à dívida líquida, o Bradesco BBI observou que o valor ficou em linha com as expectativas, com R$ 2,4 bilhões, uma melhoria em relação aos R$ 3,7 bilhões do terceiro trimestre. No entanto, o impacto de um Ebitda mais baixo no quarto trimestre gerou uma relação dívida líquida/Ebitda pior do que o esperado.
A empresa também enfrentou desafios com a Avon América Latina, que ainda sofre dificuldades para recuperar suas vendas.