Expectativa do mercado

Saída da JBS da Bolsa pode custar caro e derruba ações em mais de 4%

Ações da gigante de proteína caem mais de 4% com projeção de saída de fundos e impacto limitado nos EUA.

Crédito: Depositphotos
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  • Deslistagem da JBS pode provocar saída de até R$ 550 milhões de fundos passivos ligados ao Ibovespa e IBRX 100.
  • Analistas não esperam entrada imediata da empresa em índices globais, o que limita aportes no curto prazo.
  • Santander mantém recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 58 e perspectiva positiva para médio prazo.

A possível saída da JBS (JBSS3) da Bolsa brasileira acendeu o alerta em investidores. Segundo o Santander, o movimento pode provocar um fluxo de retirada de até R$ 550 milhões de fundos passivos, afetando índices como o Ibovespa e o IBRX 100.

Efeito imediato: ações recuam forte

Nesta segunda-feira (26), o mercado reagiu de forma negativa à estimativa divulgada pelo Santander. As ações da JBS recuaram mais de 4% no pregão, figurando entre as maiores quedas do Ibovespa. Embora o índice tenha fechado em alta de 0,20%, a JBSS3 contrariou a tendência e viu seu valor encolher.

Apesar da queda de 11,3% acumulada em maio, a ação ainda sustenta uma valorização de 12,62% no acumulado de 2025. No entanto, a preocupação agora gira em torno do impacto da deslistagem na liquidez e na posição da empresa em grandes carteiras.

O banco calcula que a saída da JBS do Ibovespa e do IBRX 100 geraria uma movimentação negativa de aproximadamente R$ 550 milhões. Isso porque esses índices são base de investimentos de fundos passivos, que replicam sua composição. O volume previsto representa cerca de 1,1 vez a média diária de negociações do papel.

Entraves à entrada em índices globais

Mesmo com a migração das ações para o mercado americano, os analistas do Santander não veem espaço para inclusão imediata da JBS em grandes índices dos Estados Unidos ou globais. Segundo Guilherme Palhares e Laura Hirata, o momento atual limita o potencial de entrada de capital estrangeiro no curto prazo.

Com isso, a transição para uma listagem apenas internacional pode causar um descompasso entre a saída de investidores locais e a entrada de novos aportes. Além disso, fatores macroeconômicos contribuem para incertezas. Entre eles, está o aumento de tributos para investimentos no exterior anunciado recentemente pelo governo brasileiro.

O IOF mais elevado pode restringir a conversão de Brazilian Depositary Receipts (BDRs) em ações Classe A, o que pode reduzir ainda mais a liquidez das ações da companhia. Embora a taxa já esteja em vigor, ainda não há clareza sobre eventuais novas medidas que venham a impactar a atratividade dos papéis no exterior.

Avaliação segue positiva, apesar do cenário

Mesmo diante do cenário adverso, o Santander manteve sua recomendação de compra para as ações da JBS. O banco reiterou a classificação “outperform” para o papel, com preço-alvo de R$ 58 — o que representa um potencial de valorização de quase 39% em relação ao fechamento mais recente.

Segundo os analistas, o múltiplo atual da empresa, de 5,3 vezes o valor da companhia sobre o Ebitda, ainda é competitivo frente à média histórica de 4,9 vezes. Na avaliação do Santander, isso pode indicar uma reclassificação em curso, refletindo expectativa de crescimento e resiliência operacional.

Além disso, o desempenho global da JBS e sua estratégia de diversificação geográfica continuam sendo pontos de destaque. Mesmo com a possível perda de liquidez local, a empresa segue com fundamentos sólidos e visão de longo prazo no mercado internacional.

O que esperar daqui para frente

Nos próximos meses, o mercado acompanhará de perto os desdobramentos do processo de deslistagem. A empresa ainda não formalizou o pedido, mas os rumores e projeções já influenciam os movimentos de investidores e analistas.

Caso a JBS confirme sua saída da B3, o impacto será sentido especialmente por fundos passivos e investidores domésticos. No entanto, a depender da resposta do mercado internacional, a medida pode ser compensada ao longo do tempo com nova base de acionistas.

Enquanto isso, o papel da regulação brasileira e os custos tributários para conversões continuarão sendo fatores determinantes para a atratividade da ação no novo formato. A comunicação da empresa nos próximos balanços será crucial para manter a confiança de investidores.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.