
- Estimativa aponta saída de até 1 milhão de beneficiários do Bolsa Família até o fim de 2025
- Governo adota medidas de transição para manter apoio parcial por até 24 meses após ingresso no emprego
- Especialistas dividem opiniões entre sucesso da política e risco de nova vulnerabilidade
O número de beneficiários do Bolsa Família vem caindo de forma expressiva nos últimos meses. O governo federal projeta que cerca de 1 milhão de pessoas devem deixar o programa até o fim de 2025, o que sinaliza uma possível transformação na principal política de assistência social do país.
Enquanto parte do mercado vê esse movimento como um avanço rumo à autonomia financeira, outros alertam que a redução pode esconder riscos sociais se não for acompanhada por medidas estruturais de inclusão produtiva.
Emprego real ou corte técnico?
Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, a queda no número de famílias atendidas pode refletir um dado positivo. Ele afirma que muitas pessoas estão conseguindo emprego, tanto no mercado formal quanto no informal, o que indicaria o papel de transição do programa sendo cumprido.
Cruz reforça, no entanto, que a qualidade dessas novas ocupações precisa entrar no debate. Empregos instáveis, sem carteira assinada ou com baixa renda, ainda expõem as famílias à vulnerabilidade. Por isso, é fundamental garantir que o desligamento do programa ocorra junto com a consolidação da estabilidade financeira.
Além do debate técnico, a redução no número de beneficiários também traz impactos fiscais. O governo reduz os gastos sociais, mas o resultado prático para a população dependerá da sustentabilidade da saída. O risco de retorno ao programa existe, especialmente se faltarem oportunidades reais de inserção no mercado.
Medida de transição busca evitar rupturas
Para lidar com esse desafio, o governo implementou uma estratégia de transição que permite o pagamento parcial do Bolsa Família por até 24 meses após o ingresso no emprego. A medida oferece uma rede de proteção durante o processo de autonomia financeira.
Segundo Cruz, esse tipo de política contribui para que as famílias se organizem financeiramente antes de perderem o auxílio por completo. Ele destaca que a previsibilidade na renda é essencial para garantir a permanência fora da pobreza. A medida também pode estimular a formalização do trabalho, já que muitos temem declarar renda por medo de perder o benefício.
O governo também reforçou o uso da tecnologia no combate a fraudes. Técnicos passaram a utilizar biometria e cruzamento de dados para revisar o cadastro único. Esse controle aprimorado tem o objetivo de priorizar quem realmente precisa do programa, ao mesmo tempo em que afasta beneficiários irregulares.
Cortes são sustentáveis ou geram novo risco?
Mesmo com a nova abordagem de transição, especialistas chamam atenção para um ponto sensível: sem qualificação profissional e acesso ao mercado formal, o desligamento pode se tornar apenas temporário. Muitas famílias podem retornar ao programa, agravando ainda mais o ciclo de dependência.
Cruz defende que o sucesso do Bolsa Família, neste momento, depende de políticas públicas complementares. Segundo ele, o corte no benefício precisa vir acompanhado de ações de geração de emprego, educação e assistência. Sem isso, a queda no número de beneficiários não passa de uma manobra fiscal.
A trajetória das famílias que deixam o programa deve ser acompanhada de perto. O risco de recaída existe, principalmente em regiões onde o mercado de trabalho ainda apresenta fragilidades. O governo terá que provar, na prática, que a saída representa uma verdadeira emancipação social.