
- Os consumidores compraram mais de 8,6 milhões de salsichas em 2024 — superando o número de carros vendidos pela VW no mesmo período.
- Lucro da montadora caiu 30% e até 35 mil demissões estão previstas até 2030.
- Produto interno virou best-seller na Alemanha e chegou aos EUA, com direito a ketchup próprio.
Em meio a uma fase difícil para o setor automotivo europeu, a Volkswagen encontra sucesso em um setor nada convencional: o de alimentos. Enquanto a gigante alemã amargou queda nas vendas de veículos e lucros em 2024, sua tradicional salsicha ao curry — a famosa currywurst — alcançou um recorde histórico de vendas, superando inclusive a quantidade de carros da marca vendidos na Europa no mesmo período.
Sendo assim, com 8,6 milhões de unidades comercializadas, a iguaria vendida sob o selo “Volkswagen Genuine Curry” ultrapassou os 5,2 milhões de veículos VW vendidos no ano passado e se aproxima do total de vendas de todo o grupo, que somou 9 milhões de automóveis.
Tradição na fábrica e nos estádios
Produzida desde 1973, a currywurst da Volkswagen virou um símbolo interno da cultura da empresa. A montadora produz a receita original em uma de suas fábricas em Wolfsburg, onde também fica sua sede global. Ela distribui o produto nos refeitórios das fábricas, o vende em supermercados e o oferece no estádio do time local, o VfL Wolfsburg.

Em 2024, foram 6,3 milhões de salsichas no formato tradicional, das quais cerca de 10% foram consumidas pelos próprios funcionários da empresa. Outros 2,2 milhões foram vendidos em versões de cachorro-quente, enquanto 42 mil unidades da versão vegana também encontraram espaço no mercado — uma aposta que sinaliza a adaptação da Volks às novas tendências de consumo alimentar.
A montadora também comercializou ketchup com sua marca: 629 mil garrafas e mais 25 mil baldes de 10 litros, ampliando a linha de produtos alimentícios que leva o selo da empresa. Em 2024, o famoso ketchup Gewürz da VW chegou inclusive aos Estados Unidos, onde teve distribuição gratuita e rápida saída das prateleiras.
Crise automotiva e cortes no horizonte
O crescimento das salsichas contrasta com o momento turbulento vivido pelo setor automotivo da Volkswagen. Nesse sentido, em 2024, a montadora viu seu lucro líquido cair 30% e suas vendas globais de veículos encolherem 3%. Logo, como resposta à crise, a empresa anunciou um plano de reestruturação que prevê o corte de até 35 mil postos de trabalho até 2030, além do fechamento de fábricas na Alemanha.
Ademais, segundo a própria companhia, a estratégia visa conter custos e preparar a empresa para a transição acelerada rumo à eletrificação da frota. No entanto, o impacto sobre trabalhadores e a redução de capacidade industrial têm gerado críticas de sindicatos e analistas do setor.
Nesse contexto, o sucesso inesperado do setor alimentício virou motivo de celebração — e alívio. O diretor de RH da Volkswagen, Gunnar Kilian, comentou com bom humor o feito inusitado: “Volkswagen é sinônimo de inovação — em duas, quatro e muitas outras rodas e, sim, também no prato!”. Ele ainda anunciou que uma nova versão do currywurst está a caminho.
De produto interno a fenômeno de mercado
A história da currywurst começou como uma solução prática para alimentar os funcionários da empresa. Com o tempo, virou um produto de linha com código próprio no catálogo de peças da montadora. O “número da peça” da salsicha é 199 398 500 A, e ela é tratada com o mesmo rigor técnico dos automóveis da marca.
Além disso, a popularidade transformou o produto em uma espécie de símbolo cultural dentro e fora da Volkswagen. Com presença constante em supermercados e no marketing da marca, a currywurst se tornou também uma referência de afeto e identidade para muitos alemães.
Portanto, a aposta da empresa no setor alimentício pode parecer um desvio de rota, mas se revelou uma estratégia inteligente de diversificação, especialmente em tempos em que a indústria automotiva sofre com inflação, transição energética e concorrência asiática.