Cenário Estagnado

Seca de IPOs na bolsa brasileira deve se manter em 2025

Expectativa de retorno está longe com juros altos e falta de perspectivas para 2025

Arte: GDI
Arte: GDI | Arte: GDI

O mercado de ações brasileiro inicia mais um ano sem expectativa de ampliação do número de ofertas públicas iniciais (IPOs). Apesar da expansão do PIB, não há planos concretos para novos IPOs em 2025. Completando três anos consecutivos sem grandes aberturas de capital, o Brasil segue sem novidades desde a última oferta de 2021, realizada pela operadora de logística Wilson Sons.

O cenário econômico brasileiro segue desfavorável para novos IPOs devido aos juros altos e à instabilidade nos investimentos financeiros. Desde fevereiro de 2022, a taxa Selic permanece acima de 10%, e não há expectativa de queda antes de 2026. Segundo Kieran MacManus, sócio da PwC Brasil, a combinação de juros elevados e um cenário internacional mais complexo tem desestimulado a realização de novas ofertas.

“Uma oferta de ações teria que ser extremamente atraente para contrapor o nível de juros elevados atuais”.

afirmou em entrevista ao portal Poder360.

Queda de 54,6% nos IPOs recentes

O desempenho dos IPOs mais recentes também não tem sido favorável. Dados de levantamento de Einar Rivero, CEO da consultoria Elos Ayta, indicam que os papéis lançados entre 2020 e 2021 apresentaram uma queda de 54,6% na mediana até o final de 2024. Apenas 14 das empresas que realizaram IPOs superaram o desempenho do Ibovespa, índice de referência da B3. “Menos de 21% das ofertas públicas iniciais em negociação tiveram desempenho melhor que o índice”, completou Rivero.

Expectativas para 2026: juros menores podem trazer novos IPOs

O especialista Kieran MacManus acredita que a retomada das ofertas públicas poderá acontecer caso haja uma redução nas taxas de juros. Ele prevê que, em 2026, a taxa Selic começará a cair, o que pode criar uma nova perspectiva para os IPOs.

“Se o cenário de juros elevados se mantiver em 2025, a visão para IPOs será negativa. No entanto, com a queda esperada para 2026, o mercado pode mudar rapidamente”.

afirmou.

Apesar das incertezas fiscais e políticas, como a recente reação negativa ao pacote fiscal de Fernando Haddad, a expectativa é de que a economia brasileira mostre sinais de recuperação nos próximos anos, possibilitando a volta dos IPOs. A nota de crédito do Brasil também melhorou, com a Moody’s elevando a classificação de Ba2 para Ba1, sinalizando uma possível recuperação do grau de investimento.

“Sem IPOs por três anos: o reflexo de um problema estrutural”, aponta Tiago Guitián Reis

A ausência de IPOs no Brasil nos últimos três anos é um sintoma de um problema muito maior, segundo Tiago Guitián Reis, fundador do Suno Research. Em sua publicação no X (ex-Twitter), ele destaca que a entrada de novas empresas na Bolsa é mais do que uma simples movimentação financeira. É, de fato, um reflexo de confiança no futuro econômico do país.

Reis aponta que empresas que abrem o capital geram emprego, promovem inovação e democratizam o acesso ao crescimento, fortalecendo o ecossistema econômico. Contudo, o cenário brasileiro enfrenta desafios significativos que afastam esse tipo de investimento. Entre os principais fatores estão a complexa carga tributária e a insegurança jurídica, que fazem com que as empresas hesitem em buscar o mercado de capitais como uma via de crescimento.

“A volatilidade econômica e política reduz a confiança dos investidores, criando um círculo vicioso que afasta tanto empresas quanto investidores”.

afirmou Reis, sugerindo que esse ciclo de incertezas contribui diretamente para a escassez de IPOs no Brasil.

Ele também mencionou a questão cultural, destacando a falta de prioridade para o desenvolvimento do mercado de capitais. Enquanto outros países emergentes vêm construindo mercados financeiros vibrantes, o Brasil parece paralisado, sem políticas claras para incentivar a abertura de capital.

Reis conclui que, se o Brasil deseja retomar o caminho do crescimento sustentável, deve urgentemente repensar seu ambiente de negócios, simplificando as regulamentações e criando um ecossistema que promova a confiança de empreendedores e investidores. Para ele, os três anos sem IPOs não são apenas um dado estatístico, mas um reflexo de uma inércia diante de um problema estrutural que precisa ser resolvido.