
- Alta dos alimentos pressiona orçamentos familiares
- Governo tenta conter impacto com isenção de impostos
- Salário mínimo não acompanha custo de vida
A inflação mudou a forma como os brasileiros fazem compras. Em bairros de São Paulo, famílias relatam a dificuldade de manter a mesa abastecida e as estratégias adotadas para driblar os aumentos. O impacto no orçamento também refletiu na popularidade do presidente Lula, levando o governo a adotar medidas para conter os danos.
Alimentos pesam no bolso
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que a inflação dos alimentos alcançou 7,69% em 2023, muito acima do índice geral de 1,11%. Em 2024, os aumentos continuaram, impactando itens essenciais como ovos, que subiram 15% em apenas um mês.
Para consumidores como Ionara de Jesus, moradora do Parque Santo Antônio, cada ida ao supermercado exige criatividade para manter a família alimentada.
“Antes, eu comprava feijão tradicional, agora levo feijão fradinho, que custa menos. Também diluo os alimentos para que rendam mais”, conta Ionara.
Ela também substituiu o café por chá e adota rodízio entre os familiares para consumir a bebida.
“Cada dia um toma café, assim o pacote dura mais.”
Governo age para conter crise
O impacto da alta dos alimentos na popularidade do governo fez o Planalto retirar impostos de importação sobre produtos como café, açúcar, azeite de oliva e sardinha. No entanto, economistas apontam que a inflação é impulsionada por fatores externos, como mudanças climáticas e resquícios da pandemia.
“O governo tem pouca responsabilidade sobre esses aumentos, mas a incerteza fiscal elevou o dólar, o que afeta os preços”, explica André Braz, do FGV-Ibre.
Orçamento familiar no limite
A alta dos preços compromete a qualidade alimentar de muitas famílias. Com um salário mínimo de R$ 1.500, Ionara depende de doações para complementar a despensa. A cesta básica em São Paulo custava R$ 851 em janeiro de 2024, representando 56% do salário. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o mínimo necessário para sustentar uma família deveria ser de R$ 7.156,15.
Enquanto os preços não recuam, as famílias continuam improvisando. Ionara encontrou alternativas na carcaça de frango e na espinha de porco, itens mais baratos que rendem por semanas.
“Faço sopa, refogo, preparo canja. Vai durando”, diz ela, que segue em busca de novas formas de driblar a inflação e manter a mesa cheia.