- Lula reconheceu falhas na comunicação do governo e indicou mudanças, incluindo possível troca no Ministério da Comunicação
- A solução proposta por Lula foca em melhorar a percepção pública, mas o problema pode estar nas próprias políticas do governo
- O ministro Paulo Pimenta pode ser substituído, com Sidônio Palmeira, marqueteiro de 2022, como possível sucessor
- Lula foca na comunicação, mas ainda não abordou questões de coordenação política e execução das políticas
Durante o encerramento de um seminário do Partido dos Trabalhadores (PT), dedicado a discutir os rumos da sigla e estratégias para o futuro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma crítica contundente à comunicação do seu governo.
Em um momento em que o PT busca se reposicionar para o segundo mandato, Lula afirmou que o governo cometeu erros de comunicação e que tomaria as providências necessárias para corrigir a situação.
“Há um erro do governo na questão da comunicação e sou obrigado a fazer as correções necessárias”, declarou o presidente, um pronunciamento que foi prontamente interpretado como um sinal de que ele promoverá mudanças, possivelmente trocando o ministro Paulo Pimenta, atual responsável pela Secretaria de Comunicação Social (Secom).
Lula enfatizou que faria as mudanças logo no início do ano, sugerindo que reestruturaria a comunicação do governo para melhorar a percepção da população sobre o governo.
O presidente expressou insatisfação com o que considera uma grande discrepância entre as realizações de seu governo e o nível de aprovação popular, uma frustração que tem se repetido sempre que Lula percebe que suas ações não estão sendo compreendidas ou valorizadas de forma adequada.
Terceirizando a responsabilidade
Embora tenha se mostrado crítico à comunicação de seu governo, o presidente Lula continua a adotar um comportamento recorrente: a ideia de que o problema está fora de seu gabinete.
Em suas palavras, ele reconheceu que há falhas na comunicação, mas, na prática, se concentrou em culpar o próprio ministro de Comunicação e em sugerir que a solução está na mudança de estratégia.
Para Lula, a questão não é apenas uma falha nos mecanismos de marketing, mas sim no próprio “produto” – ou seja, nas políticas do governo e na forma como apresenta-las ao público.
No entanto, a mudança que Lula propõe não ataca as causas profundas dos problemas, como a falta de coordenação política ou a dificuldade em alinhar as ações do governo com as expectativas populares.
O fato é que não importa quão boa seja a comunicação ou o marketing político se o conteúdo das mensagens não corresponde à capacidade real de implementação das políticas prometidas. A comunicação de um governo precisa ser consistente com suas ações, e essa coerência é o maior desafio.
Troca no Ministério da Comunicação?
Enquanto Lula promete resolver os problemas de comunicação, o futuro de Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação Social, está cada vez mais incerto.
O ministro, responsável pela comunicação do governo, passou a ser alvo de críticas dentro do próprio partido, o que levanta especulações sobre sua possível substituição em breve.
Nos bastidores, a aposta recai sobre Sidônio Palmeira, o marqueteiro que ajudou Lula a vencer as eleições de 2022.
A escolha de Palmeira ganhou força após um anúncio controverso feito em rede nacional, onde comunicaram o pacote fiscal e a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil de forma que muitos consideraram inadequada.
Criticaram a estratégia de misturar temas como ajuste fiscal e benefícios tributários, que em teoria eram pontos diferentes, por criar confusão e por ser mais uma ação de marketing eleitoral do que uma medida de política econômica bem explicada.
Apesar dos danos à imagem do governo, Lula parece considerar o episódio um sucesso, o que reflete sua abordagem própria para a comunicação política.
A falta de coordenação
Apesar de Lula afirmar que a solução está em falar mais, muitos analistas apontam que o problema da comunicação não está apenas na quantidade de declarações do presidente, mas na falta de coordenação política e na ausência de um núcleo central no Planalto que consiga ajustar o governo para que as expectativas não sejam desproporcionais às suas capacidades de execução.
O presidente insiste que a população só entenderia a magnitude de seu governo se ele se comunicasse mais diretamente com o público, mas a verdade é que, muitas vezes, o que falta não é uma explicação melhor, mas sim ações que condizem com as promessas feitas.
Enquanto isso, os problemas internos do governo, como a falta de um núcleo forte de coordenação e a dificuldade de alinhar o discurso econômico com a prática política, continuam sem solução.
O presidente, ao focar em ajustes na comunicação, acaba por desviar a atenção das questões mais profundas que afetam a governabilidade e a percepção pública.
Com isso, a discussão proposta pelo PT sobre os rumos do partido e do governo acaba por revelar a inutilidade de uma reflexão que não trata dos verdadeiros problemas da administração pública.