
- 31,3 milhões de ocupados no Brasil já são impactados pela IA generativa, e 5,5 milhões enfrentam alto risco de substituição parcial.
- O maior risco recai sobre os profissionais mais qualificados, especialmente em funções criativas, administrativas e de escritório.
- Transformação do trabalho, e não o desemprego em massa, é o principal cenário esperado, com destaque para desigualdades de gênero e idade.
A inteligência artificial generativa já afeta a rotina de milhões de brasileiros, mas especialistas alertam: o maior impacto não será o desemprego, e sim a transformação das profissões.
Um estudo da LCA 4Intelligence, com base em metodologia da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mostra que 31,3 milhões de trabalhadores brasileiros já estão expostos à IA generativa. Dentro desse grupo, 5,5 milhões se encontram no mais alto grau de risco, onde tarefas podem ser automatizadas com rapidez.
Apesar dos números elevados, o cenário mais provável, segundo economistas e analistas, é de mudança na natureza das funções e não uma eliminação em massa de vagas. A tecnologia, embora disruptiva, ainda depende da intervenção humana em grande parte das tarefas.
A face brasileira do impacto
De acordo com os dados analisados a partir da PNAD Contínua, do IBGE, 30,6% dos ocupados no Brasil já estão expostos, ao menos parcialmente, à IA generativa. Esse percentual é superior à média mundial estimada pela OIT, que ficou em 23,8%.
A pesquisa classifica os profissionais conforme seu grau de exposição, em quatro níveis — sendo o grau 4 o mais alto. Curiosamente, quanto maior a qualificação, maior o risco de impacto. Entre os mais instruídos, 13,1% estão no grau 4, frente a apenas 0,8% entre os menos qualificados.
Segundo o economista Bruno Imaizumi, autor do estudo, “a maioria das ocupações envolve tarefas que ainda requerem julgamento, criatividade e sensibilidade — características difíceis de replicar por uma máquina”.
Da ficção ao escritório
Embora a IA já transforme rotinas, não se trata apenas de substituir humanos por robôs. De acordo com Luciano Nakabashi, professor da USP em Ribeirão Preto, “a IA generativa funciona como assistente criativo. Ela não elimina o humano, mas potencializa sua entrega”.
A publicitária AIR, por exemplo, usa a IA em 100% dos seus projetos. A tecnologia ajuda desde a criação de roteiros até ajustes finais em imagens. No entanto, a supervisão humana ainda é essencial. “A IA não entrega um produto acabado sozinha”, reforça o sócio Marcos Ceravolo.
Em áreas como design, produção de conteúdo e administração, a IA pode liberar tempo para tarefas mais complexas, segundo Imaizumi. O setor público, marcado por rotinas burocráticas, também pode ganhar eficiência com essa transformação.
Gênero e idade fazem diferença
O levantamento também revela desigualdades nos impactos. As mulheres estão mais expostas: 7,8% delas estão no grau máximo de risco, contra 3,6% dos homens. Isso se deve à concentração feminina em funções administrativas e de atendimento, altamente automatizáveis.
Na análise por faixa etária, os mais velhos tendem a ocupar cargos menos afetados. Cerca de 60% dos trabalhadores com mais de 50 anos estão em funções com baixa exposição. Entre os mais jovens, esse índice gira em torno de 50%.
Luciano Nakabashi avalia que o número de brasileiros impactados pode ser ainda maior no futuro. “É difícil prever tudo que a IA vai alterar. O estudo oferece um alerta importante, mas é apenas uma fotografia inicial.”