Dois anos após a posse do presidente Lula (PT), a promessa de colocar “o pobre no Orçamento” e garantir preços acessíveis para itens básicos, como picanha e cerveja, ainda não se concretizou. Dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e análises do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelam um cenário de inflação desigual, que penaliza mais as famílias de baixa renda e beneficia os mais ricos, que registraram a menor taxa de inflação em quatro anos.
Em 2024, a inflação média no Brasil atingiu 4,83%, acima dos 4,62% registrados em 2023. No entanto, o impacto não foi uniforme. Enquanto as famílias de alta renda (com ganhos mensais acima de R$ 21.059,93) tiveram uma inflação de 4,43%, a menor desde 2020, as famílias de renda “muito baixa” (com menos de R$ 2.105,99 mensais) enfrentaram uma taxa de 4,91%. Para os mais pobres, a inflação subiu 1,64 ponto percentual em relação ao ano anterior, enquanto para os mais ricos houve uma queda de 1,79 ponto percentual.
Desigualdade na cesta de consumo
A disparidade ocorre devido às diferenças na composição da cesta de consumo. Para as famílias de baixa renda, itens como alimentos, energia elétrica e transporte público têm peso significativo no orçamento. Em 2024, o grupo de alimentos e bebidas contribuiu com um aumento de 2,29 pontos percentuais na inflação dos mais pobres. Já para os mais ricos, o impacto foi de apenas 0,94 ponto percentual, já que sua cesta inclui itens como passagens aéreas, planos de saúde e combustíveis, que tiveram variações menores.
“Enquanto os mais pobres sofrem com o aumento do preço do arroz, feijão e transporte, os mais ricos sentem menos impacto porque consomem produtos com preços mais estáveis”.
explicou um economista do Ipea, que preferiu não se identificar.
Copom eleva Selic para conter inflação
Em meio ao cenário de pressão inflacionária, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu, na quarta-feira (29 de janeiro de 2025), elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual, para 13,25% ao ano. A medida visa controlar o poder de compra da população e frear o aquecimento da economia, impulsionado por injeções de dinheiro público nos últimos anos.
“O aumento da Selic é necessário para evitar que a inflação saia ainda mais do controle, mas ele também pode dificultar o acesso ao crédito para as famílias de baixa renda”, afirmou o presidente do BC (Banco Central), em coletiva após a decisão.
Governo estuda medidas para conter preços
A alta nos preços dos alimentos e a queda na popularidade do governo Lula levaram o Planalto a estudar medidas emergenciais. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que busca alternativas para baratear os alimentos sem gerar impacto fiscal. “Precisamos agir com responsabilidade para não comprometer as contas públicas”, disse Haddad.
Já o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, sugeriu aumentar os subsídios do Plano Safra para reduzir os custos da produção agrícola. Enquanto isso, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, propôs substituir a laranja por outras frutas na merenda escolar, como forma de reduzir gastos.
Cenário desafiador para 2025
Apesar das medidas em discussão, especialistas alertam que o cenário econômico continua desafiador. A inflação persistente e a alta dos juros podem ampliar ainda mais a desigualdade social no país.
Com a Selic em alta e a inflação pressionando principalmente as famílias de baixa renda, o governo Lula enfrenta o desafio de equilibrar as contas públicas e, ao mesmo tempo, cumprir as promessas de campanha que garantiram sua vitória em 2022. O ano de 2025 promete ser decisivo para o futuro da economia brasileira e da popularidade do presidente.