- O peso argentino se valorizou 44,2% em 2024, impulsionando a popularidade de Javier Milei, mas gerando preocupações sobre sua sustentabilidade
- A valorização aumentou o salário médio para US$ 990 e reduziu a diferença entre a taxa oficial e paralela para menos de 20%
- O governo enfrenta dificuldades em recuperar reservas internacionais, e analistas alertam para o risco de desvalorização devido a fatores externos
Em 2024, o peso argentino se destacou como a moeda que mais se valorizou no mundo, com um aumento real de 44,2% até novembro. Ainda, em relação a uma cesta de moedas de seus principais parceiros comerciais, segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS) analisados pela consultoria GMA Capital.
Esse desempenho coloca a moeda argentina à frente de outras moedas emergentes, como a lira turca, que registrou alta de 21,2%. E, assim, impulsionou a popularidade do presidente Javier Milei.
Contudo, apesar dos resultados impressionantes, economistas e especialistas questionam a sustentabilidade desse aumento e os impactos de longo prazo na economia do país.
O efeito da valorização do peso
A valorização do peso argentino tem sido vista como uma das grandes vitórias do governo Milei, que assumiu a presidência da Argentina em um momento crítico. Ainda, quando a economia enfrentava uma inflação anual de três dígitos e a moeda se desvalorizava constantemente.
Em um cenário de escassez de dólares e alta inflação, o presidente implementou uma série de medidas para estabilizar a economia. Incluindo a desregulamentação de setores-chave e o corte de impostos.
Como resultado, o peso se apreciou substancialmente em relação a outras moedas, e a diferença entre a taxa oficial e a do mercado paralelo caiu drasticamente. De cerca de 200% para menos de 20% em dezembro de 2024.
Além disso, a valorização da moeda resultou em um aumento no poder de compra dos argentinos, com o salário médio do país subindo para US$ 990. Dessa forma, quase o dobro em relação aos últimos anos, após sete anos de depreciação contínua da moeda.
Para muitos cidadãos, o fortalecimento do peso representa uma melhora significativa em suas condições de vida. Especialmente, considerando o histórico recente de crise econômica.
A medida também contribuiu para a recuperação da confiança na economia, algo essencial para o governo de Milei. Que, no entanto, enfrenta uma situação delicada, com um alto nível de endividamento e reservas internacionais praticamente zeradas.
Desafios estruturais
Porém, apesar dos ganhos aparentes, a valorização do peso argentino apresenta uma série de desafios estruturais que podem comprometer a estabilidade da economia no futuro.
O Banco Central da Argentina, por exemplo, tem enfrentado dificuldades para reconstruir suas reservas internacionais, essenciais para garantir a solidez da moeda. Para manter o peso forte, o governo precisa gastar dólares de suas reservas. Assim, o que coloca uma pressão considerável sobre as finanças do país.
Além disso, lideranças empresariais internas alertam que o peso forte pode prejudicar a competitividade das exportações argentinas. Tornando, assim, os produtos do país mais caros para compradores estrangeiros.
A indústria argentina, ainda em recuperação após a crise, pode se ver em desvantagem em mercados globais caso o peso continue se valorizando sem o devido suporte nas reservas externas.
Milei, no entanto, acredita que a valorização do peso será temporária e que, a médio e longo prazo, o aumento das exportações, especialmente em setores como o de lítio e petróleo, aliviarará a pressão cambial.
O presidente aposta que investimentos em recursos naturais e a desregulamentação da economia ajudarão a impulsionar a economia e a gerar mais divisas para o país, sem depender tanto do fluxo de dólares pelo Banco Central.
O cenário externo
Enquanto a economia argentina tenta se recuperar e estabilizar, alguns analistas alertam que o cenário global pode colocar em risco a valorização do peso.
A possibilidade de uma nova onda de tarifas de importação por parte dos Estados Unidos, caso Donald Trump volte ao poder, poderia afetar a competitividade das moedas de países emergentes, como a Argentina.
Tais mudanças poderiam resultar em uma desvalorização repentina da moeda, frustrando os esforços do governo de Milei para manter a estabilidade.
Portanto, embora o governo argentino tenha alcançado um sucesso notável com a valorização do peso e a recuperação salarial, os próximos meses e anos exigem uma estratégia mais robusta para sustentar esse crescimento.
A dependência de fatores externos e as dificuldades internas, como o fortalecimento de exportações e a reconstrução das reservas, exigem cautela para evitar que a valorização do peso se revele apenas uma solução temporária para problemas econômicos mais profundos.