
Uma ação publicitária da fabricante chinesa Geely virou assunto nos bastidores diplomáticos. O motivo: o novo carro elétrico da marca foi exibido em pleno Palazzo Pamphilj, edifício histórico que abriga a Embaixada do Brasil em Roma, um dos endereços mais simbólicos da diplomacia nacional.
O episódio reacendeu a discussão sobre soberania nacional e os limites entre diplomacia e publicidade. Afinal, até que ponto o uso de um prédio estatal para promover uma empresa estrangeira respeita o papel institucional das representações brasileiras no exterior?
Um ícone da diplomacia transformado em vitrine para a China
O Palazzo Pamphilj, construído no século XVII e localizado na Piazza Navona, é um dos patrimônios arquitetônicos mais conhecidos de Roma. O espaço, que já foi palco de eventos culturais e diplomáticos, acabou envolvido em uma campanha comercial para promover o SUV elétrico da Geely.
Banners, projeções e peças de divulgação chamaram atenção por misturar símbolos do Estado brasileiro com o marketing de uma empresa estrangeira. Para críticos, a ação compromete a neutralidade diplomática e transmite a mensagem de que o Brasil está cedendo espaço institucional para interesses privados, especialmente de origem chinesa.
A escolha do local não foi aleatória: a Geely, uma das gigantes do setor automotivo mundial, busca expandir sua presença no mercado europeu e latino-americano, usando símbolos de legitimidade e prestígio — e a embaixada brasileira acabou sendo o palco perfeito.
“Soberania nacional” em questão
O caso levanta uma questão incômoda: até onde vai a autonomia de um país quando símbolos de sua soberania servem de vitrine para produtos estrangeiros? Diplomatas aposentados e analistas de imagem veem a ação como um deslize ético e estratégico, já que embaixadas são extensões do território nacional.
Além disso, a iniciativa expõe um contraste com o discurso oficial do governo, que tenta fortalecer a indústria nacional e reduzir a dependência tecnológica de países asiáticos. Divulgar um carro elétrico chinês em solo diplomático brasileiro no exterior soa, para muitos, como um gesto contraditório.
Por outro lado, defensores da ação afirmam que a parceria pode ser vista como uma forma moderna de diplomacia econômica — um exemplo de “soft power” comercial, em que o país se abre a novas tecnologias sustentáveis e parcerias internacionais.
Três pontos principais
- Embaixada brasileira em Roma virou palco de campanha de carro chinês, gerando críticas sobre uso de patrimônio diplomático.
- Ação levanta debate sobre soberania e dependência tecnológica, especialmente em um momento de busca por reindustrialização nacional.
- Itamaraty pode rever regras sobre uso de sedes diplomáticas após repercussão do caso e questionamentos sobre imagem institucional.