Novo capítulo

Soja vira arma na guerra entre Trump e China; e o Brasil pode pagar caro por isso

Rivalidade entre potências impulsiona exportações brasileiras e eleva risco de desmatamento no Cerrado e na Amazônia.

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  • China troca EUA pelo Brasil, impulsionando exportações de soja e risco de desmatamento.
  • Lobby do agronegócio pressiona o governo para flexibilizar a Moratória da Soja.
  • Produtores americanos perdem espaço, enquanto Trump e Xi devem discutir o tema na próxima cúpula.

A guerra comercial entre EUA e China reacendeu uma disputa que vai muito além da economia. O novo capítulo dessa tensão está transformando a soja brasileira em protagonista global e acendendo o alerta sobre o impacto ambiental no Cerrado e na Amazônia.

Com as tarifas impostas por Donald Trump e a retaliação de Pequim, a China praticamente parou de importar soja americana, redirecionando suas compras para Argentina e, principalmente, Brasil, hoje o maior exportador mundial do grão.

Brasil colhe lucros da disputa

Enquanto os produtores americanos amargam prejuízos, o agronegócio brasileiro se expande. O lobby da soja no país tenta aproveitar o momento favorável para ampliar a produção, pressionando o governo a rever a Moratória da Soja, acordo que impede o cultivo em áreas desmatadas da Amazônia.

O problema é que o crescimento da safra tem avançado sobre o Cerrado, bioma essencial para a regulação climática do país. Estimativas do MapBiomas indicam que 40 milhões de hectares já estão tomados por plantações, e quase metade da vegetação nativa do Cerrado desapareceu.

Segundo Luciana Gatti, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o aumento da demanda chinesa “vai colocar pressão sem precedentes sobre as áreas de savana tropical”, com risco direto à estabilidade climática.

Pressão sobre o governo Lula

O avanço da soja ocorre em um momento delicado para o governo Lula, que se prepara para sediar a conferência climática da ONU em Belém, em novembro. O Palácio do Planalto tenta equilibrar interesses econômicos e compromissos ambientais, mas enfrenta forte resistência de produtores e olhares internacionais atentos.

Para Cristiane Mazzetti, do Greenpeace Brasil, a ofensiva do agronegócio é um “ataque direto a um dos mecanismos mais eficazes contra o desmatamento”. A moratória foi suspensa brevemente em agosto pelo Cade, mas restabelecida por decisão judicial. Mesmo assim, o setor pressiona para flexibilizar as restrições.

A Aprosoja, principal entidade de produtores, alega que o pacto “distorce a competitividade” e que pastagens degradadas poderiam ser convertidas em lavouras. O argumento é que “a viabilidade econômica deve decidir onde plantar, não a legislação ambiental”, disse o vice-presidente Lucas Costa Beber.

Produtores americanos perdem espaço

Do outro lado do mundo, os agricultores americanos enfrentam queda de preços e incerteza política. As exportações de soja para a China, que somaram US$ 12,6 bilhões em 2024, praticamente cessaram. A Associação Americana de Soja alerta que o país pode perder seu principal cliente global.

Além disso, as tarifas de Trump elevaram custos de fertilizantes e equipamentos, comprimindo margens. Trump ainda não confirmou se se reunirá com Xi Jinping na cúpula da Coreia do Sul, mas o tema da soja deve dominar as negociações.

Enquanto isso, o Brasil amplia seu domínio no comércio global do grão, mas enfrenta o dilema de crescer sem devastar, uma equação que coloca Lula sob pressão interna e externa.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.