Tarifas dos EUA

Taiwan e Vietnã falam em tarifa zero aos EUA e investimentos no país

Ignorando a rota da retaliação, o presidente de Taiwan, Lai Ching-te, responde às novas tarifas de Trump propondo negociações baseadas em tarifa zero, prometendo aumentar investimentos taiwaneses nos EUA e eliminar barreiras comerciais, buscando aprofundar laços estratégicos.

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Em um movimento que surpreendeu analistas e contrariou a expectativa de uma escalada de tensões comerciais, o presidente de Taiwan, Lai Ching-te, apresentou uma resposta inusitada às recentes tarifas de importação anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em vez de ameaçar com medidas retaliatórias, Lai ofereceu neste domingo iniciar negociações comerciais com base em “tarifas zero” e se comprometeu a remover barreiras comerciais existentes, sinalizando um desejo de aprofundar ainda mais os laços econômicos e estratégicos com Washington.

A oferta de Lai vem poucos dias após o anúncio de Trump, na quarta-feira, de um pacote abrangente de tarifas de importação que atinge dezenas de parceiros comerciais. Taiwan, que possui um significativo superávit comercial com os Estados Unidos (ou seja, vende mais para os EUA do que compra deles), foi um dos alvos, enfrentando uma potencial taxa de 32% sobre muitos de seus produtos exportados para o mercado americano. No entanto, é crucial notar que um dos pilares da economia taiuanesa, os semicondutores, foram explicitamente excluídos dessas novas tarifas americanas, um alívio importante para a ilha.

A proposta taiuanesa foi detalhada por Lai em uma mensagem de vídeo divulgada por seu gabinete, após uma reunião com executivos de pequenas e médias empresas locais. O presidente reconheceu que, dada a forte dependência de Taiwan em relação ao comércio internacional, a economia local inevitavelmente sentiria o impacto das tarifas americanas. Contudo, ele expressou confiança de que esse impacto pode ser minimizado através de uma abordagem construtiva e proativa.

As negociações tarifárias podem começar com ‘tarifas zero’ entre Taiwan e os Estados Unidos, com referência ao acordo de livre comércio entre os EUA, Canadá e México (USMCA)”, declarou Lai, estabelecendo um paralelo com um dos maiores acordos comerciais do mundo como um possível modelo. Esta abordagem de “tarifa zero” como ponto de partida é vista como uma tentativa audaciosa de virar o jogo, transformando uma potencial crise em uma oportunidade para um acordo comercial mais ambicioso.

Lai fez questão de reforçar que Taiwan não tem planos de adotar retaliação tarifária, uma postura que destoa da reação de outros países frequentemente alvos de medidas protecionistas. Mais do que isso, ele assegurou que não haverá mudança nos compromissos de investimento já feitos por empresas taiuanesas nos Estados Unidos, desde que esses investimentos continuem sendo do interesse de Taiwan. Pelo contrário, ele indicou que esses investimentos devem aumentar.

Um exemplo emblemático é a TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company), a maior fabricante terceirizada de chips do mundo e uma gigante tecnológica global. A empresa já havia anunciado no mês passado um investimento adicional colossal de US$ 100 bilhões em suas operações nos Estados Unidos, um movimento que fortalece as cadeias de suprimento americanas em um setor estratégico. Lai sugeriu que essa tendência vai continuar e se expandir.

“No futuro, além do aumento do investimento da TSMC, outros setores, como o de eletrônicos, informações e comunicações, petroquímicos e gás natural, poderão aumentar o investimento nos EUA e aprofundar a cooperação industrial entre Taiwan e EUA”, afirmou o presidente, sinalizando um amplo leque de áreas para futuras parcerias econômicas. Essa promessa de investimento pode ser vista como um forte argumento para convencer Washington a aceitar a proposta de negociação e reconsiderar as tarifas.

Além dos investimentos privados, o governo taiwanês também está considerando ações diretas. Lai revelou que seu gabinete está avaliando a possibilidade de realizar compras em larga escala de produtos agrícolas, industriais e de energia dos Estados Unidos. Adicionalmente, ele mencionou que o Ministério da Defesa já apresentou planos de compra de armas americanas. “Todas as compras serão ativamente buscadas”, garantiu Lai, destacando a disposição de Taiwan em contribuir para reduzir o desequilíbrio comercial e, ao mesmo tempo, reforçar sua própria segurança com equipamentos americanos.

Outro ponto crucial da estratégia taiuanesa é o compromisso de resolver proativamente as barreiras comerciais não tarifárias (obstáculos que dificultam o comércio, mas que não são impostos, como regulações complexas ou exigências burocráticas) que existem há muitos anos. Lai reconheceu que essas barreiras são um fator importante na avaliação dos EUA sobre a justiça das relações comerciais. Ao se comprometer a eliminá-las, Taiwan busca demonstrar boa-fé e facilitar o caminho para negociações mais tranquilas com os EUA.

Essa postura conciliadora e proativa de Taiwan deve ser entendida no contexto geopolítico mais amplo. Os Estados Unidos são o mais importante apoiador internacional de Taiwan e sua principal fonte de armamentos, apesar de não manterem relações diplomáticas formais (devido à política de “Uma só China” reconhecida por Washington, mas que não endossa as reivindicações de Pequim sobre a ilha). Esse apoio é vital para Taiwan, que enfrenta uma pressão militar e política crescente de seu vizinho gigante, a China. Pequim considera a ilha democrática como parte de seu território e não descarta o uso da força para alcançar a reunificação. Curiosamente, o anúncio das tarifas de Trump ocorreu pouco depois que a China concluiu uma nova rodada de exercícios militares (“jogos de guerra”) em torno de Taiwan, aumentando a tensão na região.

Diante desse cenário complexo, a estratégia de Lai parece ser a de fortalecer ao máximo os laços com seu principal aliado, os EUA, mesmo diante de medidas comerciais desfavoráveis. O presidente taiwanês concluiu sua mensagem com um tom de otimismo e resiliência, lembrando que Taiwan já enfrentou grandes crises globais no passado e conseguiu superá-las.

Não apenas conseguimos superar as dificuldades, mas também conseguimos transformar as crises em oportunidades, transformando a economia taiuanesa em uma nova e mais resiliente”, acrescentou Lai, expressando confiança na capacidade de seu país de navegar por mais este desafio. Resta saber como a administração Trump reagirá a essa oferta inesperada de Taiwan.

Fernando Américo
Fernando Américo
Sou amante de tecnologias e entusiasta de criptomoedas. Trabalhei com mineração de Bitcoin e algumas outras altcoins no Paraguai. Atualmente atuo como Desenvol