
- Tarcísio nega plano golpista e defende Bolsonaro em depoimento ao STF
- Governador paulista busca equilibrar lealdade a Bolsonaro com sua própria imagem para 2026
- STF avança na oitiva de testemunhas de defesa em investigação sobre tentativa de golpe
O Supremo Tribunal Federal (STF) ouviu nesta sexta-feira (30) o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como testemunha de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Contudo, no julgamento que investiga uma suposta trama golpista articulada após as eleições de 2022.
Cotado como um possível candidato à Presidência em 2026, Tarcísio prestou depoimento por videoconferência, convocado pela defesa do ex-presidente.
O ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, comandou a audiência, que também incluiu outros dez depoimentos. O STF destinou o dia para ouvir exclusivamente testemunhas indicadas por Bolsonaro e seus aliados no inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado com o objetivo de impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao prestar o compromisso legal de dizer a verdade, Tarcísio foi categórico:
“Jamais tive conhecimento de qualquer intenção golpista. Nunca. E nem no período em que fui ministro.”
Ele relatou que, nas visitas feitas a Bolsonaro após a eleição, encontrou o ex-presidente “triste, resignado” e que, em momento algum, ouviu dele qualquer menção a ruptura institucional.
A fala de Tarcísio é estratégica para a defesa de Bolsonaro. Como ex-ministro da Infraestrutura e atual governador do estado mais populoso do país, seu testemunho carrega peso político.
Ele confirmou ter se encontrado com Bolsonaro em duas ocasiões após as eleições (em novembro e dezembro de 2022), período no qual a Polícia Federal aponta como crítico para a articulação de uma tentativa de golpe. Segundo o governador, os encontros foram pessoais e não trataram de articulações políticas ou militares.
Blindagem política e cálculo para 2026
Ao adotar um tom cauteloso, Tarcísio tenta equilibrar sua lealdade com Bolsonaro e sua projeção como figura nacional independente. Seu posicionamento pode funcionar como uma blindagem para o ex-presidente. Contudo, que busca escapar da acusação de ter liderado uma conspiração para reverter o resultado das urnas.
Nos bastidores, a expectativa de Bolsonaro era clara: que Tarcísio reforçasse sua narrativa de que jamais cogitou uma ruptura democrática. Em sua rede social, ainda no ano passado, Tarcísio já havia feito manifestações públicas de apoio ao antigo chefe.
Outros aliados prestam depoimento ao STF
Além de Tarcísio, o STF ouviu nesta sexta o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil e figura central no governo Bolsonaro. Nogueira também figura como testemunha tanto para Bolsonaro quanto para Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e outro investigado no inquérito. Já Valdemar Costa Neto, presidente do PL, foi dispensado de comparecer após pedido da defesa de Torres.
A fase atual do julgamento é considerada decisiva para o futuro político de Bolsonaro. Ao centrar os depoimentos desta sexta exclusivamente em testemunhas de sua defesa, o STF avança para concluir a coleta de provas orais antes do parecer final do relator Alexandre de Moraes.
A estratégia de convocar aliados leais, como Tarcísio e Ciro, busca, no entanto, minar as acusações de que houve uma coordenação deliberada para sabotar a transição democrática. Mas o cerco jurídico se aperta, e o próprio relator já indicou que as investigações continuarão a apurar documentos, mensagens e articulações com as Forças Armadas.
Enquanto isso, Tarcísio desponta cada vez mais como o herdeiro político mais viável da base bolsonarista. E, ainda que tente se descolar, aos poucos, das polêmicas que cercam o ex-presidente.