
A decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros, anunciada na última quarta-feira (9), não só instaura uma guerra comercial com o Brasil, como também escancara contradições ideológicas e cria um ambiente favorável para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No epicentro da turbulência, o presidente petista já ensaia sua resposta: a ativação da Lei de Reciprocidade Econômica (Lei 15.122/2025).
A medida permitirá ao Brasil retaliar comercialmente qualquer país que imponha tarifas ou barreiras unilaterais — como os EUA acabam de fazer.
“Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica”, declarou Lula, em nota publicada em sua página no X.
Oportunidade política em meio ao embate comercial
Apesar do desgaste, a atitude de Trump criou uma oportunidade política rara para Lula. Segundo analistas, a retórica inflamada do republicano, misturando tarifas comerciais com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e defesa explícita de Jair Bolsonaro (PL), abre caminho para que Lula assuma o papel de defensor da economia e das instituições democráticas brasileiras.
“O Planalto vê isso como uma grande oportunidade para 2026”, disse o analista político Christopher Garman, da consultoria Eurasia, em entrevista à revista Exame. “Agora não tem nada que segure o governo: vão pintar Bolsonaro como aliado de quem está tirando empregos do Brasil.”
A repercussão internacional também pode ajudar Lula. Como lembra o cientista político Maurício Moura, antagonizar com Trump tem funcionado como “trampolim de popularidade” em vários países, como México, França, Ucrânia e Canadá.
Quem são os atingidos pela canetada de Trump?
A tarifa, que afeta diretamente setores como agronegócio, siderurgia e energia, teve um efeito colateral inesperado: revelar o duplo padrão da extrema direita brasileira.
Os mesmos grupos que defendem a soberania nacional e a “indústria de pé” agora aplaudem um líder estrangeiro que prejudica diretamente a economia do Brasil com medidas protecionistas extremas.
O agronegócio, que por anos se alinhou ideologicamente com Trump e Jair Bolsonaro, sente forte apreensão agora. Integrantes do Ministério da Agricultura ainda calculam os prejuízos, mas já apontam café e carne bovina como os mais impactados.
Além de afetar os exportadores brasileiros, a medida também onera o consumidor americano, especialmente em um momento de escassez de carne bovina nos EUA, agravada por mudanças climáticas e redução dos rebanhos.
A Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) cobrou do governo Lula uma resposta “firme e estratégica”, alertando que a tarifa afeta diretamente a competitividade do agro, o câmbio e o custo de insumos importados.Apesar da insatisfação com os ataques de Trump, lideranças da FPA também sugeriram retomar o caminho da diplomacia para preservar o canal comercial com os Estados Unidos.