
- 5 dos 10 produtos mais exportados do Brasil para os EUA registraram queda em maio
- Café, celulose, ferro-gusa, aeronaves e equipamentos de engenharia foram os mais afetados
- Apesar disso, exportações totais bateram recorde de US$ 3,6 bilhões no mês
Com a aproximação do fim da trégua de 90 dias no programa de tarifas dos EUA, o Brasil já sente os efeitos de um comércio exterior mais tenso. Então, o levantamento da Câmara Americana de Comércio (Amcham) revela que cinco dos dez principais produtos exportados pelos brasileiros aos Estados Unidos registraram queda nas vendas em maio, muitos já sob impacto direto ou indireto das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump.
Ainda assim, o valor total exportado surpreendeu positivamente, alcançando US$ 3,6 bilhões (R$ 19,6 bilhões), o que representa um crescimento de 11,5% na comparação com maio de 2023 — o maior número já registrado para o período.
Queda atinge produtos estratégicos para o Brasil
Entre os produtos com maior recuo estão café não torrado (-32,3%), celulose (-22,7%), ferro-gusa (-13,4%), aeronaves (-7,9%) e equipamentos de engenharia (-30,3%). Segundo a Amcham, os efeitos das tarifas são parte da explicação, mas há também fatores específicos que dificultam a competitividade brasileira.
No caso da celulose, por exemplo, o Canadá se destacou como um concorrente mais agressivo, com acesso facilitado ao mercado americano por meio do USMCA, o tratado comercial entre Estados Unidos, México e Canadá. Isso deixou os exportadores brasileiros em clara desvantagem.
Já os óleos brutos de petróleo, que representam outro pilar das exportações, também sofreram limitações, não por tarifas, mas por menor demanda das refinarias norte-americanas no mês.
Aço e alumínio sob ataque: tarifas dobradas
Além da redução em itens já consolidados, outra preocupação urgente gira em torno do aço e do alumínio. Desde junho, os EUA dobraram a tarifa de importação para esses produtos, passando de 25% para 50%, por meio de decreto assinado por Trump.
Além disso, esses setores são vitais para o Brasil, que figura entre os maiores exportadores de aço para os americanos.
Desse modo, especialistas apontam que sem isenção ou cotas especiais, os produtos nacionais podem perder espaço rapidamente para concorrentes com acordos comerciais mais vantajosos.
Governo busca acordo, mas evita detalhes
O governo brasileiro, por meio do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), tenta conter os impactos. Negociações bilaterais com os EUA foram iniciadas ainda em março, envolvendo também o Itamaraty e representantes americanos como o USTR e o secretário do Comércio, Howard Lutnick.
Apesar disso, nenhuma solução concreta foi apresentada até o momento. O MDIC afirma que várias reuniões presenciais e virtuais ocorreram nos últimos meses, mas que, por questões estratégicas, os detalhes estão sendo mantidos sob sigilo.
O ministro Geraldo Alckmin reforçou a intenção de manter o diálogo aberto, criando um grupo de trabalho para tratar diretamente do problema. Segundo ele, essa é a melhor forma de mitigar o impacto das tarifas e garantir que o Brasil preserve seus espaços comerciais.
Exportações diversificadas mantêm otimismo
Mesmo com perdas em setores importantes, outros produtos registraram alta expressiva. A carne bovina, por exemplo, subiu 121,3%, enquanto os semi-acabados de ferro e aço cresceram 82,4% e os óleos brutos de petróleo avançaram 43,7%.
Ademais, o desempenho sugere uma pauta de exportações mais diversificada, o que fortalece a resiliência do Brasil diante das turbulências comerciais.
Portanto, com essa nova dinâmica, o país pode manter presença forte nos EUA, desde que continue adaptando sua estratégia.