
- Selic pode chegar a 15,25% nas próximas reuniões do Copom
- Guerra tarifária impõe incertezas sobre política monetária
- Corte de juros só deve ocorrer a partir de dezembro
O Banco Central pode elevar a taxa Selic para até 15,25% nas próximas duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), alertou a economista-chefe do Santander Brasil, Ana Paula Vescovi.
Segundo ela, o ritmo dessa alta dependerá do impacto da guerra tarifária na atividade econômica brasileira. A economista fez a declaração nesta quarta-feira (23) durante um evento do Santander realizado em Nova York.
“A política monetária atua sobre a demanda. Se o que enfrentarmos for um choque de oferta, o BC precisará aguardar para entender os efeitos antes de agir”, afirmou Vescovi.
Ela destacou que o cenário externo turbulento, agravado pela escalada protecionista entre grandes economias, impõe cautela às decisões de juros.
A ex-secretária do Tesouro Nacional, que ocupou o cargo durante o governo Michel Temer, acredita que, mesmo com a pressão fiscal crescente, o aumento dos juros reais será suficiente para fazer a inflação convergir à meta de 3% até 2027.
Alta dos juros pode frear crescimento
Para 2025, Vescovi prevê um crescimento mais modesto do Produto Interno Bruto (PIB), em torno de 2%. Esse patamar representa, no entanto, uma desaceleração em relação aos últimos anos, quando a economia brasileira cresceu entre 3% e 3,5%, sustentada por fatores excepcionais e reformas implementadas recentemente.
Apesar da expectativa de desaceleração, ela vê a demanda interna ainda aquecida, impulsionada por estímulos fiscais e programas de transferência de renda.
Esses estímulos, por sua vez, dificultam o trabalho do Banco Central no controle da inflação. Ainda, ao manter a pressão sobre os preços mesmo em um ambiente de juros elevados.
“O importante é que o BC tem demonstrado independência e compromisso com o combate à inflação. Essa postura é essencial para preservar a credibilidade da política monetária”, afirmou a economista.
Ajuste fiscal e redução do custo de capital
Ana Paula Vescovi defendeu, portanto, a necessidade de um ajuste fiscal estruturado. Esta, capaz de reduzir o risco-país e o custo de capital no Brasil. Segundo ela, a consolidação das contas públicas é fundamental para a retomada do crescimento sustentável.
“Esse é um desafio que conhecemos há mais de uma década. As reformas são difíceis, mas o País está, pouco a pouco, tomando consciência da sua importância”, observou.
Ela também destacou que a ausência de reformas estruturantes pode comprometer a efetividade da política monetária e o potencial de crescimento da economia brasileira.
Vescovi concluiu, contudo, com uma mensagem de cautela e pragmatismo: o Banco Central precisa calibrar os juros com precisão, evitando tanto a complacência com a inflação quanto a asfixia do crescimento. A leitura do Santander é que, salvo novos choques, o início do ciclo de cortes nos juros só deve ocorrer em dezembro deste ano.