- O TCU bloqueou R$ 6 bilhões do programa Pé-de-Meia, alegando que os recursos não estavam previstos no orçamento, desrespeitando as regras fiscais
- O bloqueio pode afetar o pagamento das bolsas para estudantes do Ensino Médio, prejudicando o objetivo de reduzir a evasão escolar
- O governo recorreu da decisão, defendendo a legalidade dos recursos e argumentando que o bloqueio comprometeria a continuidade do programa
Na última quarta-feira (22), o Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu bloquear R$ 6 bilhões do Programa Pé-de-Meia, criado pelo Ministério da Educação (MEC). Com o objetivo de financiar bolsas para estudantes do Ensino Médio e incentivar a sua permanência nas escolas.
O TCU tomou a medida após um parecer técnico que questionou a legalidade do uso de recursos não previstos na Lei Orçamentária Anual para financiar o programa.
Essa decisão não é isolada. Na sexta-feira (17), o relator do caso, o ministro Augusto Nardes, já havia expedido uma medida cautelar para o bloqueio dos recursos. Alinhando-se, ainda, à análise técnica do TCU. O entendimento do órgão é o de que o programa, ao utilizar fundos provenientes de recursos não previstos no orçamento, comprometeria as regras fiscais da União.
Orçamento em xeque: A legitimidade do Pé-de-Meia
A área técnica do TCU afirma que os recursos do programa, originários do Fipem, não foram incluídos na Lei Orçamentária Anual.
Além disso, o relatório técnico do TCU aponta que a manobra utilizada pelo governo para viabilizar o financiamento do Pé-de-Meia pode comprometer a credibilidade fiscal do país. E, assim, gerar um efeito cascata de consequências negativas.
Os auditores afirmam que a falta de previsão orçamentária viola o princípio da universalidade, que exige que todas as receitas e despesas estejam previstas na Lei Orçamentária.
A falha seria, segundo o TCU, um risco não apenas para a boa gestão pública, mas também para a estabilidade econômica do Brasil. Já que poderia prejudicar a confiança de investidores e gerar instabilidade no mercado financeiro.
Esse tipo de ajuste, segundo os técnicos, poderia resultar na fuga de investidores, desvalorização da moeda. Além do aumento da inflação e da taxa de juros, criando um cenário econômico desafiador no médio e longo prazo.
O parecer conclui que o uso inadequado desses recursos afetaria diretamente as contas públicas e, por consequência, a saúde financeira do país.
O impacto para os estudantes
Após a decisão do TCU, a Advocacia Geral da União (AGU) recorreu imediatamente, pedindo a suspensão da medida cautelar que bloqueou os recursos. O governo argumenta que não há ilegalidade na transferência dos recursos do Fundo Garantidor de Operações (FGO) e do Fundo de Garantia de Operações de Crédito Educativo (Fgeduc) para o Pé-de-Meia. E, que, a interrupção do programa afetaria gravemente a educação de milhares de jovens.
O Programa Pé-de-Meia foi criado para beneficiar estudantes da educação básica com incentivos financeiros. Assim, como forma de garantir a permanência deles nas escolas e combater a evasão escolar.
Os alunos que comprovarem matrícula e frequência recebem R$ 200 mensais, que podem ser sacados a qualquer momento. Além disso, os estudantes recebem R$ 1.000 ao final de cada ano letivo concluído. Contudo, os valores só poderão ser retirados após a formatura no Ensino Médio.
No caso da educação de jovens e adultos, o incentivo financeiro é um pouco maior. Além dos R$ 200 pela matrícula, os estudantes recebem R$ 225 mensais pela frequência. O valor total que cada aluno pode receber chega a R$ 9.200, considerando as bolsas mensais e os depósitos anuais.
O desfecho do caso
O ministro Nardes, responsável pela decisão inicial, determinou que a Advocacia Geral da União e a Caixa Econômica Federal se manifestem em até 15 dias sobre as irregularidades encontradas. O futuro do programa, portanto, dependerá da análise do TCU sobre a legalidade do uso dos recursos. Além das respostas dos órgãos envolvidos.
Se o bloqueio for mantido, o programa sofrerá um impacto significativo, prejudicando o acesso e a permanência dos estudantes no Ensino Médio, já que é considerado essencial para esses objetivos.
Além disso, muitos temem que a decisão do TCU possa criar um precedente perigoso para outras iniciativas sociais. Que dependem, portanto, de recursos públicos não previstos no orçamento anual.
A situação levanta questões cruciais sobre a forma como o governo tem gerido as finanças públicas. Ainda está em jogo se problemas técnicos e legais podem prejudicar as políticas sociais, que são essenciais para a população mais vulnerável.
A decisão do TCU pode representar um ponto de inflexão na forma como o Brasil lida com o financiamento da educação pública. Além de outras áreas sociais, e o desenrolar do caso promete gerar intensos debates sobre o futuro das políticas públicas no país.