
Com o aumento das tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, muitos brasileiros estão preocupados com os possíveis efeitos de sanções americanas ao país — especialmente após o governo de Donald Trump revogar os vistos de ministros do STF e ameaçar impor tarifas de até 100% sobre produtos brasileiros. Nas redes sociais, surgiram boatos de que, em um cenário mais extremo, brasileiros poderiam ter suas contas nos EUA congeladas ou seus investimentos bloqueados. Mas será que essa preocupação faz sentido?
Especialistas negam risco real de bloqueio para brasileiros comuns
De acordo com especialistas, a resposta é clara: não há risco real de bloqueio generalizado para investidores brasileiros comuns. Segundo Richard Rytenband, estrategista-chefe da Convex Research, o processo de sanções nos Estados Unidos é técnico e extremamente direcionado. O órgão responsável por isso é o OFAC (Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros), subordinado ao Departamento do Tesouro americano.
O OFAC age com base em critérios específicos e só aplica sanções contra alvos diretamente ligados a crimes internacionais, terrorismo, regimes autoritários ou graves violações de direitos humanos. Cidadãos comuns, com patrimônio legalmente declarado e investimentos em ativos financeiros ou imobiliários nos EUA, estão fora do radar desse tipo de punição.
Para entender melhor, basta observar casos recentes. Na Rússia, as sanções aplicadas após a invasão da Ucrânia afetaram oligarcas ligados a Vladimir Putin — não a população comum. O mesmo aconteceu no Irã, Venezuela e Coreia do Norte. Mesmo sob pesadas restrições econômicas, cidadãos desses países que mantinham investimentos legais no exterior não foram automaticamente punidos ou tiveram seus ativos congelados apenas por sua nacionalidade.
Diversificar e dolarizar é mais importante do que nunca
Entretanto, há um efeito colateral que merece atenção. Quando um país é alvo de sanções americanas, uma das primeiras consequências costuma ser a desvalorização acelerada da sua moeda. Foi o que ocorreu com o rublo russo e com o bolívar venezuelano. Isso significa que o verdadeiro risco não está em investir no exterior, mas sim em concentrar todo o patrimônio em ativos expostos ao real.
Em momentos de instabilidade, especialmente quando há incerteza geopolítica ou fiscal, o dólar tende a funcionar como refúgio. Ter parte dos investimentos dolarizada pode proteger o poder de compra do investidor e garantir acesso a ativos mais líquidos e seguros globalmente.
Além disso, fundos brasileiros com exposição internacional seguem operando normalmente. As corretoras e bancos que oferecem acesso ao mercado americano — como XP, BTG, Avenue e outras — não foram afetados por nenhum tipo de sanção ou restrição, tampouco os bancos americanos bloquearam contas de brasileiros por questões políticas ou diplomáticas.
Importante lembrar que o sistema financeiro dos EUA é regido por regras rígidas de compliance e combate à lavagem de dinheiro. Se o investidor estiver regularizado, com tudo declarado à Receita Federal, não há com o que se preocupar — mesmo em cenários de maior tensão entre governos.
Portanto, a narrativa de que “Trump pode confiscar os investimentos dos brasileiros” carece de qualquer base técnica ou jurídica. O foco das possíveis sanções estaria, se concretizadas, em autoridades governamentais, empresas estatais específicas ou setores sensíveis da economia, como defesa ou energia. Cidadãos comuns não são afetados por esse tipo de medida.
Investimentos dolarizados continuam seguros
A lição que fica é outra: diversificar e dolarizar parte do patrimônio é uma estratégia prudente — não apenas frente a possíveis atritos com os EUA, mas diante da instabilidade política e fiscal interna. Investir no exterior continua sendo uma forma eficaz de preservar valor e reduzir riscos sistêmicos locais.
Resumo final:
- Sanções dos EUA são direcionadas e não afetam cidadãos comuns com investimentos legais.
- O verdadeiro risco é a desvalorização do real, não o bloqueio de ativos nos EUA.
- Dolarizar parte do patrimônio continua sendo uma medida inteligente de proteção.