
- A briga pública entre Elon Musk e Donald Trump sobre a reforma tributária derrubou as ações da Tesla em até 9% na bolsa.
- Projetos do Congresso podem eliminar bilhões em créditos para veículos e energia limpa.
- Tesla tenta barrar medidas que afetam até metade do lucro previsto para 2025.
A tensão entre Elon Musk e Donald Trump ultrapassou os bastidores da política e explodiu nos mercados. Em meio a uma troca pública de acusações sobre a reforma tributária proposta pelos republicanos, as ações da Tesla despencaram.
Desse modo, o confronto entre dois dos homens mais poderosos dos Estados Unidos agora ameaça bilhões em incentivos fiscais e acende o alerta vermelho para o futuro da indústria de veículos elétricos no país.
Conflito entre gigantes abala confiança
A Tesla viveu um dos seus piores dias na bolsa nesta quinta-feira (5). O motivo não foi um problema técnico nem um balanço ruim, mas uma briga pública entre Elon Musk e Donald Trump. Assim, o embate entre os dois ícones causou reações negativas no mercado e colocou em risco bilhões de dólares em incentivos fiscais.
Além disso, as ações da Tesla (BDR: TSLA34) chegaram a despencar 9,2% no pior momento do pregão. O motivo da queda foi a escalada de críticas de Trump à postura de Musk sobre o novo pacote fiscal proposto por aliados republicanos. Musk, por sua vez, respondeu com ironia e dureza nas redes sociais.
Segundo Trump, ele se sente “decepcionado” com Musk por atacar o plano de reforma tributária. Já o bilionário rebateu, dizendo que nunca foi avisado sobre a revogação dos créditos fiscais para veículos elétricos. Para ele, o projeto representa uma “aberração repugnante”.
Esse crédito fiscal, de até US$ 7.500 por veículo vendido, é crucial para o modelo de negócios da Tesla. Sua extinção antecipada, sete anos antes do prazo original, pode gerar perdas de mais de US$ 1,2 bilhão por ano, segundo o JPMorgan.
Tensão política ameaça negócios
O embate não para por aí. Musk acusa Trump de “ingratidão” por todo o apoio que recebeu da Tesla durante sua gestão. Além disso, o executivo tem pressionado o Congresso a barrar o pacote fiscal, que também impõe novas barreiras à produção de energia limpa nos Estados Unidos.
A reforma patrocinada por Trump e seus aliados vai além dos carros elétricos. Ela atinge diretamente o coração da estratégia energética da Tesla, ao dificultar o acesso a créditos regulatórios e limitar o uso de componentes vindos da China.
De acordo com os analistas do JPMorgan, um segundo projeto aprovado no Senado pode causar ainda mais danos à Tesla. As novas regras podem comprometer até US$ 2 bilhões em lucros, ao inviabilizar a venda de créditos ambientais no mercado interno.
Essas duas propostas, somadas, colocam em risco metade do lucro operacional previsto da empresa para este ano — estimado em US$ 6 bilhões. Com isso, os investidores reagiram com forte pessimismo, derrubando as ações da companhia na Nasdaq e nas bolsas internacionais.
Tesla critica proposta e teme retrocesso
A divisão de energia da Tesla se manifestou separadamente contra o novo pacote fiscal. Em nota, a empresa alertou que as medidas podem “desmantelar” os incentivos à energia limpa e comprometer a segurança energética do país. A companhia argumenta que a mudança abrupta da política climática pode levar a um retrocesso sem precedentes.
Desde que a Lei de Redução da Inflação foi aprovada, ainda na gestão de Joe Biden, a Tesla se beneficiou de uma série de incentivos federais. Com eles, a empresa conseguiu expandir sua produção nos EUA e avançar na transição para veículos elétricos.
A proposta republicana agora em tramitação na Câmara quer antecipar o fim desses créditos já em 2025. Também impõe restrições para revenda de créditos fiscais e regras mais duras para baterias e lítio com insumos de origem estrangeira, sobretudo chinesa.
Essas mudanças ocorrem em um momento de expansão das vendas de carros elétricos nos EUA. Segundo dados da Cox Automotive, foram 1,3 milhão de unidades comercializadas em 2024 — crescimento de 7,3% em relação ao ano anterior. Parte desse avanço, no entanto, depende diretamente dos incentivos que agora estão sob ameaça.
Mercados reagem com cautela
Diante desse cenário, analistas alertam que a Tesla pode ter de rever sua estratégia nos Estados Unidos. As fábricas no Texas e na Califórnia, que hoje representam o centro produtivo da companhia, podem ser impactadas por custos mais altos e demanda menor, caso os créditos sejam revogados.
O episódio também ilustra como a política pode influenciar fortemente os mercados financeiros. A exposição pública da divergência entre Trump e Musk gera insegurança, tanto em relação ao futuro da Tesla quanto sobre a previsibilidade das regras para a indústria verde no país.
Apesar da queda brusca nas ações, parte do mercado ainda aposta em uma reversão. Isso dependerá, porém, da evolução do debate no Congresso e da capacidade de Musk de reverter os cortes fiscais. Por enquanto, o clima é de cautela e incerteza generalizada entre os investidores.