
O mundo financeiro, especialmente o setor de criptomoedas e agronegócios, foi pego de surpresa nesta semana. A Tether Investments, conhecida por ser a força por trás da stablecoin USDT, o popular “dólar digital”, fez um movimento ousado e inesperado: lançou uma oferta para adquirir o controle acionário da Adecoagro, uma das maiores empresas agrícolas da Argentina.
A proposta, que pegou muitos analistas de calças curtas, envolve a compra de 51% da Adecoagro. A Tether ofereceu pagar US$ 12,41 por cada ação, um valor quase 30% acima do preço de fechamento das ações na segunda-feira. O mercado reagiu imediatamente: as ações da Adecoagro na Bolsa de Nova York dispararam 12%.
A grande pergunta que não quer calar é: por que uma empresa de criptomoedas, focada em moedas digitais, está interessada em uma companhia que planta grãos, produz leite e gera energia a partir do etanol?
Em um comunicado oficial, a Tether tentou explicar. A empresa afirmou que a oferta faz parte de uma estratégia maior, que envolve investir em setores estratégicos como tecnologia financeira (o que já era esperado), inteligência artificial, biotecnologia e energia. A Tether também mencionou que pretende “destravar valor” na Adecoagro por meio de um “novo plano estratégico”, mas não deu detalhes.
Adecoagro: Uma Gigante do Campo Sul-Americano
Para quem não conhece, a Adecoagro é uma potência no setor agrícola. Fundada em 2002 por um grupo de empresários argentinos, a empresa cresceu rapidamente e hoje cultiva grãos e arroz em 260 mil hectares na Argentina. Além disso, produz laticínios e, o mais importante, etanol, açúcar e energia, que representam a maior parte de seus lucros.
A Tether, por sua vez, é uma figura um tanto controversa. Fundada nas Ilhas Virgens Britânicas e agora sediada em El Salvador, a empresa criou o USDT, uma criptomoeda que se tornou essencial no mercado. O USDT é conhecido como “dólar digital” porque seu valor é atrelado ao dólar americano, o que o torna mais estável do que outras criptomoedas voláteis, como o Bitcoin.
Um Romance Que Começou Com Tokens e Virou Paixão
A relação entre Tether e Adecoagro não surgiu do nada. Tudo começou com a LandToken, uma empresa especializada em transformar ativos agrícolas em tokens digitais. A Tether comprou uma parte da LandToken e, a partir daí, começou a se interessar pela própria Adecoagro.
De novembro a fevereiro, a Tether aumentou sua participação na Adecoagro de 9,8% para 20,2%, investindo cerca de US$ 200 milhões. Se a oferta pelo controle total for aceita, a Tether terá que desembolsar mais US$ 385 milhões.
Apesar da oferta generosa e da reação positiva do mercado, muitas perguntas permanecem sem resposta. Analistas do JP Morgan, por exemplo, questionam o que acontecerá se a oferta falhar. A Tether continuará comprando ações? Venderá sua participação? E se a oferta for bem-sucedida, a Tether mudará a diretoria e a estratégia da Adecoagro?
A investida na Adecoagro não é um caso isolado. A Tether tem feito movimentos surpreendentes nos últimos tempos. Em dezembro, a empresa comprou uma parte da Juventus Football Club, um dos times de futebol mais famosos da Itália. Também investiu na empresa de tecnologia alemã Northern Data AG e colocou US$ 775 milhões na rede social Rumble, popular entre os conservadores americanos.