Tráfico de pessoas

Trabalhadores da BYD são vítimas de tráfico internacional de pessoas, diz MPT

MPT aponta tráfico internacional de pessoas e exige soluções para os trabalhadores encontrados em condições precárias.

Trabalhadores da BYD são vítimas de tráfico internacional de pessoas, diz MPT
  • O Ministério Público do Trabalho (MPT) identificou 163 trabalhadores chineses no canteiro de obras da BYD na Bahia como vítimas de tráfico internacional de pessoas
  • A BYD e a empreiteira Jinjiang Group concordaram em abrigar os trabalhadores em hotéis enquanto tentam resolver a situação, embora discordem da avaliação do MPT
  • O MPT está investigando como os trabalhadores foram recrutados e transportados, e exige que as empresas regularizem a situação e garantam a devolução dos trabalhadores para a China

O Ministério Público do Trabalho (MPT) revelou nesta quinta-feira (26) que os 163 trabalhadores chineses encontrados em um canteiro de obras da fábrica da BYD, na Bahia, foram vítimas de tráfico internacional de pessoas.

A denúncia surgiu após uma investigação que revelou irregularidades no recrutamento, transporte e manutenção dos trabalhadores em condições precárias no Brasil. A maioria dos empregados estava envolvida na construção de uma unidade industrial da empresa chinesa no estado.

Rede de exploração

O caso expôs uma rede de exploração de mão de obra internacional, na qual os recrutadores atraíram os trabalhadores com promessas de boas condições de trabalho e remuneração.
Portanto, acabaram sendo forçados a viver em situações degradantes.

De acordo com o MPT, a empresa BYD, junto à empreiteira Jinjiang Group, concordou em abrigar os trabalhadores em hotéis enquanto tentam negociar uma solução para o fim dos contratos. A proposta é que a situação seja resolvida sem maior agravo para os envolvidos. Mas ambas as empresas negaram a caracterização de tráfico de pessoas, discordando da avaliação das autoridades.

Condições precárias

A descoberta dos trabalhadores aconteceu após denúncias anônimas e investigações conduzidas por autoridades locais.

A maioria dos chineses encontrava-se em condições precárias no local de trabalho e em alojamentos. Ainda, com evidências de um esquema de exploração de mão de obra barata e sem condições mínimas de moradia.

Além disso, muitos dos trabalhadores estavam com contratos temporários ou não tinham conhecimento claro sobre as condições de trabalho no Brasil antes de sua chegada.

O MPT afirmou que o recrutamento desses trabalhadores aconteceu por meio de intermediários e agências de empregos, que prometeram oportunidades de trabalho em condições favoráveis.

Mas que, ao chegarem ao Brasil, se viram em uma situação de cativeiro, sem liberdade de movimentação. E, ainda, com poucos recursos para deixar o país ou se comunicar com suas famílias na China.

Segundo o órgão, o tráfico de pessoas é uma prática condenável e envolve uma rede complexa de exploração laboral. E, no entanto, que precisa ser combatida de forma enérgica.

Posicionamento das empresas

A BYD, fabricante chinesa de veículos elétricos, não respondeu imediatamente aos pedidos de comentários feitos por jornalistas. Em nota, a empresa disse estar ciente da situação e comprometida com a resolução do caso, mas sem admitir envolvimento em tráfico de pessoas.

A empreiteira Jinjiang Group, que é responsável pela obra da fábrica na Bahia, também não se manifestou de maneira oficial durante o horário comercial.

A situação gerou enorme repercussão nacional e internacional, pois a BYD, uma das maiores fabricantes de veículos elétricos do mundo, é conhecida por sua imagem corporativa voltada para práticas ambientais e sociais responsáveis.

A empresa, que mantém fábricas em diversos países, viu-se agora no centro de uma polêmica que questiona a seriedade de suas operações fora da China.

O papel das autoridades

Diante do ocorrido, o Ministério Público do Trabalho exige que as empresas envolvidas tomem ações imediatas para regularizar a situação dos trabalhadores. E, assim, garantam a devolução das passagens para a China, caso desejem retornar.

O MPT também trabalha para identificar os responsáveis pelo tráfico de pessoas. Assim, as autoridades buscam processar os envolvidos no esquema de acordo com as leis brasileiras e internacionais.

As autoridades de imigração, junto com o MPT, iniciaram procedimentos legais para esclarecer como os trabalhadores foram recrutados e identificar os intermediários responsáveis pela operação.

Além disso, um esforço está sendo feito para garantir que nenhum outro trabalhador seja vítima de situações semelhantes em outros canteiros de obras no Brasil.

A descoberta no canteiro de obras da BYD ilustra novamente a vulnerabilidade de trabalhadores imigrantes, explorados em condições desumanas em diversos setores da economia globalizada.
O MPT reiterou seu compromisso de atuar contra o tráfico de pessoas. E no entanto, que continua sendo uma grave violação dos direitos humanos no Brasil e no mundo.