
- Brasil importou US$ 3,8 bi em diesel russo, mais da metade das compras totais da Rússia.
- Trump pressiona G-7 por tarifas contra importadores, mirando China e Índia, mas deixando o Brasil em alerta.
- Esplanada teme retaliações bilaterais em meio à tensão política após a condenação de Bolsonaro.
O Brasil desembolsou US$ 3,8 bilhões em diesel russo entre janeiro e agosto, o que representa 54,5% de todas as importações vindas da Rússia no período. Apesar de ser 16,4% menos que no ano passado, o volume ainda é significativo e mantém o país sob pressão internacional.
Agora, o presidente Donald Trump voltou à carga e pressiona o G-7 a aplicar tarifas aos países que compram petróleo da Rússia. Embora o alvo principal seja a China, em Brasília o sinal de alerta já foi acionado.
Comércio sob risco
Entre janeiro e agosto, o saldo comercial Brasil-Rússia ficou negativo em US$ 6,1 bilhões. As importações de combustíveis somaram US$ 3,8 bilhões, enquanto fertilizantes chegaram a US$ 2,8 bilhões. Do lado das exportações, a carne bovina cresceu 66,2%, somando US$ 381 milhões, e o café avançou 54%, com US$ 49 milhões.
A dependência dos insumos russos preocupa. O diesel responde por mais da metade das compras brasileiras, enquanto os fertilizantes são essenciais para o agronegócio. Especialistas avaliam que sanções ampliariam o custo de importação e poderiam impactar a inflação.
Apesar disso, o Itamaraty não vê risco imediato de retaliações diretas. A avaliação é de que os EUA usam o tema como instrumento de barganha política.
Pressão de Washington
Em reunião com ministros do G-7, autoridades americanas defenderam medidas “drásticas” contra importadores de petróleo russo. Trump reforçou o recado nas redes sociais, cobrando tarifas de até 100% contra a China e atacando países da OTAN que ainda compram energia de Moscou.
A estratégia repete o movimento recente contra a Índia, que sofreu tarifas adicionais de 25% impostas por Washington. O objetivo é reduzir as compras indianas de petróleo bruto russo.
Analistas lembram que, embora o discurso seja agressivo, a União Europeia ainda depende fortemente do gás russo. Por isso, sanções contra países como Brasil e Índia seriam improváveis neste momento.
Impactos no Brasil
A leitura em Brasília é de que Trump pode usar a questão energética para aumentar a pressão política após a condenação de Jair Bolsonaro pelo STF. Integrantes do governo não descartam que medidas bilaterais sejam tomadas como retaliação indireta.
Para parte dos observadores, o movimento norte-americano é mais simbólico do que prático. A avaliação é que Trump busca mostrar força sem comprometer a aliança com a Europa, que ainda mantém relações comerciais com Moscou.
Ainda assim, a dependência brasileira do diesel russo deixa o país exposto. Se o cenário escalar, os custos para importação podem pesar no caixa das distribuidoras e afetar diretamente os consumidores.