- Trump promete intensificar a pressão econômica sobre Caracas, suspendendo a compra de petróleo e deportando imigrantes irregulares
- Embora busque autossuficiência, os EUA ainda dependem do petróleo da Venezuela, o que pode complicar suas políticas energéticas
- Analistas acreditam que Trump pode adotar uma abordagem mais pragmática, considerando fatores econômicos e geopolíticos
Com a posse de Donald Trump para o seu segundo mandato na presidência dos Estados Unidos, a Venezuela se prepara para enfrentar um cenário de incertezas. O republicano, que já se tornou uma figura bem conhecida na América Latina, foi um dos principais responsáveis pela imposição de sanções rigorosas contra o governo de Nicolás Maduro. Além do mercado venezuelano durante sua primeira gestão.
Agora, em um novo ciclo de governo, a expectativa é que Trump adote uma postura semelhante, mas com possíveis mudanças de abordagem diante dos desafios internos e da dinâmica energética global.
O continuar do confronto
Durante sua primeira entrevista coletiva após a reeleição, Donald Trump reafirmou seu compromisso de não comprar mais petróleo da Venezuela. Além de exigir que o governo venezuelano aceite a deportação dos imigrantes venezuelanos que vivem de forma irregular nos Estados Unidos.
Caso isso não aconteça, a Casa Branca prometeu intensificar ainda mais a “pressão econômica” sobre Caracas.
No domingo (19), um dia antes de sua posse, Trump já havia mencionado a Venezuela em seu discurso, referindo-se repetidamente a “criminosos venezuelanos” presentes nos EUA. Ainda, deixando claro que sua política para o país caribenho segue sendo de confronto.
O republicano, que se cercou de aliados conhecidos por serem críticos aos governos de esquerda latino-americanos, como o senador Marco Rubio, escolhido para o cargo de secretário de Estado, também reforçou sua posição agressiva em relação a Venezuela e Cuba.
Rubio, sempre foi um ferrenho opositor do regime chavista e tem sido uma figura chave na formulação da política externa de Trump para a região. Para analistas, essa postura dura tem como objetivo “mobilizar a base conservadora do presidente”. Porém, a continuidade das sanções contra a Venezuela não é uma certeza, já que existem fatores que podem moderar essa política.
Incertezas econômicas
Embora Trump tenha afirmado que os Estados Unidos não precisam mais do petróleo venezuelano, a realidade econômica pode se mostrar mais complexa.
Os EUA, que ainda não alcançam a autossuficiência energética desejada, importam uma grande quantidade de petróleo, e a Venezuela é um dos fornecedores.
De acordo com dados da Agência de Informação Energética (EIA), a Venezuela é o terceiro maior exportador de petróleo para os Estados Unidos. Atrás, apenas, de países como Canadá e México.
Embora os Estados Unidos tenham aumentado sua produção de petróleo nos últimos anos, a necessidade de importar ainda é grande. Dessa forma, o que coloca o petróleo venezuelano em uma posição estratégica.
William Serafino, cientista político da Universidade Central da Venezuela, sugere que o discurso de Trump pode ser uma forma de mobilizar sua base política. Mas, a realidade dos mercados energéticos pode obrigá-lo a adotar uma abordagem mais pragmática.
“O petróleo venezuelano continua sendo demandado devido à sua disponibilidade e proximidade geográfica”, explica Serafino.
Embora o país tenha capacidade técnica para explorar mais petróleo, fatores como o declínio de poços existentes, obstáculos regulatórios e a transição para fontes de energia mais limpas podem complicar essa estratégia.
O que esperar da política de Trump?
As expectativas para a política de Trump em relação à Venezuela no seu segundo mandato permanecem incertas. Para Ilenia Medina, ex-embaixadora venezuelana, as ações dos EUA nos últimos anos em relação à Venezuela, Líbia e Síria mostraram um foco no controle de recursos energéticos, como o petróleo.
No entanto, ela aponta que a política de Trump pode ser mais voltada para a autossuficiência energética. E, ainda, uma menor dependência de intercâmbios com a União Europeia, o que pode influenciar suas decisões sobre a Venezuela.
Apesar de todo o discurso agressivo e das sanções implementadas até agora, é possível que Trump adote uma postura mais pragmática em seu segundo mandato, especialmente após os desafios enfrentados em sua primeira gestão.
A questão energética será fundamental para definir os próximos passos do presidente, já que os EUA ainda dependem do petróleo estrangeiro para suprir seu consumo interno, apesar dos esforços para aumentar a produção nacional.
No entanto, a geopolítica e os interesses internos de Trump também desempenharão um papel crucial. A questão do petróleo, a pressão de lobbies e os interesses dos neoconservadores em seu gabinete podem alterar as direções de sua política.
Por enquanto, o futuro da Venezuela sob a administração Trump é um campo de incertezas, onde a retórica dura se choca com a realidade econômica e geopolítica.