
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a aplicação de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. A justificativa oficial? Um alegado “déficit comercial insustentável” com o Brasil. No entanto, os números contam outra história.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), os Estados Unidos acumulam superávit comercial com o Brasil desde 2009.
Só nos últimos 15 anos, o país norte-americano exportou cerca de US$ 410 bilhões a mais do que importou do Brasil — o que desmonta completamente a narrativa de Trump.
“É falsa a informação sobre o alegado déficit norte-americano. As estatísticas do próprio governo dos EUA comprovam um superávit com o Brasil”, escreveu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em resposta à acusação.
Brasil tem saldo negativo há mais de uma década
Em 2025, até junho, o saldo já é negativo em US$ 1,67 bilhão.
Ou seja, o Brasil comprou mais dos americanos do que vendeu — exatamente o oposto do que Trump declarou.
No ano passado (2024), por exemplo, o Brasil exportou US$ 40,3 bilhões em bens e serviços para os EUA, enquanto importou US$ 40,6 bilhões — um déficit de US$ 300 milhões.
“De fato, os EUA têm um superávit em relação ao Brasil e foi por esse motivo que as tarifas inicialmente ficaram em somente 10%”, explicou o economista Ecio Costa, da UFPE, em entrevista ao site Poder360.
| Período | Presidente no Brasil | Ano | Saldo Comercial (US$ bi) | Situação do Saldo |
| 1997–2002 | Fernando Henrique Cardoso | 1997 | -4,39 | Déficit para o Brasil |
| 1998–2002 | Não especificado | — | ||
| 2003–2010 | Luiz Inácio Lula da Silva | 2004 | +10,00 | Superávit para o Brasil |
| 2005–2008 | Superávit (não detalhado) | Superávit para o Brasil | ||
| 2009 | 0,00 (ponto de virada) | Neutro | ||
| 2011–2016 | Dilma Rousseff | 2010 | -2,44 | Déficit para o Brasil |
| 2011–2016 | Déficits recorrentes | Déficit para o Brasil | ||
| 2016–2018 | Michel Temer | 2017–2018 | Déficits recorrentes | Déficit para o Brasil |
| 2019–2022 | Jair Bolsonaro | 2019–2022 | Déficits recorrentes | Déficit para o Brasil |
| 2023–atual | Luiz Inácio Lula da Silva | 2023 | -0,28 | Déficit para o Brasil |
| 2025 (até jun) | -1,67 | Déficit para o Brasil |
(MDIC)
Tarifa subiu de 10% para 50%
No início de abril, o governo Trump já havia incluído o Brasil em uma política tarifária global, mas com apenas 10% de imposto adicional, exatamente por reconhecer o superávit americano. Agora, o tom mudou: Trump quadruplicou a tarifa, com forte viés político.
Além de citar “barreiras comerciais”, Trump afirmou em sua rede social Truth Social que a medida se deve também a “ataques insidiosos contra eleições livres” e “violações da liberdade de expressão”, além de criticar o julgamento de Jair Bolsonaro no STF, que chamou de “vergonha internacional”.
Impactos à vista
Especialistas alertam que o aumento de 50% pode reduzir drasticamente a competitividade dos produtos brasileiros nos EUA — segundo maior parceiro comercial do país. Entre os itens mais afetados estão petróleo, aço, café e carne bovina, que lideram a pauta de exportações brasileiras para o mercado americano.
Trump ainda deixou um recado velado: se o Brasil decidir retaliar com novas tarifas sobre produtos dos EUA, a alíquota poderá subir ainda mais.
Como saída, sugeriu que empresas brasileiras se instalem nos EUA para evitar a tarifa — promessa que ele mesmo classificou como “pró-negócio”.