Pelo contrário...

Trump mentiu: Brasil não deu nenhum prejuízo comercial aos EUA nos últimos 15 anos – confira

Apesar de ter saldo positivo no comércio com o Brasil há 16 anos, EUA anunciam tarifa agressiva sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto

Trump

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a aplicação de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. A justificativa oficial? Um alegado “déficit comercial insustentável” com o Brasil. No entanto, os números contam outra história.

De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), os Estados Unidos acumulam superávit comercial com o Brasil desde 2009

Só nos últimos 15 anos, o país norte-americano exportou cerca de US$ 410 bilhões a mais do que importou do Brasil — o que desmonta completamente a narrativa de Trump.

“É falsa a informação sobre o alegado déficit norte-americano. As estatísticas do próprio governo dos EUA comprovam um superávit com o Brasil”, escreveu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em resposta à acusação.

Brasil tem saldo negativo há mais de uma década

Em 2025, até junho, o saldo já é negativo em US$ 1,67 bilhão

Ou seja, o Brasil comprou mais dos americanos do que vendeu — exatamente o oposto do que Trump declarou.

No ano passado (2024), por exemplo, o Brasil exportou US$ 40,3 bilhões em bens e serviços para os EUA, enquanto importou US$ 40,6 bilhões — um déficit de US$ 300 milhões.

“De fato, os EUA têm um superávit em relação ao Brasil e foi por esse motivo que as tarifas inicialmente ficaram em somente 10%”, explicou o economista Ecio Costa, da UFPE, em entrevista ao site Poder360.

PeríodoPresidente no BrasilAnoSaldo Comercial (US$ bi)Situação do Saldo
1997–2002Fernando Henrique Cardoso1997-4,39Déficit para o Brasil
1998–2002Não especificado
2003–2010Luiz Inácio Lula da Silva2004+10,00Superávit para o Brasil
2005–2008Superávit (não detalhado)Superávit para o Brasil
20090,00 (ponto de virada)Neutro
2011–2016Dilma Rousseff2010-2,44Déficit para o Brasil
2011–2016Déficits recorrentesDéficit para o Brasil
2016–2018Michel Temer2017–2018Déficits recorrentesDéficit para o Brasil
2019–2022Jair Bolsonaro2019–2022Déficits recorrentesDéficit para o Brasil
2023–atualLuiz Inácio Lula da Silva2023-0,28Déficit para o Brasil
2025 (até jun)-1,67Déficit para o Brasil

(MDIC)

Tarifa subiu de 10% para 50%

No início de abril, o governo Trump já havia incluído o Brasil em uma política tarifária global, mas com apenas 10% de imposto adicional, exatamente por reconhecer o superávit americano. Agora, o tom mudou: Trump quadruplicou a tarifa, com forte viés político.

Além de citar “barreiras comerciais”, Trump afirmou em sua rede social Truth Social que a medida se deve também a “ataques insidiosos contra eleições livres” e “violações da liberdade de expressão”, além de criticar o julgamento de Jair Bolsonaro no STF, que chamou de “vergonha internacional”.

Impactos à vista

Especialistas alertam que o aumento de 50% pode reduzir drasticamente a competitividade dos produtos brasileiros nos EUA — segundo maior parceiro comercial do país. Entre os itens mais afetados estão petróleo, aço, café e carne bovina, que lideram a pauta de exportações brasileiras para o mercado americano.

Trump ainda deixou um recado velado: se o Brasil decidir retaliar com novas tarifas sobre produtos dos EUA, a alíquota poderá subir ainda mais.

Como saída, sugeriu que empresas brasileiras se instalem nos EUA para evitar a tarifa — promessa que ele mesmo classificou como “pró-negócio”.

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.