Ajuste fiscal

“Turma da cobertura tem que pagar”: Haddad insiste em mais impostos

Ministro afirma que não há legitimidade fiscal sem cobrança de quem concentra renda.

palestra haddad mcamgo abr 19102023 5
palestra haddad mcamgo abr 19102023 5
  • Haddad defende que ricos paguem mais para tornar o ajuste fiscal justo.
  • Ministro critica sistema que cobra mais dos pobres e poupa a elite econômica.
  • Declarações ocorrem em meio a tensão com o Congresso, após queda do decreto do IOF.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender nesta sexta-feira (27) a ideia de um ajuste fiscal “justo”, que cobre também os mais ricos do país. Em discurso na Faculdade de Direito da USP, ele criticou o modelo atual, no qual, segundo ele, quem paga a conta são os trabalhadores e a população de baixa renda.

Além disso, para Haddad, há uma clara inversão de responsabilidades. Logo, enquanto os mais pobres sentem o peso dos cortes e das medidas fiscais, os mais ricos — apelidados por ele de “turma da cobertura” — continuam fora da lista dos que contribuem de forma proporcional à sua renda.

Nesse sentido, “A conta do ajuste sempre cai no colo de quem ganha salário mínimo, dos aposentados, servidores públicos, gente da periferia”, apontou. No entanto, ao mencionar os mais ricos como responsáveis pelo pagamento do “condomínio Brasil”, o ministro destacou o incômodo: “Curiosamente, o ajuste fiscal deixa de ser prioridade”, ironizou.

Discurso contra desigualdade estrutural

Durante o evento, Haddad reforçou que o Brasil precisa enfrentar a desigualdade com medidas concretas, e uma delas é justamente a reforma tributária com foco em justiça social. Para ele, um país que está entre as dez maiores economias do mundo não pode conviver com tamanha concentração de renda.

Ademais, o ministro argumentou que o modelo atual enfraquece o país diante do mundo. “Não podemos continuar ostentando o título de grande economia se estamos entre os mais desiguais”, afirmou. Segundo ele, é essa desigualdade que compromete o respeito internacional que o Brasil deveria ter.

Além disso, Haddad reiterou que a nova postura da Fazenda é de transparência. Ele ressaltou a abertura do orçamento público e o detalhamento de quem realmente paga impostos no Brasil — e, mais importante, quem não paga. Esse movimento, segundo o ministro, abre espaço para que o debate fiscal seja político e baseado em dados reais.

Tensão entre Executivo e Congresso

As declarações de Haddad ocorrem em meio a um novo embate entre o governo federal e o Congresso Nacional. A tensão aumentou após os parlamentares derrubarem o decreto do IOF, medida que fazia parte do esforço do governo para equilibrar as contas públicas.

Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). A ação busca reverter a decisão do Congresso e garantir a manutenção das medidas fiscais propostas pela equipe econômica.

A reação do governo evidencia o quanto o ajuste fiscal tem sido uma batalha política, além de econômica. Enquanto Haddad tenta redistribuir a carga tributária com foco nos mais ricos, o Congresso pressiona para preservar isenções que, em grande parte, beneficiam setores com maior influência política.

Nesse contexto, a fala do ministro sobre a “turma da cobertura” adquire novo peso. Não se trata apenas de retórica, mas de uma tentativa clara de mobilizar a opinião pública e colocar a elite econômica na linha de frente da arrecadação.

Proposta de justiça fiscal ganha visibilidade

Desde o início de sua gestão, Haddad tem insistido em uma agenda que busque equilíbrio sem penalizar os mais vulneráveis. Para ele, isso só será possível com uma estrutura tributária menos regressiva, ou seja, que não cobre mais proporcionalmente de quem tem menos.

A ampliação do debate público sobre quem paga impostos é vista como um avanço. Com as informações do orçamento agora abertas, o governo quer mostrar que há margem para cobrar mais de quem hoje não contribui de forma justa.

No entanto, mesmo com o discurso firme, Haddad enfrenta resistência dentro e fora do Congresso. Muitos setores veem a proposta como uma ameaça aos seus privilégios fiscais. Ainda assim, o ministro aposta na pressão social e no discurso da equidade para sustentar suas propostas.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.