Em uma decisão que promete abalar as relações comerciais da América do Norte, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira a imposição de uma tarifa de 25% sobre as importações provenientes do México e do Canadá. A medida, que ainda precisa ser formalizada, pode ter efeitos significativos sobre a economia dos EUA, uma vez que os dois países são os principais parceiros comerciais do país, responsáveis por 30% do valor total das importações norte-americanas em 2024.
Apesar de Trump afirmar que as tarifas serão pagas por exportadores estrangeiros, especialistas alertam que os consumidores norte-americanos também sentirão o impacto. “É improvável que os varejistas absorvam totalmente os custos adicionais”, explicou Mary Lovely, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics em reportagem da CNN. “Isso significa que os preços de diversos produtos subirão, afetando diretamente o bolso dos consumidores.”
Setor automotivo em alerta
O setor automotivo é um dos mais expostos às novas tarifas. No ano passado, os EUA importaram US$87 bilhões em veículos e US$64 bilhões em peças automotivas do México, segundo dados do Departamento de Comércio dos EUA. Do Canadá, as importações de veículos motorizados totalizaram US$34 bilhões até novembro de 2023.
A indústria automobilística norte-americana tem se beneficiado da produção no México, onde os custos com mão de obra são significativamente mais baixos. No entanto, uma tarifa de 25% pode eliminar essa vantagem competitiva.
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“As empresas automotivas fizeram investimentos pesados em plantas no México e no Canadá. Realocar a produção não é uma opção viável a curto prazo”.
afirmou Lovely.
Impacto no preço da gasolina
O setor energético também será fortemente afetado. Os EUA importaram US$97 bilhões em petróleo e gás do Canadá em 2023, tornando-se cada vez mais dependentes do petróleo canadense após a expansão do oleoduto Trans Mountain. Patrick De Haan, chefe de análise de petróleo da GasBuddy, estima que a tarifa pode elevar o preço da gasolina em até US$0,75 por galão, com impactos mais severos nas regiões dos Grandes Lagos, Centro-Oeste e Montanhas Rochosas.
Alimentos e bebidas mais caros
O setor alimentício não ficará imune às tarifas. Em 2023, os EUA importaram US$46 bilhões em produtos agrícolas do México, incluindo US$8,3 bilhões em vegetais frescos, US$5,9 bilhões em cerveja e US$5 bilhões em bebidas destiladas. A Constellation Brands, importadora das cervejas Modelo e Corona, pode ver seus custos aumentarem em 16%, segundo Chris Carey, analista do Wells Fargo. Isso deve resultar em um aumento de 4,5% nos preços ao consumidor.
Os abacates, que representaram US$3,1 bilhões das importações de frutas frescas do México, também ficarão mais caros. “Supermercados e agricultores operam com margens de lucro muito baixas. Eles não têm como absorver os custos adicionais e serão obrigados a repassá-los aos consumidores”, explicou Lovely.
Alguns varejistas têm adotado medidas preventivas, como estocar produtos e realocar a produção para evitar os impactos das tarifas. No entanto, essas estratégias têm prazo de validade. “Muitos produtos não podem ser estocados indefinidamente ou produzidos em outros lugares”, destacou Lovely. “A longo prazo, os consumidores sentirão o peso dessas tarifas.”
