Juros elevados

Usuários se queixam de consignado CLT de Lula: juros altos

Governo lança nova linha de crédito, mas trabalhadores enfrentam desafios ao usar FGTS como garantia para empréstimos com juros elevados.

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  • Governo libera modalidade que permite usar até 10% do saldo do FGTS como garantia para empréstimos consignados a trabalhadores formais
  • Medida gera preocupação entre especialistas, que alertam para o perigo de comprometer um recurso tradicionalmente visto como reserva financeira
  • Críticos questionam se a utilização do fundo para empréstimos é adequada, já que muitos trabalhadores consideram o FGTS uma poupança de emergência

Na última sexta-feira (21), o governo brasileiro liberou uma nova modalidade de empréstimo consignado para trabalhadores com carteira assinada do setor privado.

Com a possibilidade de usar até 10% do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como garantia, a medida vem gerando controvérsias, principalmente pelo risco de endividamento excessivo e pela utilização do FGTS – um recurso que muitos consideram como um “poupança forçada” – para financiar dívidas.

Crédito para trabalhadores

O empréstimo consignado com garantia do FGTS oferece uma alternativa para os trabalhadores do setor privado que enfrentam dificuldades financeiras.

A possibilidade de utilizar uma parte do FGTS como garantia de pagamento promete facilitar o acesso ao crédito. Especialmente, em um cenário de alta nos juros para outras modalidades de crédito no país.

Até as 18h de ontem, o Ministério do Trabalho e Emprego registrou 15.098.810 simulações de pedidos. Dessa forma, o que demonstra o grande interesse da população.

Contudo, a linha de crédito oferece um risco considerável para o futuro financeiro dos trabalhadores. Os juros para esse crédito podem chegar a 3,04% ao mês, uma taxa bastante elevada quando comparada à taxa de juros de modalidades anteriores do consignado, que eram de 2,92% ao mês.

Para se ter uma ideia, o crédito direto ao consumidor (CDC) possui uma taxa média de 5,93% ao mês, e o cheque especial atinge 7,38% ao mês, o que faz o consignado parecer mais atraente. No entanto, a facilidade do crédito imediato pode induzir muitos trabalhadores a se endividarem ainda mais.

O impacto no FGTS e os riscos para o trabalhador

Embora o empréstimo com garantia do FGTS ofereça o benefício de um crédito de baixo custo em comparação com outras modalidades, ele também pode prejudicar os trabalhadores no longo prazo.

Isso ocorre porque, em caso de demissão sem justa causa, o trabalhador perderá a parte do saldo do FGTS que foi dada como garantia para o empréstimo.

Se o saldo devedor for maior do que o montante utilizado como garantia, o trabalhador continuará a pagar o restante das parcelas, mesmo após a demissão. Dessa forma, o que pode gerar um ciclo de dívidas contínuo.

Por exemplo, se um trabalhador tem R$ 100 mil de FGTS e utiliza R$ 50 mil como garantia para o empréstimo, ele poderá retirar apenas os R$ 50 mil restantes em caso de demissão sem justa causa.

Se ainda houver dívida a ser paga, ele terá que continuar quitando as parcelas com descontos do seu novo salário, caso arrume outro emprego. Essa situação pode causar dificuldades financeiras adicionais. Assim, levando a um agravamento da situação de endividamento do trabalhador.

Expectativa dos empréstimos

O Ministério do Trabalho e Emprego estimou que os desembolsos para novos empréstimos consignados superem a marca de R$ 100 bilhões nos primeiros três meses de operação da modalidade.

Essa projeção reflete a alta demanda por esse tipo de crédito e a expectativa de que os trabalhadores utilizem o consignado para quitar empréstimos com juros mais altos, como os do crédito pessoal e do cheque especial.

O governo e as instituições financeiras acreditam que, com essa medida, será possível proporcionar um alívio temporário para muitas famílias. Dessa forma, ao reduzir o valor das parcelas mensais.

No entanto, a grande preocupação dos analistas econômicos é que o crédito fácil e imediato pode gerar uma onda de endividamento, já que muitos trabalhadores não costumam considerar os impactos de longo prazo das dívidas adquiridas.

A falta de educação financeira no Brasil é um fator agravante, e muitos poderão acabar pagando muito mais do que o valor inicial do empréstimo devido aos altos juros cobrados.

Mais de 40 milhões de trabalhadores já simularam o empréstimo até domingo (23) e precisam entender os riscos, especialmente quem parcelar em até 84 vezes.

Essa nova linha de crédito é “uma faca de dois gumes”. Enquanto oferece uma solução imediata para quem precisa de dinheiro, também impõe grandes riscos financeiros a quem não avaliar com cautela as condições do empréstimo.

É fundamental que os trabalhadores tenham consciência do impacto de suas escolhas financeiras, especialmente quando envolvem o uso de recursos de longo prazo, como o FGTS.

Confira as opiniões compartilhadas nas redes e os resultados das “simulações”:

Rocha Schwartz
Paola Rocha Schwartz
Estudante de Jornalismo, apaixonada por redação e escrita! Tenho experiência na área educacional (alfabetização e letramento) e na área comercial/administrativ