- O presidente ucraniano afirmou que o Brasil não tem mais relevância nas negociações de paz com a Rússia
- Zelensky criticou Lula por suas declarações sobre a guerra, incluindo a ideia de que vários países, como EUA e UE, têm responsabilidades no conflito
- Zelensky expressou dúvidas sobre o interesse real do Brasil em mediar o conflito, afastando o país das negociações
Durante sua participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez duras críticas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Dessa forma, afirmando que o Brasil não desempenha mais um papel relevante nas tentativas de mediação entre a Ucrânia e a Rússia.
Zelensky declarou, no entanto, que “o trem do Brasil já passou”, se referindo à oportunidade que o país teve de atuar como mediador no conflito. Mas que, segundo ele, foi perdida.
Essa declaração acirra ainda mais as tensões entre os dois países, após meses de divergências sobre o papel do Brasil no cenário internacional em relação à guerra.
Em entrevista à TV Globo, Zelensky foi questionado sobre o papel de Lula nas negociações de paz e, de maneira enfática, afirmou que, após várias conversas com o presidente brasileiro, não o vê mais como um “player” nas tentativas de resolver o impasse entre Ucrânia e Rússia.
O presidente ucraniano também foi claro ao afirmar que essa dinâmica não mudará, mesmo com após Donald Trump retornar à presidência dos Estados Unidos. Zelensky já havia se mostrado crítico da postura de Lula em relação ao conflito, principalmente em relação às declarações do presidente brasileiro de que tanto a Ucrânia quanto os Estados Unidos e a União Europeia têm responsabilidades no prolongamento da guerra.
As tentativas de mediação
Ao longo de 2023, Lula buscou se posicionar como mediador entre os dois lados do conflito, tentando estabelecer um canal de diálogo e pacificação. Em várias ocasiões, o presidente brasileiro se mostrou disposto a articular uma solução diplomática para a guerra. Ainda, destacando a importância de conversas entre as partes envolvidas.
Zelensky rejeitou as tentativas de mediação e duvidou do real interesse do Brasil e da China em liderar as negociações de paz.
Em setembro de 2023, durante seu discurso na Assembleia Geral da ONU, Zelensky não poupou críticas às nações que, segundo ele, estavam apenas figurando como mediadores. Porém, sem de fato se comprometerem com uma resolução concreta do conflito.
Na ocasião, o presidente ucraniano disse que, embora alguns países, como o Brasil, afirmassem querer ajudar, suas ações e posicionamentos demonstravam uma falta de compromisso com o fim da guerra.
Lula, por sua vez, tem mantido a mesma postura diplomática, defendendo o diálogo como única solução viável para o conflito. O presidente brasileiro afirma que a paz só virá com negociações diretas entre as partes envolvidas.
Em diversas declarações, ele afirmou que o Brasil está disposto a colaborar com a mediação. Mas, também deixou claro, que a solução não passaria pela imposição de lados, mas sim pela construção de um consenso entre as potências envolvidas.
O futuro das relações Brasil-Ucrânia
A relação entre o Brasil e a Ucrânia parece ter se distanciado ainda mais após as declarações de Zelensky. Que deixam claro, no entanto, que a Ucrânia não conta mais com o Brasil para mediar o conflito.
A posição de Lula, muitas vezes vista como neutra, foi interpretada por Zelensky como falta de alinhamento com os interesses da Ucrânia. Especialmente, em relação às críticas ao envolvimento dos Estados Unidos e da União Europeia na guerra.
Enquanto isso, o Brasil segue reiterando que busca uma solução pacífica e diplomática, mas a postura de Zelensky reflete a frustração de uma parte significativa da liderança ucraniana. Assim, com a “falta de ação concreta” por parte de algumas nações, como o Brasil, em relação à resolução do conflito.
O episódio em Davos, portanto, marca um ponto de inflexão nas relações bilaterais, com a Ucrânia descartando qualquer possibilidade de mediação brasileira nos próximos passos da guerra.
Com a continuidade do conflito e a impossibilidade de um acordo imediato, as tensões internacionais só devem aumentar. E, assim, com o Brasil precisando lidar com a crescente pressão para se posicionar de maneira mais assertiva nas questões globais, especialmente no que tange à guerra na Ucrânia.