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“Fazendo uma analogia com um filme que você assiste em sua plataforma de streaming, estamos ‘pausados’ nesse ‘filme’ chamado economia brasileira, aguardando para dar o ‘play’ e continuarmos a vida”.
É assim que o professor e coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) classifica a economia brasileira atualmente.
O especialista afirma ainda que 2022 é um ano de transição, e enquanto não soubermos qual é o caminho a seguir, não podemos nos mexer, pois as reformas estruturantes ainda não saíram do papel. Ele diz ainda que teremos dificuldades na economia em 2023.
“Estamos com a inflação muito elevada, taxas de desemprego, apesar de estáveis, também bem altas, em pleno ano de eleições no âmbito federal e estadual. Se observamos os últimos dois anos, percebemos que conseguiremos recuperar o que perdemos, mas isso não é o bastante, pois não estamos crescendo. Esse é um ano mais curto, por ocasião das eleições, o que demonstra baixa ou nenhuma probabilidade de aprovarmos no âmbito Legislativo reformas que coloquem o Brasil numa retomada econômica agressiva”, diz.
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Como chegamos até aqui?
Ahmed diz que é possível listar alguns fatores que trouxeram o Brasil para a situação de deterioração econômica. O primeiro deles é a piora das contas públicas, como consequência da mudança na regra do teto de gastos, que provocou um desgaste da percepção de risco para os investidores, nacionais e estrangeiros, em relação ao Brasil.
“Esse cenário fez com que o real perdesse muito valor em relação ao dólar e contribuísse efetivamente (e infelizmente) para o aumento cada vez mais agressivo da inflação. Além disso, desde 2014, o Brasil não registra superávit primário, ou seja, não sobra dinheiro nas contas públicas, depois de pagar as despesas, para quitar os juros da dívida do governo. Com isso, o endividamento do Brasil se tornou elevado para uma economia emergente e passou a ser acompanhado de perto pelos investidores”, explica.
Por falar em inflação, esse é o segundo fator que contribuiu para a atual situação econômica.
“A inflação teve início com choques em preços de alimentos, combustíveis e energia elétrica, mas contaminou rapidamente toda a economia e já está em dois dígitos. Essa alta de preços obrigou o Banco Central do Brasil a aumentar a taxa básica de juros (SELIC), contribuindo com a paralisação da economia. A alta da SELIC é um dos fatores que esfriaram nossa econômica. O aumento da inflação para dois dígitos forçará o COPOM (Comitê de Política Monetária) a aumentar, de forma mais agressiva, a SELIC. Com essa tendência de alta da inflação e da SELIC, teremos menos consumo e desaceleração econômica. Esses dois fatores, são os principais problemas domésticos da nossa economia.”
O professor lembra também de um terceiro fator: o contexto internacional. As principais economias começaram a mexer na taxa de juros, a exemplo dos Estados Unidos, e isso contribui diariamente para a desvalorização do Real.
“Por fim, outro fator relevante e que influencia a economia há dois anos, é a corrida eleitoral, em especial a presidencial. Essa incerteza traz poucos movimentos relevantes para o país em 2022. As decisões de investimentos das empresas (novos investimentos ou expansão dos atuais) ficaram para 2023.”
Situação fiscal ruim
Na opinião do professor, um fator complicador é a particular e delicada situação fiscal do país.
“Apesar da melhora no resultado primário em 2021, pela primeira vez desde 2013, e da relação dívida/PIB ter baixado significativamente em relação aos níveis de 2020, a tendência é de uma situação muito mais complicada em 2022. Ainda que a economia se recupere em 2022, o aumento dos gastos públicos (principalmente pela alteração no teto de gastos), fará com que só tenhamos algum fôlego a partir de 2028. Esse nível de endividamento é o principal problema, uma vez que limita qualquer chance de crescimento real.”
Luz no fim do túnel
O especialista acrescenta ainda que restabelecimento de um quadro macroeconômico estável pode ajudar o país. A economia estará paralisada e a indústria bastante afetada pelos efeitos adversos dos últimos anos. O próximo governo vai ter um imenso desafio que é além da gestão da política econômica, uma vez que em 2023 colheremos os resultados ruins de decisões fiscais que foram tomadas.
“A estabilidade é o principal pilar do crescimento e condição essencial para o avanço de outros temas estruturais, pois a fragilidade econômica reduz o espaço para a negociação política. Como fazer isso de forma conjunta e permanente é a pergunta do milhão que deverá ser respondida pelo atual e próximo governos”, finaliza.
O especialista
Ahmed Sameer El Khatib: Doutor em Administração de Empresas, Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC/SP e graduado em Ciências Contábeis pela USP. Concluiu seu estágio pós-doutoral em Contabilidade na Universidade de São Paulo. É professor e coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e professor adjunto de finanças da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
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