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A cada ano, a catástrofe climática consequente do aquecimento global deixa de ser uma teoria e se aproxima da realidade. A questão protagonizou negociações internacionais ano passado durante a conferência das Nações Unidas realizada em Glasgow, na Escócia.
Em novos acordos, o Brasil e outras nações se propuseram a reduzir o desmatamento até 2030 e, pela primeira vez na história, a utilização de combustíveis fósseis.
Com efeito, está ainda mais nítida a alta pressão sob os governos para combater e minimizar as consequências do aumento da temperatura atmosférica em 1.5°C — que pode acontecer até 2040. Mas essa cobrança também se reflete no setor privado.
Por exemplo, o relatório Plastic Waste Makers revela que apenas 20 empresas são responsáveis por mais da metade do lixo plástico produzido ao redor do mundo. Um volume imenso que passa pelas fábricas de duas dezenas de companhias – é inacreditável! Mas, infelizmente, é verdade.
Essas são multinacionais, corporações como a norte-americana ExxonMobil que, sozinha, já fabricou aproximadamente 6 milhões de toneladas de plástico.
E como tudo isso é descartado? Que destino se dá ao material? A reciclagem é suficiente para reduzir os danos? Perguntas essas que devem ser feitas não apenas por pesquisadores e cientistas, mas por toda a sociedade.
No Brasil, adotar uma postura ética sobre o meio ambiente vem se tornando mais do que uma vantagem competitiva: é quase um requisito para a sobrevivência de um negócio. Segundo pesquisa da Aberje, a agenda ESG é prioridade para 95% das organizações no país.
Do inglês, o conceito de ESG está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU, com metas a serem cumpridas pelos próximos oito anos — até 2030.
Em essência, instituições que concordam em aderir à agenda ESG se comprometem a adotar uma postura ética frente a fatores ambientais, sociais e de governança, através de uma série de estratégias e soluções internas que reflitam o objetivo.
O fator ambiental representa como uma empresa reduz o impacto negativo. Além de zerar a emissão de carbono e a produção de resíduos, é preciso pensar em alternativas que conciliem a produtividade com a proteção dos recursos naturais.
A questão social, por sua vez, pretende valorizar clientes e funcionários através de políticas de diversidade, inclusão e segurança, mas também foca na relação da empresa com a comunidade. Já a governança representa boas práticas de gestão corporativa, principalmente quanto à ética e transparência.
Em um contexto em que as empresas são analisadas minuciosamente por stakeholders, soluções ESG indicam custos mais baixos, melhor reputação e maior resiliência em meio às imprevisibilidades do mercado — fatores essenciais na tomada de decisão dos investidores.
Estamos cientes do caos climático para o qual o mundo está se encaminhando há mais de meio século. Por isso, não basta cobrar lideranças globais e grandes empresas sem antes olhar para as políticas do próprio negócio, por menor que ele seja.
O real impacto se dará pelo coletivo. Não podemos esperar que apenas as maiores companhias transformem suas práticas. As PMEs podem e devem fazer a sua parte também.
Munido de ferramentas e justificativas, o mercado está pronto para equilibrar lucro e sustentabilidade ecológica. Mas será que essa consciência e as consequentes ações acontecerão a tempo de reverter os efeitos do aquecimento global?
Pedro Janot, 62, foi responsável por trazer a Zara ao Brasil e primeiro presidente da Azul Linhas Aéreas. Atualmente, é escritor, mentor de empresas, palestrante e sócio e conselheiro do Grupo Solum.
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