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A Americanas está enfrentando aquele que provavelmente será o maior escândalo da bolsa da decáda. A companhia iniciou seu “highway to hell” após informar o mercado que inconsistências bancárias revelarem um rombo de R$ 20 bilhões para empresa, e que pode até mesmo dobrar segundo algumas estimativas.
Segundo o já “ex-CEO” Sérgio Rial, a companhia cresceu muito rápido e, para se financiar – principalmente na operação digital –, a Americanas antecipava pagamentos para fornecedores contratando dívida com os bancos – uma operação comum, conhecida como “risco sacado”.
Nesse tipo de transação, o banco compra com deságio a dívida da empresa com o fornecedor. Depois de um prazo estipulado, a companhia tem que pagar o banco (e não mais o fornecedor).
Essas transações deveriam ter sido contabilizadas como dívida bancária, uma vez que a Americanas tinha que pagar ao banco, mas, segundo Rial, a dívida era contabilizada como “conta de fornecedores”.
“É como você pagar um produto de R$ 10 à vista por R$ 9 utilizando o dinheiro do banco, pagar o banco a prazo por R$ 9,50 e contabilizar apenas R$ 9. Isso é computado como se fosse uma dívida com o dono da loja do produto, e não com o banco — o que incorre em despesas de juros ao longo do tempo”, explica a analista de ações da Nord Research, Danielle Lopes.
Rial estima que os impactos dessas inconsistências sejam de R$ 20 bilhões, mas o mercado teme que a auditoria externa confirme uma alavancagem ainda maior.
Todo o entusiasmo dos operadores com os últimos dados se converteu em debandada e diversas dúvidas sobre o futuro da empresa.
Antes da notícia, os papéis da companhia vinham de 42% de valorização no período de um mês por conta do otimismo com a nova gestão, tocada por Rial.
Com queda de -77%, a Americanas perdeu R$ 8,4 bilhões em valor de mercado após rombo bilionário.
Victor Bueno, analista de Small Caps da Nord Research, acredita que, para aqueles que já estão posicionados nas ações, antes de vender é melhor aguardar por sinalizações mais concretas sobre o que vai ser feito pela companhia para contornar esse grande rombo bilionário.
Mas, ao mesmo tempo, não é momento para comprar novas ações ou abrir posição (para os que não são acionistas) em AMER3 apenas porque os papéis apresentaram essa grande queda ontem.
“É importante ressaltar que as oportunidades não surgem somente pela desvalorização de uma ação, mas sim pelo conjunto de fatores: bons fundamentos da empresa + preço adequado de seus papéis”, afirma.
Pensando a longo prazo, o foco do investidor deve ser em companhias resilientes e que podem continuar entregando crescimento apesar do cenário — ainda mais em um setor desafiador como o varejo no país.
Investidores da Nubank também sofreram com Americanas
A queda das ações da Americanas segue dando o que falar. O rombo de 20 bilhões de reais vem tirando o sono dos acionistas da varejista, mas também já começa a apresentar suas primeiras consequências a “terceiros”.
Os bancos foram rapidamente eleitos pelo mercado como as prováveis vítimas dos problemas contábeis da Americanas. o Citi avalia que o Santander (SANB11), BTG (BPAC11) e o Bradesco (BBDC3; BBDC4) são os mais impactados nos níveis de lucro líquido e patrimônio com o caso da Americanas SA (AMER3) que, na visão da casa, continua sendo mais um caso isolado do que uma tendência entre as empresas, o que faz com que o impacto seja limitado no setor bancário.
O impacto no lucro líquido para o nível de provisionamento é de 4,0% a 6,7% para o Santander; de 3,3% a 5,6% para o BTG; e de 2,9% a 4,9% para o Bradesco. Já o impacto no patrimônio é de 0,7% a 1,1% para Santander; de 0,6% a 1,1% para BTG; e de 0,4% a 0,7% para Bradesco. Para os analistas do Citi, um acordo com credores no prazo de 30 dias tem mais chance de ocorrer do que a declaração de falência da Americanas, “embora por meio de relações tensas com os bancos”.
No entanto, mesmo não estando diretamente exposto a contabilidade da Americanas, o Nubank também teve dor de cabeça com a movimentação.
Um dos fundos de investimento mais conservadores do Roxinho estava apostando nas ações da varejista. Com aplicação a partir de R$ 1, o Nu Reserva Imediata tinha quase 1% do seu patrimônio aplicado em debêntures da Lojas Americanas e da B2W em setembro do ano passado, de acordo com o último dado disponível. O fundo tem um patrimônio de quase R$ 2,6 bilhões e é vendido como um produto de baixo risco dentro da ferramenta “caixinha” (espécie de poupança oferecida pela fintech). Os papéis da Americanas, por sua vez, também eram considerados de baixo risco por agências de rating. Ao todo, o Nu Reserva Imediata tem 18,61% do patrimônio aplicado em debêntures.
O recuo fez com que o fundo passasse a ter um desempenho abaixo do CDI, o referencial perseguido. Nos seis últimos meses o Nu Reserva Imediata tem ganhos de 6,4%, enquanto o CDI tem alta de 6,69%. Até o dia 12, porém, os ganhos do Nu Reserva em seis meses eram de 7,39%, enquanto o do CDI de 6,63%. A rentabilidade negativa do produto provocou uma enxurrada de reclamações nas redes sociais, com os investidores questionando a perda com o fundo.
Procurado, o Nubank afirmou que cerca de 10% das “caixinhas” existentes têm recursos no Nu Reserva Imediata, que é uma das opções de fundo, com alta liquidez, baixo risco (grau de investimento), e que busca rentabilidade acima do CDI ao longo do tempo. ” O impacto de rentabilidade nesse fundo específico, causado pelo evento atípico de mercado, tende a ser amenizado ao longo do tempo pela estratégia de gestão do fundo”, disse em nota.
Acrescentou que, “na experiência oferecida para as Caixinhas, o Nubank oferece diferentes opções de investimentos aos clientes, de acordo com seus objetivos, o questionário de adequação do perfil de risco do cliente e aceite do termo de adesão”. A gestora de fundos de investimentos do Nubank, a Nu Asset Management, por sua vez, afirmou que o “fundo de renda fixa ‘Nu Reserva Imediata’ possui estratégia desenhada para ser uma opção de baixo risco e altíssima liquidez, e busca performance acima do CDI ao longo do tempo”.
Destacou ainda que o fundo de tem grau de investimento, “possui rentabilidade nominal positiva de 2,72% nos últimos 90 dias, e segue trajetória de rentabilidade de longo prazo, apoiada pela diversificação de investimentos”. A gestora acrescentou que ”a pequena parcela de investimento em debêntures das Lojas Americanas, historicamente avaliada como Triple A por diferentes casas de rating, já foi revista”.
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