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Qual a perspectiva da economia para o Brasil em 2023?

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As perspectivas da economia brasileira para 2023 são muito modestas e não está no horizonte uma recuperação mais forte nos próximos anos, segundo o coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Ahmed El Khatib.

“O crescimento do Brasil depende, em maior peso, de suas decisões internas. Em linhas gerais, a combinação de fatores internos e externos é que dará o tom do crescimento brasileiro em 2023. Acredito que, caso não resolvamos nossos problemas internos, patinaremos ainda que os demais países entrem em recessão”, opina o professor universitário.

Ahmed lembra que o novo governo federal pretende estimular o crescimento econômico aumentando o investimento público em infraestrutura e energia, aumentando os salários e promovendo uma política industrial liderada pelo Estado. A intenção não é espremer os investidores privados, mas buscar um melhor equilíbrio entre o Estado e o mercado após quatro anos de forte redução do investimento público no governo anterior.

“Mas, com a dívida pública em níveis perigosamente elevados, o atual governo enfrenta um trilema: precisa aumentar os gastos sem aumentar os impostos a ponto de prejudicar a atividade econômica e não pode permitir que os níveis da dívida pública saiam do controle. A única forma de manter esse difícil equilíbrio é por meio do crescimento econômico, o que sugere que o atual governo precisa de um cenário global favorável”.

2023 TRARÁ DESACELERAÇÃO 

Sob o impacto da política monetária apertada, o ritmo de expansão da atividade econômica em outubro e novembro dá sinais de arrefecimento na indústria e nos serviços. O mercado de trabalho, por sua vez, segue em trajetória positiva, marcado pela queda da taxa de desocupação e, mais recentemente, pela recuperação dos rendimentos; o crescimento da massa salarial real também corrobora o quadro positivo do mercado de trabalho.

“A desaceleração externa deverá afetar negativamente o Brasil, mas a situação do país é diferente da observada na maioria dos países desenvolvidos e em muitos emergentes. O ciclo de aperto monetário, iniciado há um ano e meio pelo Banco Central do Brasil (BCB), parece já ter terminado, e a discussão passa a se concentrar em quando o BCB poderá iniciar a redução da Selic. A inflação está em queda, bem como suas previsões; o nível de atividade vem surpreendendo positivamente e as projeções de crescimento para 2022 vêm sendo revistas para cima”.

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No entanto, as previsões de crescimento para 2023 foram revisadas para baixo devido a preocupações com o impacto de altas taxas de juros, incerteza fiscal e a desaceleração global mais ampla. Ao analisarmos esses elementos, externos e internos, vemos uma forte desaceleração da economia brasileira em 2023.

“Acredito que o crescimento para 2023 não passará de 1%. Acredito nesta tese, pois o contexto de desaceleração global nos afeta diretamente. Acredito ainda que o desemprego cairá nos próximos 12 meses, mas em um ritmo mais lento do que em 2022, provavelmente terminando 2023 entre 8% e 9%”.

JUROS E INFLAÇÃO 

Enquanto o setor do agronegócio continua forte e o desemprego caiu para cerca de 9%, o nível mais baixo em sete anos, a economia está tendo que digerir uma série de aumentos de juros com o objetivo de domar a inflação. As elevações da alíquota para o nível atual de 13,75% pesam no crescimento ao limitar o consumo do consumidor e o investimento das empresas.

“Há sinais claros de que o crédito está ficando mais escasso e caro. Com taxas de juros muito altas, podemos esperar que o consumo desacelere muito rapidamente. A economia também continua prejudicada por profundas ineficiências estruturais, baixos salários e uma tendência de longo prazo para a desindustrialização”.

POLÍTICA FISCAL DO GOVERNO 

“Uma preocupação fundamental que não podemos esquecer é como o governo atual aborda a política fiscal. Em campanha, foi prometido aumentar os gastos com programas de assistência social, dizendo aos eleitores que ‘a roda da economia vai girar com os pobres fazendo parte do orçamento’ e isso se dará não respeitando o teto de gastos do país”.

O professor acrescenta que um estouro no teto de gastos fará com que investidores saiam do Brasil se a relação dívida/PIB do país – agora em quase 80% – começar a subir esse ano, enfraquecendo ainda mais a taxa de câmbio e alimentando a inflação. Isso, por sua vez, forçaria o banco central a manter as taxas mais altas por mais tempo, restringindo ainda mais o crescimento.

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INFLUÊNCIA DO CENÁRIO INTERNACIONAL 

Segundo o professor universitário, não podemos falar de Brasil sem mencionar a conjuntura internacional. O quadro mundial continua piorando, com inflação alta, juros em elevação e desaquecimento do nível de atividade.

“A inflação é um fenômeno global, todos os países estão sofrendo com os índices de preço. O Brasil está conseguindo conter a inflação porque, além das medidas do governo federal, a política de juros começou a subir a Selic bem mais cedo e a alta foi rápida”.

Assim como a invasão da Ucrânia foi um dos gatilhos da forte alta dos preços dos combustíveis e fertilizantes em 2022, uma possível escalada do conflito em 2023 pode desestabilizar a política econômica do Brasil em um momento bastante delicado, quando o novo governo estará focado em desenhando uma nova âncora fiscal e consolidando uma nova estratégia para a petrolífera estatal Petrobrás.

“Um aumento repentino no preço da gasolina pode levar a cortes de impostos sobre os combustíveis, com impacto negativo nas finanças do governo, e pode aumentar a pressão política por uma intervenção mais agressiva na política de preços da Petrobras. Fiel à sua tradição diplomática, o Brasil continuará evitando impor sanções à Rússia, mas não escapará das consequências econômicas da guerra”.

FATORES POSITIVOS 

O Brasil foi o terceiro maior receptor de investimento estrangeiro direto no primeiro semestre de 2022, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. O Brasil também deve receber maiores investimentos devido aos países que buscam cada vez mais substituir o off-shoring em países como a China por localidades amigáveis, selecionando parceiros politicamente alinhados ou neutros para fazer negócios.

“Em comparação com outros mercados, o quadro macroeconômico para o Brasil em 2023 é relativamente positivo. Lula herdará uma economia que começou a se recuperar da pandemia de Covid e que deve apresentar crescimento em 2022. Isso está abaixo da projeção do FMI para o crescimento do PIB global em 2022, mas está à frente de várias nações desenvolvidas e em desenvolvimento. Por outro lado, a inflação em 2022 foi relativamente pequena, com o Brasil sendo o quarto menor de todos os países do G20 entre janeiro e setembro de 2022”.

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O Brasil pode ainda estar mais bem posicionado do que muitos países emergentes para aproveitar as oportunidades apresentadas pelas tendências geopolíticas de 2023. Os preços da energia devem ser elevados, juntamente com os dos produtos agrícolas — e o Brasil se beneficia por ser produtor de ambos. Um cenário geopolítico desafiador também sugere que a tendência de proximidades com outros países deve continuar, o que pode criar oportunidades para o Brasil, dependendo do mix de políticas do governo.

El Khatib afirma que temos vários riscos e desafios para 2023. O mais importante deles é o risco de ondas de choque da inflação. O aumento repentino dos preços dos combustíveis e alimentos no ano passado foi um fator importante para o declínio da popularidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Em 2023, o governo terá que lidar com os efeitos secundários dessa onda inflacionária global. O Banco Central do Brasil respondeu cedo e agressivamente ao aumento dos preços, empurrando as taxas de juros para dois dígitos, o que é um mau presságio para o crescimento em 2023, mas sugere que as taxas de juros podem cair mais rapidamente do que em outros países graças a essa ação antecipada. Mas, como os bancos centrais de muitas economias industrializadas responderam tarde ao desafio da inflação, as condições financeiras globais permanecerão apertadas durante a maior parte de 2023. Isso não é um bom presságio para economias de mercados emergentes mais endividadas, como o Brasil. Nesse contexto, o custo da irresponsabilidade fiscal será alto”, finaliza o docente.


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