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Engana-se quem pensa que só os grandes players do mercado aproveitaram a queda para lucrar (ou evitar prejuízo). Um pouco antes do comunicado ao mercado que revelou a bomba da Americanas para investidores, uma movimentação atípica chamou a atenção do mercado.
A suspeita ganhou mais força porque a operação aconteceu no apagar das luzes do pregão, pouco após às 17h: a ordem de uma put (venda à descoberto do papel) de 917.100 ações usando a plataforma da XP.
Os shorts selling”, (ou vendas em descoberto como conhecido no Brasil) representa um método de investimento busca priorizar desvalorização de ações.
Em resumo, a venda em descoberto consiste em “emprestar” ações e depois vende-las.
Para entender como essa venda aposta na desvalorização das ações é preciso entender como funciona esse “empréstimo”. Um investidor “aluga” uma ação que ele não possui em sua carteira, e a vende.
Pessoalmente, gosto de visualizar essas informações em números para entender melhor, então segue um exemplo:
Um investidor “aluga” um ativo de 10 dólares e o vende por esse valor, contudo, o pagamento desse “aluguel” é realizado posteriormente, quando o investidor é obrigado a comprar novamente a ação e devolvê-la ao credor original. Neste momento, se o preço da ação for menor que os 10 dólares iniciais, digamos que 6 dólares, o investidor que vendeu em descoberto lucrou 4 dólares.
Por isso, é possível aos investidores apostarem na desvalorização de determinados ativos, essa prática é bem comum na bolsa americana. No entanto, como se trata de uma situação de alto risco, é recomendada apenas para investidores mais arrojados e experientes.
Em poucos minutos, uma única ordem com um volume nove vezes superior à media negociada no mesmo dia. Esse foi o volume conseguido na contraparte, pois o pedido era de 1,2 milhão de ações. Até às 18h32, quando a central de sistemas da CVM disponibilizou publicamente o documento oficial da empresa, não havia motivos para essa movimentação atípica com a ação da Americanas. Ou não deveria existir. O valor da operação de R$ 331.922 jogava a ação para a casa dos R$ 2,77.
Para um papel que fechou o dia cotado a R$ 12, a desvalorização passava dos 75%. “A expectativa é um lucro de 15 vezes esse valor”, diz uma fonte de mercado, citando a possibilidade de um retorno de mais de R$ 5 milhões em uma noite. Para os tubarões de mercado, alguns milhões a mais na carteira podem não fazer muita diferença.
Mas no caso de um investidor pessoa física, esse retorno é condizente com qualquer vídeo distribuído nas redes sociais que vende o sonho da riqueza instantânea no mercado de capitais. “Foi tudo muito atípico, o horário… É difícil julgar, mas tem indícios de uso de informação privilegiada”, diz um operador de mercado.
O que aconteceu?
O ex-CEO da Americanas, Sergio Rial, que renunciou após nove dias no cargo e revelou a discrepância de R$ 20 bilhões no balanço da companhia, informou a investidores que a empresa terá que republicar resultados financeiros de trimestres anteriores. E que a prática contábil que originou o problema de R$ 20 bilhões, conhecida no mercado como “risco sacado”, era usada há muito tempo, remontando talvez a até 10 anos.
Nesse tipo de transação, o banco compra com deságio a dívida da empresa com o fornecedor. Depois de um prazo estipulado, a companhia tem que pagar o banco (e não mais o fornecedor).
Essas transações deveriam ter sido contabilizadas como dívida bancária, uma vez que a Americanas tinha que pagar ao banco, mas, segundo Rial, a dívida era contabilizada como “conta de fornecedores”.
“É como você pagar um produto de R$ 10 à vista por R$ 9 utilizando o dinheiro do banco, pagar o banco a prazo por R$ 9,50 e contabilizar apenas R$ 9. Isso é computado como se fosse uma dívida com o dono da loja do produto, e não com o banco — o que incorre em despesas de juros ao longo do tempo”,
Explica a analista de ações da Nord Research, Danielle Lopes.
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