
A promessa era de desenvolvimento, empregos e crescimento econômico. Com US$ 1,3 bilhão aportados pela China, a pequena cidade de Chancay, no Peru, deveria se tornar uma potência portuária na América Latina.
Mas, na prática, o que antes era uma vila tranquila de pescadores virou palco de violência. Hoje, os moradores relatam viver sob ameaça constante de gangues, extorsões e homicídios, em um cenário que lembra mais o caos urbano do que a prosperidade anunciada.
O projeto bilionário
O megaporto foi financiado pela estatal chinesa Cosco Shipping e apresentado como um marco de integração do Peru ao comércio global. A obra alterou completamente a paisagem de Chancay, antes caracterizada pela pesca artesanal e vida comunitária pacífica.
A cidade recebeu guindastes, navios cargueiros e milhares de trabalhadores, mas o crescimento acelerado expôs vulnerabilidades locais. O fluxo de dinheiro e pessoas atraiu também o crime organizado, que encontrou espaço para se instalar e dominar atividades cotidianas.
O contraste é gritante: enquanto as promessas falavam em oportunidades, a população agora convive com medo de sair de casa ou até mesmo de manter seus negócios.
A escalada da violência
Nos últimos meses, as estatísticas dispararam. Casos de extorsão aumentaram quase 25% em relação ao ano passado, ultrapassando 900 registros somente até agosto. Homicídios também cresceram e a província de Huaral, onde está Chancay, passou a figurar entre as mais violentas do Peru.
Relatos locais descrevem invasões armadas, ameaças a comerciantes e mototaxistas coagidos a pagar propina para continuar trabalhando. Até restaurantes e pequenas lojas passaram a receber ligações de grupos criminosos exigindo pagamentos em troca de “proteção”.
A mudança foi tão brusca que muitos moradores afirmam não reconhecer mais a cidade onde viviam em paz.
Impactos sociais e ambientais
Além da insegurança, o megaporto trouxe outros efeitos colaterais. A pesca, principal atividade tradicional, sofreu com alterações no ecossistema marinho provocadas pela construção. Pescadores relatam queda na oferta de peixes e perda de renda.
O turismo local também foi afetado. Espaços que antes recebiam famílias e visitantes agora convivem com a imagem de violência, o que reduziu o movimento em bares, restaurantes e áreas de lazer.
O que deveria ser um motor de desenvolvimento acabou se tornando um símbolo de desordem e desequilíbrio, colocando em xeque os benefícios reais de megaprojetos sem planejamento social.
O dilema de Chancay
Autoridades locais defendem que medidas de segurança estão sendo tomadas, mas especialistas alertam que o problema vai além do policiamento. O caso mostra como grandes investimentos estrangeiros, sem contrapartidas sociais e institucionais, podem fragilizar comunidades.
Chancay virou exemplo de como promessas de prosperidade podem se transformar em armadilhas, deixando populações vulneráveis. A pergunta que fica é: quem realmente ganhou com a chegada do megaporto?
Enquanto isso, os moradores seguem convivendo com a incerteza de viver em uma cidade que foi vendida como o futuro, mas que hoje respira medo.
Principais pontos
- Investimento chinês de US$ 1,3 bilhão transformou Chancay em polo portuário, mas também em alvo do crime.
- Casos de extorsão e homicídios dispararam, deixando a população sob controle de gangues.
- Promessa de prosperidade virou sinônimo de medo, afetando pesca, turismo e vida social.