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Com a queda da inflação e o discreto aumento do poder de compra do brasileiro, os investidores ganharam uma nova perspectiva de retorno, com possibilidades em capital aberto e startups. As empresas que conseguiram ultrapassar o período da crise e escalar receita passaram a receber novos aportes desde o final de 2023 – ano de transição após grande volume de investimentos seguido de queda brusca e desconfiança do mercado.
Para além de simples apostas, alguns setores ganharam maior visibilidade, devido ao retorno mais expressivo de crescimento e perspectivas de aceleração para 2024. Destaco cinco segmentos:
Financeiro
As fintechs, como bancos digitais e empresas que realizam empréstimos e demais transações financeiras, são as organizações que mais recebem aporte dentro e fora do Brasil, tendo ainda como grandes exemplos o Nubank e Nomad por aqui e estrangeiras como Stripe. O Itaú Unibanco, avaliado em US$ 7,4 bilhões, é a instituição que mais cresce no setor financeiro em todo o mundo. Apesar da queda no valor de mercado, acarretada pela adequação dos valuations, muito inflados até o ano de 2021, essas empresas continuam escalando a carteira de clientes.
Saúde
Atrás apenas das fintechs, o setor da saúde é o segundo que mais recebe investimento no Brasil e no mundo, reflexo da pandemia e de novos surtos de doenças, como dengue e influenza. Laboratórios e farmacêuticas viram seu valor de mercado mais que triplicar, com grande destaque para empresas produtoras de vacinas contra a covid-19 e dengue, como Pfizer, AstraZeneca e Takeda. Além dos imunizantes, o grande destaque é a europeia Novo Nordisk, produtora do medicamento antidiabético Ozempic, que ganhou escala após repercussão na mídia. No Brasil, o investimento em healthtechs teve discreto aumento, com aportes menores, porém mais frequentes que no ano anterior, com destaque para a startup Amigotech, que recebeu R$ 160 milhões do fundo Riverwood em janeiro de 2024, e a Sami, que captou R$ 90 milhões no final de 2023.
Odontologia
O Brasil é o país que mais gasta dinheiro com saúde bucal em todo o mundo, liderando o mercado que movimenta mais de US$ 85 bilhões por ano. Com a queda da patente da empresa Invisalign, startups passaram a ofertar alinhadores ortodônticos com a mesma tecnologia, como é o caso da Comfort Aligner, que recebeu investimento da empresária Carol Paiffer no Shark Tank Brasil e atingiu a marca de 1,3 mil clínicas, ofertando o serviço no Brasil. Além disso, em março de 2024, foi lançada a primeira venture builder de odontologia do Brasil, a Health Angels Venture Builder, para investimento no setor.
Educação
Com 203 milhões de habitantes, o Brasil caiu duas posições no índice de desenvolvimento humano, na última análise feita pela Organização das Nações Unidas (ONU) referente ao ano de 2022, reflexo do distanciamento na qualidade de vida entre as parcelas da população com mais e menos recursos. O índice leva em consideração fatores como renda, escolarização e esperança de vida. Portanto, as startups de educação que visam ao aumento da informação e do acesso tendem a receber maiores investimentos do mercado e incentivo público. Empresas que atuam na educação básica e na escolarização de crianças neurodivergentes vêm recebendo maiores atenções nos últimos anos, como a startup Rotina Divertida e a empresa de saúde do Rio de Janeiro Jano Saúde, complexo de atendimento para crianças com Transtorno do Espectro Autista.
Varejo
Depois de um período de transição em 2022 e 2023, com grande desconfiança do mercado e da queda do consumo, o setor do varejo voltou a crescer em 2024, com aumento de 2,5% em janeiro e perspectiva de 1,9% de crescimento no primeiro trimestre. Já mirando o retorno do setor, a família Trajano e o banco BTG, detentores de grande parte das ações da Magazine Luiza, iniciaram o ano com uma injeção de R$ 1,25 bi na companhia, para a digitalização da empresa e investimento em marketing.
Sendo assim, startups que atuam no varejo, com registro de estoque, estratégias de financiamento e criação da jornada digital do cliente tendem a receber maiores investimentos, ou até mesmo serem adquiridas por gigantes varejistas. Um exemplo desse movimento se volta à startup Proffer, que recebeu aporte de R$ 3 milhões, e a Visio.ai, que utiliza visão computacional e IA para acelerar a rentabilidade do varejo físico, completando sua rodada seed com R$ 12 milhões.
Alguns outros setores também cresceram de forma expressiva no Brasil, como o agronegócio, estabelecendo a liderança do país nas exportações de diversos produtos e insumos, e a mineração, com Petrobrás e Vale mantendo posições entre as empresas mais valiosas do país, com ações comercializadas em capital aberto.
O ano de 2024, portanto, é um período de altas expectativas de retorno, visto por especialistas do mercado financeiro como o momento de retomada. Contudo, ainda é necessário cautela, com consciência na escolha do setor a ser investido, tendo como base de avaliação o perfil de risco do investidor e as análises do mercado, que podem sofrer alterações devido a diversos fatores, como oferta de insumos, combustíveis e até mesmo conflitos internacionais. Lembrando ainda que este ano é marcado por eleições presidenciais em países europeus, nos Estados Unidos e na Rússia, com importante reflexo na economia mundial e na geopolítica.
*Rafael Kenji Hamada é médico, CEO da FHE Ventures e da Health Angels Venture Builder, fundos de investimento no formato de venture builder, com tese em saúde e educação.
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