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O agravamento da crise entre a Rússia e a Ucrânia e as iniciativas diplomáticas que estão em curso

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Por: Márcio Florêncio Nunes Cambraia

A situação de tensão provocada pelo posicionamento de tropas russas na fronteira com a Ucrânia e também na Bielorrússia transformou-se em impasse, com a radicalização de posições das partes envolvidas.

De um lado, a Rússia continua a exigir que a OTAN abra mão formalmente de ter a Ucrânia como membro e, de outro, a Aliança Atlântica reafirma que, como país soberano, a Ucrânia deve decidir sobre sua participação em alianças militares.

As negociações diplomáticas conduzidas pelos americanos com os russos não apresentam avanços, e ademais tem provocado ressentimentos entre os europeus, que se sentem à margem da iniciativa diplomática. Em relação às sanções ameaçadas pelos EUA, os europeus divergem sobre quais seriam os fatos capazes de provoca-las. Dever-se-ia considerar um ataque maciço, ou apenas atos mais graves de desestabilização. O Presidente francês, que declarou no Parlamento Europeu que a Europa deve ter seu próprio plano em relação à Rússia, teve suas ideias mitigada por diplomatas da UE que lembram a necessidade de coordenação. Depois disso, o presidente da França tem dedicando-se a uma ação diplomática própria e busca conseguir a diminuição do dispositivo militar russo na fronteira. Paralelamente, o campo ocidental continua a reforçar a capacidade defensiva da OTAN, inclusive com o envio de contingentes militares, embora ainda simbólicos, para a Polônia, Romênia e Alemanha. Movimentações de tropas ocidentais nesse momento devem ser vistas sob o prisma do fato de que a Ucrânia não é membro do mecanismo de segurança coletiva da Aliança Atlântica e de que há, na sociedade americana uma grande resistência ao envio de tropas para combate no exterior, ou seja, não deseja “boots on the ground”.

Note-se ademais que a Alemanha é o país menos entusiástico no que diz respeito à contenção russa, tendo em vista sua grande dependência energética direta da Rússia. No caso do Reino Unido, entretanto, o entusiasmo é grande, mas prejudicado pela difícil posição política interna do Primeiro Ministro Boris Johnson. O Governo russo considera que seu interlocutor são os EUA e tem desqualificado tanto a França quanto o Reino Unido. Em outra vertente das iniciativas diplomáticas tivemos a convocação pelos Estados Unidos, de sessão do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Embora com grande repercussão, deve-se lembrar que qualquer resolução do Conselho não tem eficácia contra um de seus membros, devido ao poder de veto de que são titulares.

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De grande importância geopolítica foi o encontro entre os Chefes de Estado chinês e russo no qual reafirmaram seu alinhamento contra ameaças à segurança em seus entornos, firmaram acordo de fornecimento energético da Rússia para a China, que também deve apoiar a resistência russa contra as sanções. Trata-se de acordo de interesse mútuo com a Rússia obtendo mercado alternativo à Europa e a China garantindo fonte de suprimento. Embora tenham tido graves desentendimentos ideológicos nas décadas de 1950 e 1970, além de escaramuças fronteiriças em 1969, as duas potencias têm chegado a uma aproximação efetiva, inclusive com a realização de exercícios navais conjuntos. A China, caminhando na direção de ser uma superpotência rival dos EUA, tem se reforçado militarmente, mas com atitude internacional cautelosa, querendo consolidar-se antes de enfrentar frontalmente os americanos. Mesmo com uma posição de prudência, não deixará de se aproveitar da oportunidade que a Rússia oferece ao mobilizar tropas na fronteira ucraniana.

Tendo em vista que a Rússia tem como objetivo básico a afirmação de seu “status” no cenário internacional, pode-se considerar que já obteve ganhos expressivos com a consideração com que tem sido tratada nas atuais negociações diplomáticas. Ademais, como têm reafirmado que não tem intenção de invadir a Ucrânia, um recuo, como a desmobilização de suas tropas na fronteira, poderá ser mostrado como um gesto de boa vontade e não uma derrota. E observe-se que a exigência da não expansão da OTAN poderá ser deixada para o futuro, sem prejudicar a atual posição de potência reconhecida no concerto mundial. Além de invasão maciça, custosa na manutenção da ocupação em país de 40 milhões de habitantes como a Ucrânia, outros cenários envolvem ataque direto à capital Kiev, ataque parcial em área fronteiriça, operação “false flag” na região de Donbass.

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Em qualquer dos cenários, menos na desmobilização das tropas russas, as consequências energéticas da crise já afetam o mercado global.

Em relação ao Brasil, devemos manter posição equidistante, pois temos boas e fluidas relações com as partes. A visita do Presidente brasileiro à Rússia, importante fornecedor de fertilizantes e parceiro no BRICS , está em curso e é oportunidade para se fazer apelo à paz e à moderação, que tem caracterizado a política externa equilibrada e ampla do Brasil.

Márcio Florêncio Nunes Cambraia é embaixador e especialista da Fundação da Liberdade Econômica


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