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Brasileiros estão investindo em combustível sustentável no exterior

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  • Battistella estabeleceu 2027 como o ano estimado para iniciar a produção de combustível sustentável de aviação e diesel verde
  • “O Brasil está uma década atrasado no desenvolvimento de combustíveis do futuro”
  • Em março, a Câmara aprovou o projeto de lei “Combustível do Futuro”, resultado, portanto, de articulação entre agronegócio e setor de energia. Prioritário para o governo, visa, dessa forma, estimular combustíveis sustentáveis.

O presidente da Be8, Erasmo Battistella, estabeleceu 2027 como o ano estimado para iniciar a produção de combustível sustentável de aviação (SAF) e diesel verde. Estes, cruciais para a redução das emissões de carbono no setor de transporte global. No entanto, a produção ocorrerá no Paraguai, não no Brasil.

A empresa de Batistella está destinando um investimento de US$ 1 bilhão (equivalente a R$ 5,1 bilhões) para a construção de uma usina localizada em uma zona franca, a aproximadamente 30 km de Assunção. A empresa direcionará a unidade principalmente para exportação, escolhendo essa localização devido aos custos mais baixos de mão de obra e energia. Além dos benefícios fiscais proporcionados pela isenção de impostos.

Segundo o empresário, “o Brasil está uma década atrasado no desenvolvimento de combustíveis do futuro”, devido à falta de investimento em pesquisas e de incentivos públicos nos últimos anos. No entanto, ele reconhece que as discussões em Brasília em torno do Projeto de Lei do Combustível do Futuro finalmente começaram a avançar em 2023.

Produção sustentável

No Brasil, os primeiros estudos para a produção de combustível sustentável para aviação e navegação marítima começaram em 2014. Enquanto isso, nos EUA, desde 2008, o governo liberou recursos para estimular pesquisas na área. O governo de Joe Biden estabeleceu um subsídio de US$ 1,25 por galão (3,8 litros) de SAF para combustíveis que reduzam em pelo menos 50% as emissões de gases de efeito estufa.

O SAF pode ser produzido a partir de óleos vegetais e animais, como dendê, milho ou soja. A oferta abundante de matéria-prima e a experiência do Brasil com o etanol o colocam entre os países com maior potencial para explorar o produto. No entanto, a falta de incentivos públicos e o atraso na criação de um arcabouço regulatório no país levam empresários a buscar oportunidades em outros mercados.

“Está claro que o assunto ganhou prioridade (pelo governo). Finalmente estamos vendo avanços, mas, como estamos dez anos atrasados, precisamos acelerar muito. O tempo vai passar e, se não corrermos, o Brasil vai ter de importar SAF em 2027 (ano em que empresas aéreas terão de começar a reduzir suas emissões de gases poluentes em voos internacionais)”, diz Erasmo.

Em março deste ano, a Be8 obteve financiamento de R$ 729,7 milhões do BNDES para construir uma fábrica de etanol e farelo. Assim, a partir do processamento de cereais em Passo Fundo (RS). Porém, a produção de SAF no Brasil, que exigiria um investimento maior, ainda não possui um projeto concreto.

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Bernardo Gradin, outro brasileiro envolvido no desenvolvimento de biocombustíveis no exterior, destaca que o Brasil tem a oportunidade de suprir a demanda europeia e eventualmente a americana por combustíveis do futuro. Apesar do atraso na definição da regulamentação no país, há um alinhamento entre empresários e governos em relação à direção a ser seguida.

A Granbio, empresa de Gradin, recebeu uma subvenção de US$ 80 milhões do governo americano para construir uma planta de demonstração de SAF nos EUA. A companhia está buscando mais US$ 150 milhões para desenvolver o projeto, que tem previsão para iniciar suas operações em 2026.

“O subsídio é importante na fase pré-comercial, em que você testa a tecnologia. Hoje, até temos subsídios no Brasil, mas, quando começamos o projeto, não havia um programa tão articulado aqui como nos EUA”, cita o empresário.

“A Europa desenhou um programa de descarbonização há muito tempo. Isso é essencial para a transição energética. Se não se sabe quanto custará emitir (gases poluentes), não tem como desenvolver projetos. Nesse aspecto, não temos no Brasil ainda um sistema maduro para atrair investimentos”, complementa.

Outras opiniões

Gonçalo Pereira, professor do Instituto de Biologia da Unicamp e especialista no assunto, alerta para o risco de o Brasil se tornar apenas um exportador de etanol, uma das matérias-primas do SAF, para países que produzem o combustível. Empresas como a Raízen já têm contratos para fornecer etanol a fabricantes de SAF na Europa.

“A competição com os EUA é completamente fora de propósito. Qual o nosso risco? E é o que está acontecendo – o pessoal vai produzir no Brasil etanol carbono negativo e exportar para os EUA”, indica o professor.

Segundo Gonçalo Pereira, é essencial uma colaboração entre empresas e governo para produzir SAF a partir de etanol no Brasil. Ele destaca, contudo, a necessidade de o BNDES fornecer recursos e de um consórcio de empresas produtoras de etanol liderar a iniciativa, com apoio financeiro do governo. Pereira destaca a necessidade de articulação para a primeira produção de SAF ser pré-competitiva, liderada por um consórcio empresarial.

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Cristina Reis, subsecretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Ministério da Fazenda, destaca o desafio do Brasil diante dos grandes investimentos nos EUA e China. No entanto, o país busca novas fontes de financiamento e assume protagonismo no debate dos biocombustíveis.

“Nós temos, sim, vantagens competitivas em rotas tecnológicas e isso pode criar oportunidades de complementaridade nas cadeias de valor. O Brasil tem claras vantagens com energias renováveis, não só pela nossa insolação ou pelos nossos ventos, mas também por já termos avançado em algumas tecnologias anteriormente como os biocombustíveis. Falando de biocombustíveis, é um senso comum de que o Brasil tem grande potencial em biodiesel, diesel verde, hidrogênio e SAF”, afirma a subsecretária da Fazenda.

“Entendo que existe vontade política muito grande de fazer acontecer o SAF no Brasil. O BNDES está empenhado, o Ministério de Minas e Energia também. Ainda que não tenhamos recursos comparáveis aos dos Estados Unidos, temos vantagens competitivas e estamos buscando atrair investimentos nacionais e internacionais”, complementa Cristina.

Em março, a Câmara aprovou o projeto de lei “Combustível do Futuro”, resultado de articulação entre agronegócio e setor de energia. Prioritário para o governo, visa estimular combustíveis sustentáveis.

“O projeto do Combustível do Futuro interessa a todos: às grandes cidades, que precisam reduzir suas emissões, ao transporte pesado… Mas, enquanto não tivermos o marco regulatório, vamos ter no País apenas projetos marginais”, acrescenta o empresário Erasmo Carlos Battistella, defendendo as linhas de financiamento para o setor e obrigatoriedade de mistura de SAF ao querosene de aviação.

O texto aguarda aprovação pelo Senado, com previsão de votação na Comissão de Infraestrutura do Senado para o mês de maio.

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