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Após a fusão em fevereiro, Arezzo (ARZZ3) e Soma (SOMA3) perdem R$ 2,5 bi em valor de mercado. Analistas apontam ceticismo sobre vendas cruzadas e desempenho negativo no 4T23 como possíveis fatores. Meses atrás, anunciaram a fusão, com a Arezzo&Co assumindo controle majoritário com 54% das ações. Negociações iniciaram em janeiro, com CEOs das empresas liderando a nova entidade.
Após a “euforia inicial” da fusão entre Arezzo&Co e Grupo Soma, as empresas de moda têm enfrentado dificuldades em persuadir os investidores sobre os benefícios do negócio.
Quando anunciada em fevereiro, a Arezzo tinha um valor de mercado de R$ 6,97 bi, enquanto o Soma valia R$ 6,05 bi. No entanto, atualmente, apesar de ter se expandido consideravelmente, a Arezzo está avaliada em R$ 5,7 bilhões. Por sua vez, o Soma, após a incorporação, perdeu quase 20% de seu valor de mercado, totalizando R$ 4,85 bilhões.
Investidores atribuem essa desvalorização a dúvidas sobre a capacidade de integração das empresas. Além das preocupações com o desempenho da Hering (adquirida pelo Soma em 2021) e o endividamento da nova entidade.
Quase três anos após adquirir a Hering, o Grupo Soma está avaliado em menos do que pagou pela empresa em 2021. Em abril daquele ano, o Soma desembolsou R$ 5,1 bilhões pela concorrente, visando formar uma “house of brands“. Desde então, o valor de mercado do Soma caiu quase 60%.
Considerada uma aquisição cara, a Hering foi alvo de uma tentativa de compra 11 dias antes pela Arezzo, que ofereceu R$ 3,2 bilhões. No entanto, a oferta maior do Soma surpreendeu a Arezzo.
Em uma reviravolta típica do mundo da moda, em fevereiro deste ano, a Arezzo, no entanto, acabou incorporando o Soma. As dúvidas que pairavam sobre a Hering acabaram afetando indiretamente a Arezzo.
Há razões para desconfiança?
No relatório, Thiago Macruz, responsável pelo time de análise de varejo do Itaú BBA, destaca três principais razões para a desconfiança dos investidores: preocupações sobre a complexidade da integração, com base em fusões e aquisições anteriores no varejo; ceticismo em relação ao potencial de venda cruzada entre as marcas, especialmente devido à possibilidade de canibalização; e, ainda, o impacto negativo dos resultados do 4T23.
Macruz considera, portanto, improvável que a companhia resultante enfrente um processo de integração complexo, devido ao modelo de negócio descentralizado. Apesar da fusão, os gestores de cada marca permaneceram em suas posições.
A mudança mais significativa foi Alexandre Birman, CEO da Arezzo&Co, assumir a gestão da Hering, devido à “semelhança da estrutura da marca” de calçados com a da fabricante de roupas. A expectativa é que os problemas operacionais identificados na Hering e parcialmente resolvidos pelo Soma tenham mais chances de serem solucionados.
O caso “Soma e Hering” é destacado como um dos mais emblemáticos entre as compras controversas de varejistas, gerando, contudo, receio entre os investidores. Além das questões operacionais, a lucratividade da Hering estava vinculada a subsídios fiscais significativos. Com o término desses benefícios, a empresa registrou um impairment de R$ 1,9 bilhão em seu valor intangível, afetando seus ativos não físicos.
“Não há efeito no caixa da companhia, mas no resultado. Assim, todo ano, quando se projeta o futuro, a empresa vale menos”, afirmou Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).
Eduardo afirma, contudo, que é comum que muitas empresas adquiridas em momentos de euforia, cujo valor é baseado em grande parte em ativos intangíveis, enfrentem esse tipo de ajuste.
Ainda para Terra, independentemente do valor de mercado das companhias, a fusão das duas é promissora.
“A tese foi muito bem apresentada, especialmente no que diz respeito a sinergias e ganhos internacionais”, afirma. “Sou muito mais otimista do que pessimista.”
Ele afirma que as gestões, tanto da Soma quanto da Arezzo, amadureceram com experiências de compras no passado e estão bem posicionadas para unir as companhias.
Gestão de caixa
A nova companhia enfrenta alguma preocupação em relação à sua dívida, que representa cerca de 0,7 vez a geração de caixa medida pelo Ebitda dos negócios combinados. Embora não seja alta, essa proporção pode gerar algum desconforto, dado que outras tentativas de consolidar marcas de luxo resultaram em empresas enfrentando renegociações complexas de dívidas, como no caso da Veste (antiga Restoque; proprietária da Le Lis Blanc, John John e Bo.bô) e da Inbrands.
O novo grupo defende nos bastidores sua sólida geração e gestão de caixa em relação a esse ponto. Além disso, ao contrário de outros casos, as marcas estão em um bom momento, não demandando grandes investimentos ou reposicionamento. Portanto, acredita-se que os ganhos de sinergias superem a necessidade de aportes, permitindo a realização da teoria de “house of brands“. A House of Brands funciona como “um ecossistema” no qual várias marcas independentes fazem parte de uma mesma organização, contudo, sendo um dos principais modelos estratégicos na gestão de multimarcas.
Segundo Macruz, do BBA, há ainda potencial de crescimento nas vendas de calçados e bolsas das marcas Soma. Ele acredita que as comparações para os resultados de 2024 serão mais fáceis, considerando os números de 2023. Procuradas, a Arezzo&Co e o Soma afirmaram que “continuam dedicadas ao processo de estruturação e fechamento do acordo”
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