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Insatisfação. Esse é o sentimento da maioria dos brasileiros ao se deparar com a ausência de propostas no segundo turno das eleições e a falta de uma visão sobre o que o Brasil necessita realmente melhorar nos próximos quatro anos.
A urgência em fazer algo de objetivo, além de reclamar, motivou nosso grupo. Somos engenheiros formados pela Escola Politécnica da USP, na turma de 1978. O período escolhido foi de 1960 a 2020, o tempo médio de vida da maioria de nós. Organizar um estudo do nosso país se tornou uma tarefa. Em que áreas avançamos, estagnamos ou regredimos nos últimos 60 anos?
A resposta é que o PIB “per capita” do Brasil cresceu mais do que o dos Estados Unidos desde 1960 até os tempos atuais. A educação brasileira não é um desastre, ao contrário do que é pensado. O SUS (Sistema Único de Saúde) sofre com a diminuição de leitos desde os anos 90 e precisa evoluir para não ficar insustentável. O país segue líder mundial em desmatamento. Conta com desafios enormes no setor de saneamento. E patina na construção de rodovias.
Essas são as principais conclusões do estudo “Visão Brasil –1960/2020 — Passado, Presente e Futuro”. O levantamento contou com a participação do médico e cientista Drauzio Varella; do economista Alexandre Schwartsman; da ex-secretária da Administração no governo FHC, Claudia Costin; do engenheiro e ex-ministro de Minas e Energias, Silas Rondeau; da historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz; do advogado e ambientalista, Fabio Feldmann; da engenheira e acadêmica, Monica Porto; do engenheiro e doutor em modernização ferroviária, Telmo Porto; e do especialista em habitação de interesse social, Abelardo Campoy Diaz.
Sob a orientação de Schwartsman, foram escolhidas cinco áreas de interesse e 32 indicadores quantitativos para o período de 1960 a 2020. O levantamento apontou que apesar do significativo crescimento econômico no período estudado, o Brasil enfrenta grandes desafios: corrupção, má distribuição de renda, violência, desrespeito ao meio ambiente, falta de saneamento básico, falhas na saúde pública e, sobretudo, na educação. Tivemos um crescimento econômico sem o correspondente avanço social.
Vivemos um momento crucial da história de nosso país e seria fundamental que os candidatos do segundo turno das eleições prestassem atenção no momento socioeconômico que vivemos e para onde devemos projetar o nosso futuro. Ter uma visão verdadeira do que é o Brasil passa por deixar de lado temas apelativos e a criação de falsas polêmicas.
É necessário refletir o porquê de nos últimos 40 anos termos perdido a vocação para o crescimento econômico acelerado. Pensar em como compensar o tempo perdido dos jovens com o fechamento das escolas durante a pandemia. Em como frear a queda no número de leitos por habitante no SUS. Refletir sobre o crescente desmatamento das nossas matas. Sobre a falta de investimentos em saneamento, infraestrutura e transportes. E debater como atrair a iniciativa privada para participar ativamente neste esforço.
São apenas algumas ponderações. E a torcida para que os nossos futuros governantes e todos os brasileiros cada vez mais as façam ao longo dos próximos quatro anos.
Por Juliana Rehfeld, Rita Bose, Helio Narchi, Heinrich Karl Heinz, João Baptista Comparini, Luiz Nicanor Leite da Silveira e Marco Botter, engenheiros da Escola Politécnica da USP e integrantes da força-tarefa que produziu o estudo “Visão Brasil –1960/2020 — Passado, Presente e Futuro”
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