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A política externa de Bolsonaro iniciou-se com uma grande guinada e enorme expectativa. Porém, assim como seu governo, tornou-se inconsistente e volúvel, moldando-se de acordo com amizades e conveniências do chefe. Nas mãos de Lula, veremos uma nova mudança, reorientando a posição internacional do Brasil em vários temas, agindo de forma multilateral como forma de reencontrar seu protagonismo.
Se no início Bolsonaro indicou um caminho de aproximação com os Estados Unidos e alinhamento com uma agenda liberal e ocidental, o ainda presidente, assombrado pelo fantasma do impeachment e a pressão dos militares palacianos, decidiu reorientar seu discurso, ao mesmo tempo em que se aproximou de autocracias de caráter duvidoso. Ao abandonar os Estados Unidos diante da derrota de Trump e abraçar automaticamente a Rússia de Putin, emitiu um claro sinal: não havia crença nos valores liberais, mas simpatia por projetos de poder autoritários. Perdeu apoios internos e externos.
A guinada que enxergaremos com Lula já teve início. Ao renunciar a liderança brasileira no exterior, sem comparecer ao Egito na reunião da COP27, na Indonésia para o G20 ou mesmo ao Uruguai para o encontro do Mercosul, Bolsonaro abriu um flanco importante já ocupado por Lula, que transita internacionalmente como presidente de fato do Brasil. Isso adianta a implementação de uma nova agenda internacional para o país, deixando claro que estamos diante de um novo marco em nossa política externa.
Veremos a retomada de uma agenda que já foi implementada no passado, porém com algumas nuances que merecem atenção, a começar pelo Meio Ambiente. Está muito claro que o novo governo usará a retomada da liderança ambiental do Brasil no cenário externo como fio condutor de uma nova postura em outras frentes. Se no passado o combate à fome foi o cartão de visitas de Lula na arena externa, dessa vez, essa tarefa caberá ao Meio Ambiente e a agenda climática.
A postura multilateral assumirá estratégia decisiva e a retomada da postura colaborativa nos fóruns internacionais voltará a ser o caminho trilhado por nossa diplomacia. Um retorno que já está sendo celebrado em diversos organismos, uma vez que a liderança brasileira, seja pela territorialidade do país, sua biodiversidade e profissionalismo de nossa diplomacia pode desequilibrar e destravar pautas importantes que estavam à margem do Brasil diante da postura do presidente que agora se despede do poder.
Isso não significa renúncia de diálogos bilaterais. O envio de um emissário de alto nível para encontro com o presidente eleito denota que os Estados Unidos seguem buscando uma relação baseada em diálogo entre as duas nações, algo além da relação pessoal entre mandatários, afinal, presidentes passam, nações ficam e a cooperação segue sendo necessária como instrumento de colaboração mútua entre os dois povos.
Estamos diante de uma retomada externa. Uma agenda liderada pela pauta ambiental e o uso de instrumentos multilaterais, longe de uma diplomacia que parecia liberal e tornou-se assustadoramente autocrática, e perto do diálogo que define a tradição de nossa política externa.
Por Márcio Coimbra, Presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica e Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (FPMB).
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