Sinais de trégua

Alívio da inflação pode ser só de curto prazo; economistas apontam riscos no horizonte

Deflação recente trouxe fôlego ao IPCA, mas efeitos temporários e política fiscal podem limitar queda dos preços.

Inflação
Inflação
  • Inflação recua em agosto com deflação, mas efeito vem de choques temporários
  • Gastos públicos e tarifaço podem manter preços pressionados em 2026
  • Projeções de mercado apontam IPCA perto de 4,5% nos próximos dois anos

A inflação deu sinais de trégua em agosto, com deflação de 0,14% no IPCA-15 e 14 cortes seguidos nas projeções do Focus. O movimento trouxe alívio ao mercado e reforçou apostas em juros mais baixos à frente.

Mas especialistas alertam: parte desse recuo é sustentada por fatores temporários, como bônus de Itaipu, bandeira tarifária e queda da gasolina. A dúvida agora é se o movimento é consistente ou apenas passageiro.

Por que o alívio pode não durar

Relatórios de casas como XP, Warren e Buysidebrazil indicam que o impacto de curto prazo se deve a choques pontuais em energia e alimentos. No entanto, a pressão fiscal e o mercado de trabalho aquecido limitam o espaço para quedas mais fortes.

O economista Alex Agostini (Austin Rating) explica que, sem o efeito desses choques, a inflação de médio prazo ainda mostra resistência. Gastos públicos expansionistas funcionam como um “freio de mão” que reduz a força da política monetária.

Além disso, setembro já deve registrar reversão: a Warren projeta alta de 0,73%, mostrando que a deflação não reflete uma tendência consolidada. O impacto do chamado “tarifaço” também tende a ganhar força nos próximos meses.

O papel dos juros e o olhar para 2026

Desde junho, o juro real do Brasil está acima do neutro, em torno de 9,7% contra 5,5% a 6%, sinalizando que a política monetária começa a surtir efeito. Isso tem desacelerado a atividade, mas ainda não garante convergência rápida para a meta.

Economistas lembram que 2026, ano eleitoral, deve ser marcado por aumento dos gastos e programas de transferência de renda. Esse quadro pode reduzir o efeito do juro alto, mantendo a inflação mais resistente.

Projeções da XP, Warren e Buysidebrazil convergem para inflação entre 4,5% e 4,8% em 2025, e em torno de 4,2% a 4,5% em 2026. O Banco Central reforça que a Selic deve permanecer alta por um período prolongado antes de cortes graduais.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.