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De que maneira a pandemia e o cenário econômico do País impactaram o fôlego do brasileiro para pagar seus boletos em dia? Para encontrar essa resposta, a Celcoin, mapeou 240 milhões de transações realizadas via API, tecnologia disponibilizada para bancos e serviços digitais. O levantamento foi realizado em intervalos mensais e trimestrais ao longo de quatro anos, entre janeiro de 2019 e dezembro de 2022, e revelou que nunca atrasamos tanta conta quanto no último trimestre do ano passado.
A Celcoin processa pagamento de contas de cerca de 10% de toda a população economicamente ativa no Brasil e, de um total de 10 milhões de CPFs únicos utilizados como amostragem para o estudo, 12,4% pagaram a conta pelo menos um dia após o prazo de vencimento no último trimestre de 2022 – maior patamar desde o início do período avaliado. Até então, o recorde era do primeiro trimestre de 2021, quando 10,9% das pessoas atrasaram seus compromissos. No primeiro trimestre de 2019, período antes da pandemia, esse índice era de 6,5%.
Ao longo de 2021, com o avanço da vacinação e a flexibilização das restrições sanitárias impostas pela pandemia, foi possível observar queda na inadimplência. Esse comportamento se manteve até o 1º trimestre de 2022, quando a desaceleração da economia, decorrente das consequências da pandemia da alta de preços em diversos setores e do histórico aumento da taxa básica de juros, fez com que o atraso nas contas fosse retomado.
A taxa Selic apresentou incrementos constantes desde 2021, passando de 2% para os atuais 13,75% e, neste período, de acordo com levantamentos da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), o número de inadimplentes na série histórica, iniciada há oito anos, também chegou ao seu maior patamar. A exceção ocorreu nos meses de dezembro de 2021 e 2022, possivelmente em virtude do pagamento do 13° salário, um fôlego a mais para colocar as contas em dia.
Percentual médio de atraso é aproximadamente 9 vezes maior em contas não essenciais
O levantamento da Celcoin mostrou ainda que o brasileiro prefere manter o pagamento em dia de contas essenciais, como energia elétrica e gás, saneamento e telecomunicações, contas identificadas como do tipo “concessionária”. Esse é um cenário estável, observado ao longo dos anos, porém com aumento de cerca de 1,2 pontos percentuais nos últimos trimestres. No grupo de contas classificadas como “concessionária”, pôde-se observar que, ao longo de 2022, o percentual de pagamentos em atraso ficou abaixo de 3% em todos os trimestres do ano. Em uma análise geral, esses números demonstram queda comparada aos trimestres do ano anterior.
Entretanto, o atraso de pagamentos dos serviços não essenciais, como faturas de cartões de crédito, compras online, consórcios e prestações de serviços cobrados por meio de fichas de compensação (os boletos), foi 8,6 vezes maior, na média, em 2022. No último trimestre, os pagamentos fora do prazo atingiram 24,1% de todos os boletos emitidos para esses CPFs da amostra, um aumento de 75% na comparação com o mesmo período de 2021. Na média, o percentual de atraso nas contas não essenciais foi 3,18 vezes maior em 2019, 4,66 vezes maior em 2020, e 4,9 vezes maior em 2021.
Além disso, as contas de serviços não essenciais fecharam o último trimestre de 2022 com um valor médio de R$ 431, crescimento de 60% na comparação com o mesmo período do ano anterior, quando chegaram à média de R$ 272. O aumento ocorre em virtude da maior busca por crédito no período pós-pandemia, mesmo no cenário de taxa Selic nos maiores níveis desde 2017.
Valor médio pago nas contas de energia elétrica cresce em torno de 30% em quatro anos
As contas de energia elétrica e gás cresceram 30% no valor médio entre o primeiro trimestre de 2019 (R$141) e o último trimestre de 2022 (R$184). No mesmo período, as contas de saneamento e telecomunicações tiveram aumento médio de 32%. Historicamente, os segmentos de saneamento e telecomunicações não apresentam variações significativas de valor. Com a crise hídrica, iniciada no 1° semestre de 2021, houve mudança para a bandeira vermelha, nível mais alto de cobrança extra de energia, aumentando assim o ticket médio no segmento. No segundo trimestre de 2022, passou a vigorar a bandeira verde, ocasionando a redução no ticket médio – observada no segundo semestre de 2022.
População sub-bancarizada foi a que mais teve dificuldades para pagar as contas em dia
O pagamento de contas em atraso foi maior nos canais físicos, como estabelecimentos comerciais , geralmente localizados em regiões com estrutura reduzida de bancos e lotéricas e com a população, em sua maioria, sub-bancarizada. O comportamento acompanhado pelas APIs da Celcoin, que monitoram transações físicas e em canais online, indica que esse perfil de consumidor atrasou suas contas 3,1 vezes mais, no último trimestre do ano, do que a população bancarizada. Ao longo de três anos, o atraso de contas subiu 9,3 pontos percentuais nos canais físicos e 1 ponto percentual no meio online, o que mostra a diferença de impacto na renda entre as populações que pagam suas contas nos dois canais.
Atraso de contas nos canais físicos sobe em todo o Brasil
Nos recortes regionais, Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste apresentaram crescimento no percentual de contas pagas com atraso nas operações realizadas em meios físicos. Por representar apenas 2,3% das transações neste canal, a Região Sul não foi incluída no comparativo. Na amostra, foram consideradas 81 milhões de transações entre janeiro de 2019 e dezembro de 2022.
Durante todo o período observado, o Nordeste é o primeiro em porcentagem de atraso – A Região, que possui a maior representatividade de transações na Celcoin em seus canais físicos, chegou a 25% de contas pagas fora do prazo — na média entre seus estados. Ceará e Piauí atingiram os maiores percentuais de contas pagas em atraso com, respectivamente, 38% e 32% – em ambos os estados, o crescimento de atrasos esteve acima de 100% entre o 4º trimestre de 2021 e o 44º trimestre de 2022. Sergipe, Bahia e Pernambuco apresentaram um crescimento de, em média, 20% entre o último trimestre de 2022 e o mesmo período do ano anterior. Alagoas e Maranhão foram na direção inversa da região, com queda entre os últimos trimestres de 2021 e 2022, atingindo variações de -46% e -6%, respectivamente.
Ao longo dos quatro anos, o Centro-Oeste avançou mais que o dobro no percentual de contas pagas em atraso, saindo de 9,8% no 1º trimestre de 2019 para 19,8% no 4º trimestre de 2022.
Esse aumento dobrado ocorreu também no Sudeste, que obteve o maior crescimento interanual no percentual de contas pagas em atraso, avançando de 9,1% no 4º trimestre de 2021 para mais que o dobro no 4º trimestre de 2022 (18,5%). Na região, o estado do Espírito Santo atingiu o maior crescimento percentual no atraso de pagamento de contas, saindo de 6,9% no 1° trimestre de 2019 e chegando a 17,5% no último trimestre de 2022. Ainda assim, fechou o último ano com percentual abaixo dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Esse crescimento é visto pela Fecomércio-ES como uma consequência do aquecimento do consumo diante da melhora no mercado de trabalho, disponibilização dos auxílios de renda e desaceleração da inflação, o que contribui para a contratação de novas dívidas. Por outro lado, observa-se que os juros ainda estão altos, encarecendo dívidas já contratadas e dificultando ainda mais os pagamentos no prazo estabelecido. Já o estado de Minas Gerais aparece com os menores percentuais de contas pagas em atraso, bem como o menor crescimento interanual.
O Norte apresentou menor variação interanual e está entre os menores percentuais de atraso desde o início de 2021.
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